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‘Não é cabelo de crente’: Pastor recusa batizar adolescente por causa do cabelo crespo

Caso aconteceu na cidade de Jacobina, no norte da Bahia; amigos da vítima fizeram um protesto pacífico na igreja evangélica

19 de dezembro de 2019

Um pastor da igreja evangélica Assembleia de Deus impediu uma adolescente negra de 16 anos de ser batizada por causa do cabelo crespo. O caso aconteceu no centro da cidade de Jacobina, no norte da Bahia, no dia 11 de dezembro.

A jovem participava de uma palestra em um curso sobre as funções dos ministérios da igreja. Na ocasião, uma palestrante elogiou o cabelo da adolescente e foi repreendida pelo pastor. “Ele pegou o microfone e disse que eu não seria batizada porque meu cabelo não servia para ficar na igreja”, conta.

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Inconformados com a atitude do pastor, um grupo de amigos negros e de cabelos crespos da adolescente realizaram um protesto pacífico. Eles visitaram à igreja no culto do domingo (15).

Segundo a estudante e amiga da vítima, Martha Miranda, de 24 anos, a igreja estava lotada no momento em que o pastor fez a declaração racista. “Tinham várias testemunhas e, no domingo, quando eu e outros amigos fomos visitar a igreja para fazer o protesto, todas as pessoas perceberam o motivo da nossa presença”, relembra.

Martha acrescenta que, após a repercussão do caso, o pastor chamou a adolescente para conversar. “Ele a chamou para uma reunião e disse que ela poderia assinar o formulário de batismo. A situação foi humilhante e em nenhum momento ele pediu desculpas. O pastor ainda disse para ela mudar o cabelo pois, segundo ele, cabelo crespo não é cabelo de crente. Isso a deixou ainda mais chateada e ela deixou de frequentar a igreja”, relata.

O que diz a Assembleia de Deus?

A reportagem entrou em contato com a Convenção Estadual das Assembleias de Deus na Bahia (CEADEB) para saber o posicionamento da igreja diante do ocorrido. Em nota, a CEADEB disse que desconhece o caso, mas que repudia qualquer atitude discriminatória. A convenção também ressaltou que racismo é crime. Não há informações se o caso será apurado e se o pastor citado na reportagem receberá alguma medida disciplinar. Confira a resposta na íntegra:

“Quanto aos questionamentos elencados por vocês, a primeira coisa é que a igreja Assembleia de Deus e podemos falar isso não só na Bahia, mas de forma geral, nunca a discriminação e não digo apenas racial mas falamos em todo tipo de discriminação seja por raça, seja questão social poder aquisitivo ou até mesmo questão sexual, será apoiada.

Outra questão é que os nossos pastores eles são ensinados pela bíblia e eles sabem que Jesus nunca fez acepção de pessoas ou apoiou a discriminação. Pelo contrário, em suas palavras ele diz o seguinte ‘Vinde a mim todos que estais cansados’, então o evangelho é para todos, independente de cor, de raça, poder aquisitivo ou até mesmo opção sexual. A igreja é a instituição de maior Inclusão social, pois a bíblia ensina isso.

Outro ponto é que Racismo é crime, então qualquer pessoa que se sentir descriminalizada ou até mesmo com um tipo de comportamento de exclusão social deve procurar as autoridades competentes.

Quanto ao episódio, não podemos falar a respeito pois não chegou ao nosso conhecimento tal fato. Mas, caso tenha ocorrido deixamos nossa nota de repúdio à qualquer atitude como esta, seja em nossas igrejas ou em outra denominação. Informamos ainda que possuímos uma secretaria que recebe qualquer denúncia desde que fundamentada pelo autor e assinadas por testemunhas.”

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  • Nataly Simões

    Jornalista de formação e editora na Alma Preta. Atua há seis anos na cobertura das temáticas de Diversidade, Raça, Gênero e Direitos Humanos. Em 2023, como editora da Alma Preta, foi eleita uma das 50 jornalistas negras mais admiradas da imprensa brasileira.

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