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Polícia tratou de forma desigual assassinato de Henry e sumiço de crianças em Belford Roxo

Os dois casos são graves e a comparação é inevitável ao observarmos o total empenho da polícia e da imprensa em torno da apuração da morte da criança branca e rica, enquanto o sumiço dos três meninos negros e pobres foi tratado com descaso

Texto: Henrique Oliveira | Imagem: Reprodução

Polícia tratou de forma desigual assassinato de Henry e sumiço de crianças em Belford Roxo

13 de abril de 2021

Após 100 dias do desaparecimento de Fernando Henrique (11), Alexandre da Silva (10) e Lucas Matheus (8), em Belford Roxo, a Polícia Civil do Rio de Janeiro anunciou a criação de uma força-tarefa para investigação do caso. Os três meninos desapareceram no dia 27 de dezembro após saírem para brincar em um campo de futebol no bairro Castelar, na região da Baixada Fluminense.

No mesmo dia, por volta das 21 horas, as famílias das crianças foram à delegacia, onde foram orientadas a voltar no outro dia caso as crianças não aparecessem. A ocorrência só foi registrada no dia 28 pela manhã, quando a investigação foi encaminhada para a Delegacia de Homicídios.

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A lentidão na investigação foi alvo de críticas dos familiares, que não receberam nenhum tipo de informação ou resultados preliminares da busca pelas crianças. A pouca importância da Polícia Civil ao desaparecimento das crianças ficou explícita quando o Ministério Público localizou imagens de uma câmera de segurança que mostrou os três meninos caminhando por uma rua em um bairro vizinho ao do desaparecimento. A gravação foi solicitada pelo Ministério Público à Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense após a Polícia Civil informar que as crianças não tinham sido localizadas por nenhuma câmera.

Além do descaso e da demora nas investigações, as famílias das três crianças foram vítimas de trotes, segundo o SOS Crianças Desaparecidas, e tentativas de extorsão com base em notícias falsas sobre o local onde as crianças estavam. De acordo com o Anuário Brasileiro da Segurança Pública, 82 mil pessoas desapareceram no Brasil, em 2020, no Rio de Janeiro foram 3.350 pessoas, 1.465 na capital e 866 na Baixada Fluminense.

A falta de uma resposta efetiva ao sumiço das crianças em Belford Roxo também é resultado do baixo investimento na área de inteligência policial. O Anuário de 2019 também revela que os governos investiram 750 milhões na área investigativa e 31 bilhões em policiamento ostensivo.

Conforme a defensora pública Gislaine Kepe afirmou em entrevista à Carta Capital, a polícia errou ao orientar as famílias a voltar na delegacia 24 horas após o desaparecimento, sendo que o protocolo sobre crianças desaparecidas determina que a busca seja imediata. A defensora ainda relatou que nesses casos as fotos das crianças precisam ser encaminhadas à Polícia Rodoviária Federal.

A Lei 13.812, de 2019, instituiu a Política Nacional de Busca de Pessoas Desaparecidas, com a criação de um Cadastro Nacional para a cooperação técnica entre os estados, porém até agora a plataforma se encontra desativada. A nova lei estabeleceu que tanto a busca pela pessoa desaparecida como a atenção psicossocial às famílias são prioridades de caráter emergencial do Estado, contudo não é o que vimos quando envolve o sumiço de três crianças negras e pobres.

Diferentemente da longa espera pela investigação do sumiço dos meninos em Belford Roxo, a Polícia Civil foi muito mais célere em montar uma força-tarefa para elucidar o assassinato de Henry Borel Medeiros (4), assassinado na madrugada de 8 de março. Enquanto a criação da ação para investigar o desaparecimento na Baixada Fluminense só ocorreu 100 dias após o registro, para investigar a morte de Henry a Polícia Civil anunciou uma força-tarefa 26 dias depois da execução, reunindo diferentes departamentos da polícia.

O assassinato de Henry tem como principais suspeitos a mãe Monique Medeiros e o vereador carioca Dr. Jairinho (PSC –RJ). Os próprios delegados da Polícia Civil dizem que a força-tarefa facilitou as investigações, ao integrar os departamentos da polícia, bem como o Ministério Público e a Justiça, permitindo rapidez na análise de provas, reprodução simulada do fato e perícia nos celulares dos investigados.

Mesmo existindo circunstâncias diferentes entre os dois casos, ambos são graves e a comparação se torna inevitável ao observarmos o total empenho da polícia e da imprensa em torno da apuração do assassinato da criança branca e rica, enquanto o sumiço dos três meninos negros e pobres é tratado com desdém. Por parte da polícia há um maior foco no caso Henry visto que é vantajoso e rende manchetes investigar e prender o assassino de uma criança branca, sobretudo quando o principal suspeito é um vereador há uma maior valorização e espetacularização do trabalho policial, que resulta em prestígio tanto para a instituição como para os indivíduos envolvidos no caso.

Ao mesmo tempo que a lentidão em solucionar o desaparecimento de três crianças em Belford Roxo reflete o descaso das instituições e em grande medida da sociedade, com a vida das pessoas negras, ainda mais no Rio de Janeiro, um estado onde constantemente crianças negras são vítimas de ações letais da polícia cuja investigações andam a passos de tartarugas e só prosperam com muita pressão popular. Angela Davis já nos ensinou: “Se todas as vidas importassem, nós não precisaríamos proclamar enfaticamente que a vida dos negros importa.”.

Leia também: Dez pessoas sofrem desaparecimento forçado por mês na Baixada Fluminense e situação não é considerada crime

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