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Nos últimos três meses, 80% dos mortos em tiroteios na Bahia eram negros

Dados fazem parte do relatório "100 dias de Fogo Cruzado na Bahia", produzido pelo Instituto Fogo Cruzado. Ao todo, o levantamento identificou uma média de quatro pessoas baleadas por dia no Estado

Imagem: Agência Brasil

Foto: Imagem: Agência Brasil

10 de novembro de 2022

De julho a outubro deste ano, 304 pessoas morreram na Bahia durante tiroteios, o que dá uma média de três mortes por dia em decorrência de disparo por arma de fogo. Do total de mortos com raça/cor identificada, as pessoas negras totalizaram 80% das vítimas da violência armada.

Os dados fazem parte do relatório “100 dias de Fogo Cruzado na Bahia”, produzido pelo Instituto Fogo Cruzado em parceria com a Iniciativa Negra por Uma Nova Política de Drogas. Desde julho o Instituto mapeia a dinâmica da violência armada no estado relacionada às ocorrências de tiroteios/disparos de arma de fogo em Salvador e em cidades da Região Metropolitana.

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Durante o período analisado, o Instituto registrou 443 tiroteios, que resultaram em 401 baleados, uma média de quatro baleados por dia. Do total de baleados, 304 morreram e 97 ficaram feridas.

O relatório também destaca o cenário em que essas ocorrências foram identificadas. Dos mais de 400 tiroteios, 31% dos casos ocorreram durante ações ou operações policiais. Em Salvador, a dinâmica da violência armada se concentrou em bairros considerados periféricos, como Águas Claras (16 tiroteios), Lobato (15 tiroteios) e Rio Sena (13 tiroteios). Em seguida também estão os bairros de Castelo Branco (13) e São Cristóvão (12).

Segundo a diretora executiva do Instituto Fogo Cruzado, Cecília Oliveira, a partir do levantamento foi possível identificar que a Bahia registrou um número elevado de tiroteios em decorrência de ações e operações policias em comparação com os outros estados mapeados.

“Em outras palavras, a cada três tiroteios, um foi em ação e operação policial. Esses números são muito mais elevados do que os da Região Metropolitana do Recife, mas iguais ao que mapeamos na Região Metropolitana do Rio, locais onde também atuamos”, comenta Cecília Oliveira.

Já Dudu Ribeiro, diretor executivo da Iniciativa Negra, comenta que conseguiu identificar que “o grande número de ocorrências mapeadas estão distribuídas em diversos bairros periféricos de maioria negra, em grande parte relacionadas com a lógica da guerra às drogas”.

Perfil da violência armada

Em relação ao perfil das vítimas, o levantamento também destaca os homens negros como principal alvo da dinâmica da violência armada no estado. Entre os 304 mortos, 285 pertenciam ao gênero masculino e 17 ao gênero feminino. Uma pessoa foi identificada como não binária.

De acordo com o relatório, 95 pessoas mortas puderam ser identificadas por sua raça/cor, sendo que desse total 80% eram pessoas negras. Além disso, entre os 11 feridos por arma de fogo que continham a informação racial, a população negra também aparece com número expressivo, em 73%.

Dentre o total de mortos, 209 vítimas fatais (68,75%) não tiveram a raça/cor identificada, o que, segundo Cecílio Oliveira, é prejudicial para a elaboração de políticas públicas.

“O Fogo Cruzado vem se esforçando para produzir mais dados com o recorte racial e uma das coisas que percebemos é que a imprensa dá pouca importância para essa informação ou esta informação não é repassada por órgãos governamentais aos repórteres. É preciso mudar esse hábito para termos a capacidade de produzir políticas públicas mais fidedignas à realidade, e portanto, mais efetivas e justas”, pontua.

Outro dado destacado no relatório aponta que os agentes de segurança ao mesmo tempo que atuam na linha de frente da violência armada também são vítimas desse mesmo sistema.

Ao todo, 12 agentes de segurança foram baleados, sendo cinco mortos e sete feridos. Dos que morreram, um estava em serviço, outro fora de serviço, dois eram aposentados/exonerados e um não foi identificado. Já em relação aos feridos, cinco estavam em serviço e dois fora de serviço.

De acordo com Dudu Ribeiro, esse dado demonstra que a maioria das ações que vitimam agentes de segurança não acontecem dentro das ações de policiamento e patrulhamento.

“O treinamento policial também deveria evitar esse tipo situação, que não tem demonstrado qualquer impacto positivo em termos estatísticos na produção de segurança, além de ser flagrantemente ilegal a atuação fora dos limites da institucionalidade prevista para a ação das forças de segurança”, destaca Ribeiro.

Tiros por circunstância e região

O mapeamento também mostra que houve, ao menos, 14 chacinas em Salvador e Região Metropolitana e a maioria dos casos (86%) aconteceu durante ações ou operações policiais. Dessas ações, 42 pessoas foram mortas.

Em relação às circunstâncias dos tiroteios, os mais recorrentes foram por homicídio/tentativa de homicídio (206), Ação/Operação policial (139); Disputa entre grupos armados (68); e Roubos/Tentativas de roubo (53).

Entre as outras circunstâncias dos tiroteios mapeados pelo Instituto Fogo Cruzado estão: perseguição (34 registros, 32 mortes e quatro feridos); ataques armados sob rodas (15 tiroteios, 11 mortos e 11 feridos); Tiros dentro de bares (cinco tiroteios, cinco mortos e um ferido); Feminicídio (dois casos, três mortes); Um tiroteio dentro de presídio; E um tiroteio dentro de shopping.

Dos municípios mapeados, a capital baiana dispara como a cidade com maior ocorrência de tiroteios, mortos e feridos: 304 casos, 212 vítimas fatais e 78 feridos. Em seguida aparece Camaçari, cidade da Região Metropolitana a pouco mais de 50 quilômetros de Salvador, com 45 tiroteios, 35 mortos e 5 feridos. Apenas a cidade de Madre de Deus, cidade também da RMS, não registrou tiroteios.

O relatório completo pode ser conferido no site do Instituto Fogo Cruzado ou pelas redes sociais.

Leia também: Mulheres negras são as principais vítimas de constrangimento em visitas a presídios

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