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Se não proteger povo Pataxó, governador da Bahia será cúmplice de genocídio indígena

A ativista Regina Lucia dos Santos, do MNU, recorda marcha histórica e encontro que teve com o cacique Nailton Pataxó, que foi baleado e perdeu a irmã, a Pajé Nega Pataxó, assassinada por pistoleiros na Bahia
Imagem mostra homem indígena de costas caminhando em Aldeia Pataxó.

Foto: Reprodução

23 de janeiro de 2024

Por: Regina Lucia dos Santos*

No ano de 2000, o Movimento Negro Unificado (MNU) participou ativamente da construção do Movimento de Resistência Indígena, Negra e Popular – Brasil Outros 500, que culminou em uma marcha histórica em 22 de abril daquele ano na praia da Coroa Vermelha, em Ilhéus (BA).

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Pelo MNU, participaram eu e Milton Barbosa, de São Paulo; Sueli Souza Santos, Luiz Alberto, Ivonei Pires, Eliane Rainha e Edmilton Cerqueira, da Bahia. A manifestação pacífica foi brutalmente reprimida pela Polícia Militar num acerto entre o governo local, do então governador César Borges, e o governo federal, com o presidente Fernando Henrique Cardoso.

No início do dia 22, às 6 da manhã, os manifestantes do Movimento Negro, do Movimento Sem Terra e de outros segmentos sociais saíram em passeata ao encontro do Movimento Indígena para caminhar juntos. Ao entrar na estrada que levava a praia da Coroa Vermelha, fomos recebidos com bombas de gás lacrimogêneo, de efeito moral, cassetetes e muita brutalidade, que obrigou a dispersão da caminhada.

Parte dos manifestantes ficaram isolados pela polícia, cerca de 140 foram presos e mais tarde liberados, parte se embrenhou na mata e, a grande maioria, inclusive eu, Milton Barbosa e Sueli Souza Santos, adentramos um centro de convivência e arte indígena, onde inicialmente fomos rechaçados pela liderança local, que era cooptada pelo governo federal, que queria nos expulsar do local praticamente nos entregando para polícia.

Naquele momento chegou o Cacique Nailton Pataxó, então presidente do Conselho Índígena e liderança à frente do Brasil Outros 500, que disse: “eles permanecerão aqui porque são nossos irmãos na luta”. E permanecemos no local até que as tratativas permitiram a continuidade da caminhada, que depois foi interrompida outra vez e impedida de chegar onde estavam FHC e sua comitiva.

A história não mudou, mas tem que mudar. Cacique Nailton Pataxó, que em 21 de janeiro de 2024 foi baleado e perdeu a irmã, a Pajé Nega Pataxó, assassinada em um ataque brutal e que feriu outros indígenas. A ação foi comandado por pistoleiros, com a anuência e cumplicidade da PM da Bahia.

O governador do estado, Jerônimo Rodrigues (PT), tem que tomar urgentes providências sobre o ocorrido. A meu ver é necessária a troca imediata do comando da PM para que se restabeleça o respeito aos direitos indígenas à terra e a todos os direitos humanos no estado, sob pena de ser apontado como cúmplice se não o fizer.

* Regina Lucia dos Santos é geógrafa, ativista e coordenadora de formação do Movimento Negro Unificado (MNU), em SP.

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