Na região da Amazônia, onde se encontram o Brasil, a Colômbia e o Peru, organizações criminosas se aproveitam dos recursos naturais, da pobreza local e da ausência do Estado para crescer e diversificar seus negócios ilícitos. Isso ameaça a vida indígena, estimula a violência e danifica o meio ambiente. É o que aponta a pesquisa “Um problema de três fronteiras: restringindo as fronteiras criminosas da Amazônia”.
Segundo o estudo, publicado pelo International Crisis Group, é necessário que os três países reforcem a cooperação em segurança, processem e punam os responsáveis por crimes ambientais e apoiem meios de subsistência legais e comunidades indígenas.
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A violência na tríplice fronteira entre o Brasil, a Colômbia e o Peru se dá por que o local se tornou um foco de crime, com grupos criminosos brasileiros, facções guerrilheiras colombianas e organizações de tráfico de drogas peruanas explorando empreendimentos ilegais, como cultivo de coca, extração de madeira e pesca em áreas protegidas.
De acordo com a publicação, os grupos ilegais que se envolvem no tráfico de drogas também danificam o meio ambiente, reinvestindo seus lucros em atividades como extração ilegal de madeira e pesca. As comunidades indígenas tentam defender seus territórios, mas não recebem apoio do Estado e das forças de segurança para proteger a Amazônia e a população.
Ameaça às populações nativas
O informe ainda aponta que a Amazônia é um território de contrastes. Por um lado, sua localização remota, na tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru, a torna um santuário para a vida selvagem e um tesouro de recursos naturais abundantes. A demarcação das últimas fronteiras apenas na década de 1920 contribuiu para que a região permanecesse isolada e preservada, servindo de lar para as comunidades indígenas.
No entanto, a mesma distância das áreas populosas e das capitais dos países também a torna atraente para grupos criminosos que buscam obter lucros ilícitos. No Brasil, em particular, de acordo com a pesquisa, a região tem sido alvo de interesse de poderosos grupos criminosos.
Outro ponto de destaque são os recursos. A região é habitada por comunidades indígenas isoladas que dependem inteiramente da floresta para sua sobrevivência. Porém a falta de serviços governamentais e a presença de grupos criminosos representam uma ameaça às populações nativas, levando doenças e violência. A região é acessível apenas por barco ou avião e a escassez de negócios legítimos – e a ausência de uma presença estatal robusta – tornam os empregos escassos, enquanto a atividade ilícita prospera.
Comando Vermelho domina a região
A expansão de grupos criminosos para as remotas selvas amazônicas, especialmente do Comando Vermelho e do Primeiro Comando da Capital (PCC), tem causado aumento da violência contra os indígenas, além de degradação ambiental na região.
Esses grupos, originários de centros urbanos, se expandem para cidades no coração da Amazônia e até mesmo para países vizinhos, como Colômbia e Peru, segundo o estudo.
O Comando Vermelho, por exemplo, estabeleceu uma base de poder nas prisões de Letícia e Tabatinga, com o apoio de autoridades corruptas. Após uma aliança anterior, o Comando Vermelho desafiou com sucesso o domínio da Família do Norte e derrotou outro concorrente, Os Crías, tornando-se o grupo criminoso dominante na região povoada pelos indígenas.
Negócios ilícitos
Outro problema ainda assola a região da tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru e, consequentemente, os indígenas. Trata-se dos negócios ilícitos. A produção de coca e cocaína é a principal causa do desmatamento na região, sendo Loreto, no Peru, um dos principais centros de produção de cocaína.
A pesquisa identificou que a pasta base de cocaína produzida no Peru é traficada para o Brasil e para o Equador. O resultado disso é que os grupos criminosos passaram a explorar mais os recursos naturais na floresta amazônica, a fim de diversificar suas fontes de renda e “lavar” seus lucros ilícitos.
“A região está atolada na pobreza extrema, e as comunidades rurais e indígenas são afetadas pela violência e pela exploração dos grupos criminosos”, salienta o estudo.
A pesquisa mostra ainda que a falta de proteção estatal permite que criminosos invadam as áreas, expulsem os indígenas e ameacem sua sobrevivência. A demarcação de territórios é apontada como insuficiente para proteger esses grupos e os líderes indígenas reclamam que as autoridades não fazem nada para protegê-los. Em resposta, os indígenas organizam suas próprias patrulhas para vigiar suas terras, mas essas iniciativas não recebem apoio das autoridades.
Outros problemas
Os grupos criminosos também praticam a extração de madeira, dragagem de ouro e pesca, para “lavar” dinheiro obtido com o tráfico de drogas. Essas atividades permitem que eles obtenham uma fonte de renda mais segura e evitem a repressão policial. Além disso, funcionários públicos corruptos facilitam a entrada no mercado de produtos obtidos ilegalmente, fornecendo documentação falsa.
A corrupção é um problema grave, com funcionários públicos e agentes policiais envolvidos em atividades ilícitas e recebendo subornos. Isso compromete os esforços de policiamento e proteção do meio ambiente e das comunidades indígenas, que se tornam vulneráveis no meio de todos os problemas.
A Amazônia se tornou um dos lugares mais violentos da América Latina e do Caribe, de acordo com o informe em 2022, a cidade de Letícia, na Colômbia, se destacou como a segunda cidade mais violenta do país. Já em 2023, Tabatinga registrou uma taxa de homicídios de 80 pessoas por 100 mil habitantes, tornando-se uma das cidades mais violentas da região.
Com todos os problemas que acontecem no local, a pesquisa afirma que uma providência precisa ser tomada em caráter de urgência para proteger as comunidades indígenas e a biodiversidade.
“As autoridades locais precisarão colaborar mais estreitamente com as comunidades, enquanto os moradores necessitarão de melhor acesso a empregos legais para evitar que se juntem a grupos criminosos. Os líderes mundiais que buscam mobilizar essas cúpulas para proteger a Amazônia para a humanidade não devem perder de vista o crime que se alastra na floresta tropical”, conclui a publicação.