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Racismo de Zambelli contra Benedita da Silva mostra que chagas da escravidão persistem no Brasil

A referência racista feita pela deputada branca reforça estereótipos nocivos e desumaniza a parlamentar negra, reduzindo-a a uma caricatura histórica
A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP)

Foto: Evaristo Sa/AFP

7 de julho de 2024

Um incidente na Câmara dos Deputados chamou atenção nesta semana para as profundas cicatrizes deixadas pela escravidão no Brasil e a persistência do racismo em nossa sociedade. A deputada federal branca Carla Zambelli (PL-SP) referiu-se a colega parlamentar negra, Benedita da Silva (PT-RJ), como “Chica da Silva”, utilizando o nome de uma figura histórica de forma pejorativa e racista. Este episódio revela não apenas a ignorância e a insensibilidade de alguns como também a maneira na qual o legado da escravidão continua a afetar a vida das pessoas pretas no Brasil.

Chica da Silva foi uma escravizada que alcançou certa posição social no século XVIII, mas sua história é frequentemente usada de maneira estigmatizante, sugerindo que pessoas pretas só podem ascender por meios questionáveis. A referência racista de Zambelli reforça estereótipos nocivos e desumaniza a deputada negra, reduzindo-a a uma caricatura histórica em vez de reconhecê-la como uma profissional e política qualificada.

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O Brasil foi o último país das Américas a abolir a escravidão, em 1888, e as cicatrizes deste passado ainda são visíveis. A abolição não trouxe reparação, inclusão ou oportunidades para os libertos e seus descendentes. Pelo contrário, perpetuou a exclusão e a marginalização social, econômica e política das pessoas pretas. Hoje, elas continuam a enfrentar disparidades significativas em diversas áreas, como educação, saúde e mercado de trabalho. Este contexto de desigualdade estrutural é o terreno fértil no qual episódios de racismo, como o ocorrido na Câmara, prosperam.

A luta contra o racismo é urgente e necessária. Não podemos ignorar ou minimizar atos racistas como este, que não são meramente incidentes isolados, mas sintomas de um problema sistêmico. É essencial que todos – especialmente aqueles em posições de poder – reconheçam o impacto de suas palavras e ações e se comprometam a combater o racismo em todas as suas formas.

Ao referir-se a uma colega como “Chica da Silva”, Zambelli não apenas desrespeitou a individualidade e a dignidade de sua colega como também reforçou as mesmas estruturas de opressão que mantêm as pessoas pretas em desvantagem. Este tipo de comportamento deve ser firmemente repudiado e combatido. Precisamos de políticas públicas eficazes, educação antirracista e uma mudança cultural profunda para desmantelar o racismo estrutural.

Como sociedade, temos a responsabilidade de curar as chagas da escravidão e promover a justiça racial. Isso significa reconhecer e valorizar as contribuições das pessoas pretas em todas as esferas da vida, garantir igualdade de oportunidades e tratar todos com respeito e dignidade. O racismo não pode mais ser tolerado ou banalizado. A luta pela igualdade racial é uma luta pela humanidade, pela democracia e pela construção de um futuro mais justo para todos.

  • Felipe Ruffino

    Felipe Ruffino é jornalista, pós-graduado em Assessoria de Imprensa e Gestão da Comunicação, possui a agência Ruffino Assessoria e ativista racial, onde aborda pautas relacionada à comunidade negra em suas redes sociais @ruffinoficial.

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