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Musical em homenagem à Leci Brandão percorre sucessos da sambista

Espetáculo no Rio prestigia a sambista e parlamentar, que completa 80 anos em setembro; peça venceu o Prêmio Shell de Teatro
Cena do espetáculo "Leci Brandão - Na Palma da Mão".

Foto: Maringas Maciel

19 de agosto de 2024

Para reverenciar a vida e a obra de Leci Brandão, que em setembro completará 80 anos, o diretor Luiz Antonio Pilar leva o musical “Leci Brandão – Na Palma da Mão”, com texto do jornalista e escritor Leonardo Bruno, para curta temporada no Teatro Ipanema Rubens Corrêa, no Rio de Janeiro (RJ), entre 23 de agosto e 8 de setembro de 2024, com apresentações sexta e sábado, às 20h, e domingo, às 19h. 

Nome incontornável da música brasileira, compositora e intérprete de mão cheia, Leci Brandão é uma mulher à frente do seu tempo, pioneira em tudo o que tem feito em quase meio século de carreira. Primeira mulher a integrar a Ala de Compositores da Mangueira, e segunda mulher negra a ser eleita para a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), Leci assumiu a homoafetividade publicamente no fim dos anos 1970, em entrevista ao jornal “Lampião da Esquina”, e, alguns anos depois, rompeu com a gravadora multinacional por não aceitar abrandar as letras contestadoras. 

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É autora de sucessos atemporais como “Papai vadiou”, “Isso é fundo de quintal”, “Essa tal criatura”, “Ombro amigo” e “Zé do caroço”, este último regravado por artistas tão diversos como Seu Jorge, Anitta, Mariana Aydar, Grupo Revelação e a banda de rock Canto Cego.

O espetáculo em homenagem à sambista estreou em janeiro de 2023 no Sesc Copacabana, onde teve todas as suas sessões esgotadas, além de fazer uma temporada de sucesso no Teatro João Caetano, os circuitos Firjan SESI Cultura e Sesc RJ Pulsar, uma curta temporada em São Paulo no Itaú Cultural, uma circulação pelas lonas e arenas culturais do Rio, atualmente em circulação pelo país através do Palco Giratório do Sesc – com um público total estimado de mais de 10 mil pessoas em mais de 70 apresentações até agora.

O musical ganhou em 2024 o Prêmio Shell de Teatro na categoria Direção, para Luiz Antonio Pilar, além de ter sido indicado nas categorias Ator (Sergio Kauffmann) e Iluminação (Daniela Sanchez). Foi indicado também ao Prêmio APTR na categoria Atriz Coadjuvante (Verônica Bonfim).

Os atores Tay O’Hanna, Verônica Bonfim e Patrícia Costa interpretam Leci Brandão e sua mãe, D. Lecy, e Matheus Dias representa personagens masculinos presentes na vida da cantora, como o líder comunitário Zé do Caroço, inspiração de uma de suas músicas mais famosas.

Relação com a mãe e religiosidade afro

A narrativa é construída a partir da relação entre mãe e filha, muito forte até a morte de D. Lecy, aos 96 anos, em 2019. 

“O espetáculo é contado sob o ponto de vista da mãe, referência maior na vida de Leci. São reminiscências dela. No espetáculo, às vezes, a mãe canta canções significativas do repertório da Leci para a Leci. Em ‘Das coisas que mamãe me ensinou’, fizemos uma alteração na letra ‘tudo isso é resultado das coisas que sua avó (ao invés de mamãe) me ensinou’: a avó da Leci ensina pra mãe, que ensina pra Leci e Leci deixa seu legado. A ideia foi construir um espetáculo cujo arcabouço mostrasse toda a tradição familiar e religiosa, o respeito e a educação de uma família preta, que a Leci traz”, resume o diretor Luiz Antonio Pilar.

A simbologia do Candomblé, muito presente na vida da artista, é um dos fios condutores da dramaturgia. Filha de Ogum e Iansã na religião de matriz africana, Leci passou cinco anos sem gravar desde que se afastou da Polygram, por não aceitar reescrever suas letras. Em uma consulta às entidades no terreiro, ouve que tudo ficará bem. Ela assina com uma gravadora nacional, grava um disco com seu nome e estoura. Em agradecimento, todos os seus discos a partir de então tem uma saudação a um Orixá

“O espetáculo está estruturado dessa forma. A primeira saudação é para Exu, para abrir os caminhos. A todo momento esses Orixás vêm e assim vamos alicerçando a cena”, explica o diretor.

Grande parte dos 17 números musicais do espetáculo são composições de Leci Brandão, como “A filha da Dona Lecy”, “Ombro amigo”, “Gente negra” e “Preferência”. Outras, como “Corra e olhe o céu”, de Cartola, e o samba-enredo da Mangueira “História pra ninar gente grande”, campeão de 2019, são significativas na trajetória da artista.

Além do trio de atores, que também canta, estão no palco quatro músicos que tocam ao vivo – Matheus Camará (violão, clarinete e agogô), Thainara Castro e Pedro Ivo (percussão) e Rodrigo Pirikito (violão, cavaquinho e xequerê). 

“Eu trouxe para fazer a direção musical o Arifan Junior. É uma figura onipresente nas rodas de samba da cidade e tem feito com o Awurê um resgate muito importante dos sambas religiosos, de reafricanizar o samba, mas também para dar um caráter mais orgânico e verdadeiro à parte musical, trazendo o clima de uma roda de samba real, com menos rigor e apuro, como em geral é visto nos musicais”, define Pilar.

O espetáculo não tem uma linha cronológica e faz algumas licenças poéticas, como a troca da música “Cadê Marisa?”, com a qual Leci ganhou um festival ainda bem jovem, por “Papai Vadiou”. 

“Minha intenção maior foi sempre integrar a música, o figurino e o cenário numa coisa só, uma concepção global, em que tudo se relaciona”, conta o diretor. Dentro desse conceito, a cenógrafa Lorena Lima, homônima da assistente de direção, detalha a ambientação cênica: “A árvore, de 2,50m, rodeada por pedras, é o destaque do cenário, que será um grande quintal, um terreiro em tons terrosos e verde, com o chão todo coberto de folhas secas de mangueira”. Dessas folhas, surgem peças do figurino criadas por Rute Alves, que serão usadas pelos atores, que não saem de cena durante o espetáculo.

Leci Brandão estendeu sua luta política para o plenário e, já radicada em São Paulo, filiou-se ao PCdoB e foi eleita deputada estadual em 2010 com 86.298 votos. Atualmente em seu quarto mandato, recebeu 90.496 votos em 2022. Aos quase 80 anos, segue ativa na música e na vida parlamentar, conclamando o povo a levar na palma da mão a luta pelas causas de todos os marginalizados.

Serviço

Musical “Leci Brandão – Na palma da mão”

Quando: 23 de agosto a 8 de setembro, de sexta e sábado às 20h, e aos domingos, às 19h

Onde: Teatro Ipanema Rubens Corrêa – Rua Prudente de Morais 824 – Rio de Janeiro (RJ)

Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia)

  • Redação

    A Alma Preta é uma agência de notícias e comunicação especializada na temática étnico-racial no Brasil.

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