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Movimento Negro Unificado: 45 anos não são 45 dias

O MNU não se furtou e não se furta a nenhuma das lutas necessárias à busca de um Brasil e um mundo menos desigual e mais justo
Imagem mostra protesto do Movimento Negro Unificado na época de sua fundação.

Foto: Reprodução

20 de junho de 2023

Por: Regina Lúcia dos Santos

No dia 18 de junho o Movimento Negro Unificado (MNU) completou 45 anos de uma história de luta contra o racismo, de pioneirismo no enfrentamento a discriminação racial e todas as formas de opressão.

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Ao longo dessas mais de quatro décadas, o MNU foi pioneiro na discussão do feminismo negro. Lélia Gonzalez, Neuza Maria Pereira, Vera Mara Teixeira e depois Luiza de Bairros, Angela Gomes e tantas outras colocaram em discussão as especificidades da vida das mulheres negras elaborando sobre a tríplice exploração que sofriam como trabalhadora, mulher e negra. Num tempo que a voz do feminismo era completamente branca.

Ainda no começo da caminhada as lideranças paulistas do Movimento Negro Unificado se juntaram aos componentes do Jornal Lampião e ao Grupo Somos para numa passeata enfrentar o caráter homofóbico e racista das incursões policiais sob o comando do delegado Wilson Richetti na boca do lixo, zona boemia de São Paulo à época.

O MNU também deu origem a várias outras organizações negras nos anos 1980, levou a discussão racial para os partidos de esquerda, lutou pela criação nos diferentes governos estaduais e municipais pela criação das secretarias de combate ao racismo e promoção deaigualdade racial. Levou aos sindicatos pelo Brasil afora, como petroleiros na Bahia e no Rio de Janeiro, metroviários em São Paulo e no Rio de Janeiro, professores em várias regiões do Brasil e outras, a discussão racial.

O MNU, ainda em 1978, soltou um manifesto, no dia 4 de novembro, propondo que o 20 de novembro, que até então era comemorado desde 1971 no Rio Grande do Sul, pelo grupo Palmares, por sugestão do poeta Oliveira Silveira como um dia em memória de Zumbi, se transformasse no Dia Nacional da Consciência Negra. O que só vai virar lei em 2003 com a Lei 10639/03, que também colocou na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) a obrigatoriedade do ensino da História da África e dos afro brasileiros, que também era uma luta do Movimento Negro Unificado desde sua fundação.

No Movimento Negro Unificado nasceu a discussão da necessidade da conjugação das lutas raciais, as lutas da classe trabalhadora, surgiu também a discussão da necessidade de estudo sobre os territórios negros. E também nos idos dos anos 1990 num congresso em Salvador, na Bahia, surgiram discussões sobre o racismo como estruturante do capitalismo.

Foi no MNU também que apareceu, com a enfermeira Margarida Barbosa em Campinas (SP), as primeiras discussões sobre anemia falciforme e as particularidades da saúde da população negra, afetada pelo racismo e as condições de vida delegadas a esta população.

Mas na sua história o MNU não se restringiu só as lutas do negro brasileiro e capitaneou no Brasil as lutas contra o apartheid na África do Sul, a solidariedade ao povo Palestino e pela libertação de Mumia Abu Jamal, ex-liderança dos Panteras Negras e preso político nos EUA.

Esteve na luta pelo ressurgimento do movimento sindical e estudantil brasileiro no pós-ditadura. Lutou e luta contra o encarceramento em massa, contra a tortura e não se furtou e não se furta a nenhuma das lutas necessárias à busca de um Brasil e um mundo menos desigual e mais justo.

*Regina Lúcia dos Santos é coordenadora estadual do Movimento Negro Unificado, em São Paulo.

Leia também: Afro Memória: 40 anos da candidatura de Milton Barbosa, a primeira do MNU

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