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Ocupação Chiquinha Gonzaga resgata negritude da primeira brasileira a reger uma orquestra

Mostra está disponível no Itaú Cultural, na cidade de São Paulo, de 24 de fevereiro a 23 de maio, com visitas agendadas previamente

Texto: Redação | Imagem: Acervo/ Instituto Moreira Salles

Chiquinha Gonzaga

24 de fevereiro de 2021

O Itaú Cultural, localizado na cidade de São Paulo, abriu nesta quarta-feira (24) a Ocupação Chiquinha Gonzaga, que ficará em cartaz até o dia 23 de maio. A exposição resgata a afrodescendência da compositora e pianista Francisca Edwiges Neves Gonzaga (1847-1935), quase eliminada pelas práticas do racismo estrutural, e mergulha pela obra da primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil. A mostra foi desenvolvida durante a pandemia da Covid-19 e segue todos os protocolos e recomendações das autoridades sanitárias. As visitas devem ser agendadas online.

A curadoria das obras foi feita pelos Núcleos de Comunicação e Música da instituição, co-curadoria da cantora Juçara Marçal e consultoria de Edinha Diniz, biógrafa da compositora. ‍Uma das peças originais mais simbólicas em exibição é o broche de ouro com pauta musical das primeiras notas da valsa Walkyria, composta por Chiquinha Gonzaga em 1884, para a opereta “A corte na roça”. O objeto, pertencente ao acervo do Museu da República, foi oferecido a Chiquinha em 1885 por críticos teatrais, em decorrência do sucesso da opereta, e virou adereço habitual da maestrina desde então. ‍ Na exposição, o broche está disposto à frente de um piano vertical tradicional, locado para representar um outro piano, que é histórico: um Ronisch, feito na Alemanha, que ela trouxe da Europa em 1909 e com o qual trabalhou até a sua morte. Atualmente, o instrumento original está instalado no foyer do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

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Chiquinha Gonzaga era uma mulher negra, filha de pai branco e mãe “parda liberta” – termo utilizado no Assentamento de Batismo da mãe, um dos documentos que estarão na Ocupação. A artista nasceu no Império e viu a implantação da República. Abolicionista, lutou ativamente pela libertação dos escravizados, enfrentou o conservadorismo da época e tornou-se compositora e maestrina, em um mundo em que a carreira artística feminina era vista com maus olhos. Casou-se oficialmente uma única vez, mas viveu três diferentes relacionamentos amorosos em um tempo em que não existia o divórcio.

O espaço expositivo

No piso térreo do Itaú Cultural cerca de 120 itens conduzem o visitante pela vida e produção de Chiquinha Gonzaga, entre suas partituras, como a de “Ó Abre Alas”, a primeira marcha de Carnaval do país, composta em 1899 por ela para o Cordão Rosa de Ouro. Outra referência é “A Corte na Roça”, espetáculo pelo qual se tornou a primeira mulher a escrever partitura para teatro no Brasil.

Um mecanismo ativável por pedais que disparam o som de diferentes instrumentos toca trechos da marcha. Outra ferramenta ativa as teclas de um piano de chão, por meio do qual se ouvem diferentes composições de sua autoria. Cada tecla pisada aciona um audiovisual com a execução e arranjos feitos por musicistas contemporâneos sobre diversos gêneros compostos por Chiquinha: Di Ganzá toca uma valsa de opereta, Amaro Freitas, uma polca; Mestrinho vai de maxixe, Maíra Freitas segue com uma cançoneta cômica, e Ana Karina Sebastião com uma dança africana. ‍

Por toda a exposição encontram-se documentos da época, objetos, partituras, capas e fotos. Cinco audiovisuais produzidos pelo Itaú Cultural com textos biográficos feitos pela escritora e dramaturga Maria Shu, escritos especialmente para a mostra, apresentam Chiquinha contando trechos de sua vida, na pele de Dona Jacira, multiartista e mãe de Emicida; Jup do Bairro, cantora, compositora e apresentadora; Beth Beli, percussionista e fundadora do bloco carnavalesco Ilú Obá De Min, a atriz Indira Nascimento e a cantora Fabiana Cozza. Todas são negras como Chiquinha Gonzaga, cuja história se desdobra em suas vidas.

Diferentes sons embalam a exposição desde a entrada. Uma paisagem sonora idealizada pela instituição para esta exposição envolve o visitante com sons das ruas do Rio de Janeiro do século XIX, na época capital do Brasil. O recurso traz elementos que ajudaram Chiquinha em suas composições e ritmos.

A vida e a carreira de Chiquinha perpassaram momentos fundamentais da história brasileira, como a proibição do tráfico internacional de escravizados, em meados do século XIX, a Lei do Ventre Livre, em 1871, a Lei dos Sexagenários, 1885, a assinatura da Lei Áurea, em 1888, e a Proclamação da República, no ano seguinte. Para levar o público à atmosfera do período, a Ocupação conta com cinco gravuras da coleção Brasiliana Itaú, com panoramas do Rio de Janeiro e imagens como a da Praça do Comércio.

O compositor Carlos Gomes, seu contemporâneo, foi uma de suas grandes referências – presente na mostra em moedas e medalhas comemorativas, pertencentes ao acervo do Banco Itaú, da mesma forma que a grande amizade que nutria pelo também compositor e flautista Joaquim Callado. Assim, toda a exposição é circundada por uma linha do tempo que faz um paralelo do Brasil que nascia como República com alguns acontecimentos da vida da maestrina.

Serviço:

O quê? Ocupação Chiquinha Gonzaga

Quando? De 24 de fevereiro a 23 de maio

Horários: Terça a sexta das 12 às 18h e sábado, domingo e feriado das 11h às 17h

Onde: Piso térreo do Itaú Cultural, em São Paulo (SP). 

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