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Tratamento dado a MC Poze em condução à prisão expõe premissa racista da polícia

Não se trata aqui de discutir o mérito da acusação, mas sim da forma. A maneira como a polícia aborda um cidadão diz muito sobre quem ela considera inimigo
MC Poze.

MC Poze.

— Reprodução/Redes sociais

30 de maio de 2025

A prisão do MC Poze do Rodo, nesta semana, reacende um debate incômodo, mas necessário: por que o Brasil ainda trata corpos negros como ameaça? A forma como a operação foi conduzida — com agentes fortemente armados, câmeras posicionadas e uma abordagem ostensiva — não parece ser coincidência. Parece um padrão.

Não se trata aqui de discutir o mérito da acusação, mas sim da forma. A maneira como a polícia aborda um cidadão diz muito sobre quem ela considera inimigo. Poze não foi tratado como um artista de projeção nacional. Foi tratado como mais um jovem negro, favelado e criminalizado antes mesmo de qualquer julgamento.

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A seletividade é gritante. Casos envolvendo figuras públicas brancas, mesmo diante de denúncias graves, muitas vezes ocorrem em sigilo, sem alarde, sem sirenes. Com Poze, a narrativa foi montada: câmeras ligadas, imagem algemada, julgamento público antes do jurídico.

É impossível não enxergar o racismo estrutural em ação. A lógica que rege muitas abordagens policiais no Brasil ainda é atravessada por uma premissa: se é preto e periférico, é suspeito. E, se é suspeito, vale qualquer método. O problema é que esse “qualquer método” custa vidas, dignidades e reputações — e alimenta um ciclo de violência institucionalizada.

Poze representa uma juventude que incomoda. Jovens negros que vencem, que saem da favela e lotam palcos, que acumulam milhões de seguidores, que movimentam dinheiro e cultura. E, muitas vezes, o sistema parece não saber lidar com isso. A ascensão de um corpo preto ainda causa desconforto em estruturas que esperavam vê-lo encarcerado — ou invisível.

A abordagem feita contra Poze do Rodo não é apenas sobre ele. É sobre um país que ainda decide quem merece respeito a partir da cor da pele. Enquanto não rompemos com esse ciclo, seguimos normalizando injustiças e perpetuando desigualdades que já deveriam ter sido superadas.

O caso de Poze nos obriga a refletir: até quando o sucesso de um preto será tratado como ameaça? Até quando vamos aceitar que a Justiça tenha cor, território e CEP? Não há democracia real enquanto houver dois pesos e duas medidas no tratamento da população.

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  • Felipe Ruffino

    Felipe Ruffino é jornalista, pós-graduado em Assessoria de Imprensa e Gestão da Comunicação, possui a agência Ruffino Assessoria e ativista racial, onde aborda pautas relacionada à comunidade negra em suas redes sociais @ruffinoficial.

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