PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

Didi: o único técnico negro brasileiro em Copas nunca treinou o Brasil

A Seleção Brasileira já teve 15 técnicos em Copas, nenhum autodeclarado negro; bicampeão como jogador (58 e 62), Didi treinou o Peru na Copa de 1970

Imagem: Reprodução/Museu da Pelada

Foto: Imagem: Reprodução/Museu da Pelada

30 de novembro de 2022

A Seleção Brasileira de Futebol é a única equipe que participou de todas as edições da Copa do Mundo. São cinco títulos mundiais (1958, 1962, 1970, 1994 e 2002), dois vice-campeonatos (1950 e 1998), dois terceiros lugares (1938 e 1978) e dois quartos lugares (1974 e 2014). No entanto, a equipe nunca teve um técnico negro à frente do time. 

Ao todo, 15 técnicos brancos estiveram à frente da Seleção e cinco deles levaram o Brasil ao título. O Brasil foi campeão pela primeira vez em 1958 na Suécia, com Didi eleito o melhor jogador da competição, mas Waldir Pereira – o Didi – nunca teve oportunidade de ser o técnico da mundialmente conhecida Seleção Canarinho, mesmo com a passagem marcante como dirigente da Seleção Peruana na Copa do Mundo de 1970, classificando o país para a sua primeira Copa desde a edição de 1930. 

Quer receber nossa newsletter?

Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!

Didi defendeu a Seleção Brasileira em três Copas do Mundo (1954, 1958 e 1962), sendo campeão das duas últimas. Eleito o melhor jogador da Copa de 1958 pela FIFA e selecionado para a seleção do Mundial de 1962, passou a ser chamado de “Mr. Football” (Senhor Futebol) pela imprensa europeia. O ex-atleta negro é considerado um dos melhores e mais elegantes meio-campistas da história do futebol, também por sua maestria com bolas paradas.

Garrincha, Didi, Pelé, Vavá e Zagallo em treino no Chile, em 1962 | Créditos: Reprodução/In My Ear

Além disso, Didi foi considerado o sétimo maior jogador brasileiro do século XX com base em votos de jornalistas esportivos do Brasil e de outros países da América do Sul, e um dos maiores ídolos da história dos rivais cariocas Botafogo e Fluminense.

O Folha-Seca e o Príncipe Etíope

Nascido em 08 de outubro de 1929, na cidade de Campos-RJ, Didi marcou 237 gols em sua carreira, 21 deles pela Seleção Brasileira. Meia habilidoso, começou a carreira no Americano (RJ) e depois atuou no Lençoense (SP), Madureira (RJ), Fluminense (RJ), Botafogo (RJ), Real Madrid (Espanha) e São Paulo.

O escritor, dramaturgo e jornalista Nelson Rodrigues apelidou Didi de Príncipe Etíope, por causa da sua elegância dentro de campo. O filósofo da bola Neném Prancha também elogiou o atleta. “Quem o vê (Didi) andando pela rua, mesmo sem saber quem é, diz logo: este crioulo é algum troço na vida”, afirmou o ex-roupeiro do Botafogo.

Didi ficou famoso nos mundiais de 1958 e 1962, nos quais o Brasil foi campeão. Em clubes, o Príncipe Etíope se destacou com a camisa do Fluminense, entre 1947 e 1956, e com o manto do Botafogo, de 1956 a 1958 e de 1961 a 1962. Pela Seleção Brasileira, disputou as Copas do Mundo de 1954, 1958 e 1962, fazendo 20 gols e 13 assistências em 68 partidas oficiais.

Didi chegou a jogar no famoso time do Real Madrid, ao lado do craque argentino Alfredo Di Stéfano e do húngaro Ferenc Puskás, mas teria sofrido um boicote na equipe, que teria partido de Di Stéfano. Outra versão indica que problemas pessoais ou com o frio o teriam atrapalhado seu desempenho no exterior.

Em 1966 foi para o São Paulo, que apostava num veterano para tentar repetir o sucesso da contratação de Zizinho no Campeonato Paulista de 1957. No entanto, Didi disputou apenas quatro jogos, sendo uma vitória num amistoso e três derrotas no Campeonato Paulista. Sendo assim, o atleta começou a pensar na aposentadoria.

Uma das jogadas mais brilhantes de Didi, o chute bem colocado, foi batizado como “folha-seca”. Esta técnica consistia em bater na bola, com o lado externo do pé, de modo fazê-la girar sobre si mesma e modificar sua trajetória. Ela tem esse nome pois esse estilo de cobrar falta que dava à bola um efeito inesperado, semelhante ao de uma folha caindo. O lance ficou famoso quando Didi marcou um gol de falta nesse estilo contra a Seleção do Peru, nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 1958.

Créditos: Reprodução/O Globo

Na Copa do Mundo de 1970, foi o técnico da Seleção do Peru. Didi também foi um dos técnicos do Fluminense, na fase que o time tricolor era conhecido como A Máquina Tricolor (1975/1976), pela qualidade excepcional de seus jogadores. No começo de 1981, Didi chegou a ser o técnico do Botafogo, mas foi substituído durante o ano.

Waldir Pereira, morreu aos 71 anos, no Hospital Público Pedro Ernesto, no Rio de Janeiro, no dia 12 de maio de 2001, dois dias após passar por cirurgias para retirada de parte do intestino e da vesícula e sem nunca ter ficado à frente da Seleção Brasileira. 

Racismo é discutido, mas não surte efeitos no futebol brasileiro

Entre os 20 times da Série A do Campeonato Brasileiro de 2022, apenas um treinador é negro: Jair Ventura, do Goiás, filho do tricampeão mundial Jairzinho. Segundo informações do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, o mais habitual a cada temporada é que não haja nenhum técnico negro, apesar da longa lista de jogadores negros históricos.

“O mais impressionante desse dado não é não ter treinadores negros, porque isso é algo normal, e visto pela sociedade como algo normal. O que causa estranheza é que esse debate não existe no futebol brasileiro”, disse Marcelo Carvalho, diretor-executivo do Observatório em entrevista ao Diário de Pernambuco.

“A sociedade brasileira não estranha não ter pessoas negras nesses espaços. Por quê? Porque no Brasil não é comum ter pessoas negras nesses espaços. O futebol acaba sendo uma repetição disso, dessa sociedade racista”, finaliza. 

Leia também: Copa mobiliza vizinhanças nas periferias com a esperança do hexa

Apoie jornalismo preto e livre!

O funcionamento da nossa redação e a produção de conteúdos dependem do apoio de pessoas que acreditam no nosso trabalho. Boa parte da nossa renda é da arrecadação mensal de financiamento coletivo.

Todo o dinheiro que entra é importante e nos ajuda a manter o pagamento da equipe e dos colaboradores em dia, a financiar os deslocamentos para as coberturas, a adquirir novos equipamentos e a sonhar com projetos maiores para um trabalho cada vez melhor.

O resultado final é um jornalismo preto, livre e de qualidade.

Leia Mais

PUBLICIDADE

Destaques

AudioVisual

Podcast

papo-preto-logo

Cotidiano