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Pautas raciais não têm prazo de validade

É fácil se engajar quando a pauta está em alta, mas o verdadeiro impacto só acontece com um compromisso permanente, com continuidade e intencionalidade
Imagem mostra três pessoas negras, com foco para o rosto de uma delas.

Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

21 de dezembro de 2024

Todo ano é a mesma coisa: novembro chega com campanhas, debates e ações que fazem a sociedade acreditar que há um avanço na luta antirracista. Mas quando o mês termina, fica a sensação de que tudo foi deixado para trás, como se essa discussão tirasse férias até o novembro seguinte. Isso precisa mudar. Consciência racial não é um tema de época, porque atitudes e a própria estrutura racista não têm data para existir.

É importante reconhecer que algumas conquistas merecem celebração. Ver três atrizes negras protagonizando novelas na Globo ou campanhas como a da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que exaltam a ancestralidade africana de Vinicius Jr., são passos significativos.

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Mas é essencial perguntar: essas ações têm gerado mudanças reais no cotidiano da população negra? Ou será que muitas vezes há uma preocupação maior em parecer consciente do que em ser verdadeiramente comprometido?

Ao mesmo tempo, episódios como os áudios racistas de Ana Paula Minerato lembram que ainda perpetua uma sociedade profundamente marcada pelo racismo. Esses casos evidenciam a urgência da educação e do diálogo constante para combater estruturas opressoras que seguem enraizadas.

Nada muda da noite para o dia. Mas isso não pode ser justificativa para comodismo ou ações superficiais. É fácil se engajar quando a pauta está em alta, mas o verdadeiro impacto só acontece com um compromisso permanente, com continuidade e intencionalidade.

As empresas têm um papel essencial nesse processo. A verdadeira inclusão não se resume a uma campanha bonita ou à escolha de uma pessoa negra para uma peça publicitária. A inclusão real é sobre criar espaços onde profissionais negros possam ser contratados, valorizados, promovidos e colocados em posições de liderança.

Esse compromisso deve ser genuíno e parte de um esforço contínuo, e não algo pontual. É assim que se constroem ambientes diversos, acessíveis e transformadores.

Para que isso seja possível, é preciso superar a visão de que a luta contra o racismo é um problema exclusivo das pessoas negras. É um dever coletivo. As pessoas não negras têm um papel indispensável, que vai além da empatia. É preciso agir, educar e confrontar o racismo onde ele estiver, com coragem para encarar desconfortos e desconstruir estruturas impostas há séculos.

Por outro lado, também é preciso refletir sobre o desinteresse que o mercado tem demonstrado em relação à pauta racial. Durante a pandemia, houve um boom no interesse por essas discussões, em grande parte motivado pelos acontecimentos globais, como o assassinato de George Floyd.

No entanto, nos últimos anos, esse entusiasmo se esvaziou. A pauta pareceu ter se tornado mais um negócio, não uma causa. Essa abordagem limitada ignora que a luta antirracista é, antes de tudo, a coisa certa a fazer.

A cultura negra é uma das maiores riquezas do Brasil. Ela está presente na música, na culinária, na maneira de ser do brasileiro. Não faz sentido celebrá-la em novembro e ignorar a realidade durante o restante do ano.

O compromisso antirracista precisa estar interiorizado no cotidiano – seja na forma como as crianças são educadas, no que é consumido, nas conversas ou nas decisões corporativas.

Como ensinam os ancestrais, a mudança verdadeira nasce do cuidado contínuo, do olhar atento e do respeito profundo pelas raízes. É assim que se constrói um futuro mais justo e equitativo – um futuro onde a equidade racial não é apenas um objetivo, mas um valor central em todas as ações.

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  • Robson Rodriguez

    Diretor-executivo da Influência Negra, graduado em Publicidade e Propaganda e pós graduando em Direitos Humanos e Responsabilidade Social pela PUCRS.

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