A Universidade de São Paulo (USP) divulgou um artigo que aponta os riscos à saúde de pessoas que trabalham à noite. Segundo informações da Agência Brasil, 57,4% dos trabalhadores noturnos são homens negros. A jornada noturna de trabalho, de acordo com artigo 73 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), é aquela realizada entre 22h de um dia até 5h da manhã do dia seguinte, em áreas urbanas.
De acordo com o artigo “Jornada noturna: o corpo não sai impune com a mudança brusca de rotina”, da USP, a troca de turnos pode ter consequências negativas para a saúde humana, pois vai contra a programação genética do corpo, que é projetada para estar ativa durante o dia e em repouso à noite.
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O censo mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no entanto, mostra que cerca de 7 milhões de trabalhadores brasileiros trabalham em turnos noturnos, o que pode levar a uma série de problemas de saúde. Isso porque as funções fisiológicas do organismo trabalham em harmonia para facilitar o sono noturno e manter a vigília diurna.
Quando uma pessoa trabalha longas jornadas, incluindo turnos noturnos, o risco de distúrbios metabólicos cresce em três a quatro vezes, aumentando a probabilidade de desenvolver doenças, segundo a USP.
Além disso, os trabalhadores noturnos correm maior risco de sofrer de doenças cardiovasculares, diabetes, distúrbios gastrointestinais e metabólicos, como câncer, problemas de saúde mental, sobrepeso e obesidade, além de problemas relacionados à reprodução. Os sintomas se agravam com o acúmulo do tempo do trabalho à noite.
Hamilton de Oliveira Paz já está nessa rotina há cerca de oito anos. Com o trabalho de porteiro durante o dia – em escala 12x36h – junto ao chamado “bico” de vigia noturno, o homem negro conta à Alma Preta que já sente os prejuízos à saúde.
“Trabalhar à noite faz a gente ganhar um pouco mais de dinheiro, mas a saúde vai embora. Eu nunca tenho dia de folga, pois o dia que não trabalho na portaria estou no bico, das 20h às 8h. Então meus horários são todos trocados”, comenta.
“Tem horas que o sono é tanto que eu sinto o meu coração disparado, chega doer o peito. E pra não dormir a gente come. Nessa brincadeira eu engordei 27 kg desde que comecei a trabalhar à noite, desenvolvi diabetes e uma sinusite que nunca sara. Se a gente tivesse um salário digno nesse país não precisaria tanto sacrifício”, relata Hamilton.
A USP ressalta que, devido ao caráter insalubre da jornada noturna, a legislação brasileira estabelece que menores de 18 anos não devem trabalhar durante esse período. Além disso, para os trabalhadores que exercem funções noturnas, é previsto um aumento de até 20% no valor pago pela hora trabalhada, conhecido como adicional noturno.
“De dia eu ganharia R$ 80 por 12h de trabalho. À noite, ganho R$ 100. Não parece muito, mas é o que salva no final do mês. Ninguém trabalha de noite por que quer. É pela necessidade mesmo. Infelizmente, a necessidade obriga”, desabafa Hamilton.
Texto com informações do Jornal da USP.