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‘Resistência, sabedoria e união’: coletivo negro é formado dentro de agência para combater racismo no mercado de comunicação

O coletivo negro Baobalter, da Alter Conteúdo Relevante, reúne profissionais negros em busca de tornar o mercado de comunicação corporativa mais diverso e letrado racialmente
Close do olho de um homem negro.

Foto: Reprodução/Freepik

5 de janeiro de 2025

Símbolo de resistência, o baobá (Adansonia digitata) é uma árvore encontrada em diversas regiões do continente africano e em parte da Austrália que pode alcançar até 40 metros de altura e contar com troncos capazes de chegar a sete metros de circunferência.

Conhecida também como a “árvore da vida”,  possui uma relação intrínseca com diversos povos africanos e chegou ao Brasil durante o período escravocrata. Aqui, ele está presente mais comumente nas regiões Nordeste, Centro-Oeste e parte do Sudeste, sendo chamado também de imbondeiro, embondeiro ou calabaceira.

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Suas sementes, a múcua, lembram a forma de um rim, são ricas em vitamina C, cálcio e minerais essenciais, e são consumidas em diversas regiões africanas e no Brasil, como parte da dieta alimentar local.

Assim como o baobá resiste aos climas mais adversos, enraizando-se profundamente no solo seco e sobrevivendo por séculos, a múcua carrega a energia vital de quem persiste, se adapta e floresce mesmo em condições desafiadoras. 

É daí que advém esse simbolismo da resistência e resiliência que há milênios se transmuta em uma conexão fundamental de compreensão sobre a relevância da sustentabilidade e da preservação ambiental. O baobá está diretamente ligado à formação e essência de diversos grupos ancestrais da África e seus descendentes nas Américas, que carregam consigo as profundas culturas afrodiaspóricas.

E foi justamente pensando nesta simbologia do baobá — árvore ancestral que representa resistência, sabedoria e união – que se formou a base para a criação do Baobalter, o coletivo negro da Alter Conteúdo Relevante, lançado oficialmente em novembro de 2024.

Idealizado pelo designer Rodrigo Cipriano, o Baobalter frutificou e reuniu profissionais negros (pessoas pretas e pardas), de diferentes áreas da agência – design, relações públicas, publicidade, imprensa e administrativo finaneiro – passando por posições estratégicas e de liderança.

O coletivo tem como eixo central o impulsionamento da mudança dentro do mercado de Comunicação, a partir de  três pilares fundamentais: empoderamento, letramento racial e acolhimento, com o objetivo de  engajar toda a agência no combate ao racismo estrutural, promovendo mudanças concretas e de aceleração de carreiras.

Profissionais negros são minoria no mercado de comunicação

O nascimento do Baobalter carrega consigo um “sinal” relevante da necessidade de mudanças urgentes no segmento da Comunicação Corporativa num país composto por 55,5% população negra.

Segundo dados do Anuário da Comunicação Corporativa 2024, no quesito cor/raça, 50% dos colaboradores do meio são formados por mulheres brancas, seguido de 21,3%, por homens brancos.

A população negra neste contingente possui uma participação muito inferior, com as mulheres pardas alcançando 9,9%, homens pardos, 6,5%; mulheres pretas, 5,2%, e homens pretos, 4,4%. Mulheres e homens amarelos e indígenas somados chegam a aproximadamente 2,6%.

O levantamento está contido entre os dados da pesquisa Mega Brasil de 2024 e do Instituto CORDA, totalizando 2.146 agências que responderam aos dados de cor/raça.

Parte deste resultado talvez possa ser explicado pela baixa aplicação de políticas e práticas de ações afirmativas que busquem promover medidas de igualdade e equidade nas agências de comunicação corporativa.

A edição deste anuário apontou que nenhuma das cinco áreas temáticas pesquisadas “alcançou o índice de 40% de agências com práticas declaradas em áreas como raça/etnia, direito das mulheres, inclusão da comunidade LGBTQIAP+, inclusão de profissionais com 50+ e de PCDs (pessoas com deficiência).”

No tópico “cor/raça”, quando questionadas no item “Agência implementa ações afirmativas na área étnico-racial?”, das 211 agências entrevistadas, 67% disseram que “não”, e somente 33% que “sim”.

O Baobalter surge como uma resposta a essa realidade, e se posiciona como um coletivo de pessoas negras, profundamente conectadas às estratégias de comunicação da agência, mas também empenhados em criar um ambiente mais inclusivo e acolhedor. Seu compromisso começa com o letramento racial, empoderamento e o desenvolvimento pessoal, estimulando a aceleração de carreiras negras e o autoconhecimento.

Assim como as sementes de múcua que formam o baobá, o Baobalter busca de forma agrupada gerar práticas de inclusão mais eficazes para a população negra, proporcionando um futuro mais justo e representativo no mercado de Comunicação Corporativa.

Com essa missão, o Baobalter caminha para transformar não só a Alter Conteúdo Relevante, mas também inspirar o mercado a refletir sobre a urgência de um setor mais diverso, inclusivo e igualitário para todos.

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  • Jornalista pós-graduado em História e Cultura Afro-Brasileira e em História da África, possui mais de 20 anos de experiência na Imprensa e em Comunicação Corporativa, e é gerente de núcleo na ALTER - Conteúdo Relevante.

  • Especialista em audiovisual, designer na ALTER - Conteúdo Relevante e idealizador do coletivo Baobalter.

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