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COB realiza fórum para a segurança no esporte e lança manual de salvaguarda para crianças

Evento contou com palestras internacionais e lançamento do Manual de Salvaguarda Internacional para Crianças no Esporte
Da esquerda à direita, a ginasta Jade Barbosa, o atleta de taekwondo Gabriel Campolina e a especialista em segurança no esporte Monica Rivera, Rio de Janeiro, 3 de setembro de 2024

Foto: Bruno Lorenzo/COB

7 de setembro de 2024

O Comitê Olímpico do Brasil (COB) promoveu recentemente o 1º Fórum Esporte Seguro, uma iniciativa da organização para estimular práticas de segurança no esporte em diversos níveis, incluindo física e mental, além de medidas de voltadas às mulheres, crianças e atletas negros.

O evento foi realizado no Hotel Grand Hyatt, no Rio de Janeiro. A Alma Preta foi uma das mídias convidadas do evento, realizado na terça-feira (3). Além da imprensa, o evento contou com mais de 130 representantes de organizações parceiras, confederações e clubes esportivos de todo o país.

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Com foco no desenvolvimento humano do esporte, diversos palestrantes da área de segurança e salvaguarda esportiva falaram durante o fórum. Entre eles, Kirsty Burrows, representante da área no Comitê Olímpico Internacional (COI), Monica Rivera e Hannah Hinton, do norte-americano US Safesport Center e Håvard B. Øvregård, especialista do Comitê Olímpico Norueguês.

Além deles, a abertura do evento teve a participação do presidente do COB, Paulo Wanderley, e a apresentação do Programa Esporte Seguro, do COB, realizada por Soraya Carvalho. O encerramento ficou a cargo do judoca campeão olímpico Rogério Sampaio.

‘Nosso objetivo é zerar o número de casos’

Após a abertura do presidente do COB, Paulo Wanderley, a ex-atleta e safeguarding officer do COI Soraya Carvalho realizou a apresentação do Programa Esporte Seguro, iniciativa da organização para promoção da segurança física e psicológica dos atletas no Brasil.

O Programa Esporte Seguro foi criado para promover a segurança no esporte e a promoção de uma cultura de prevenção reconhecimento, enfrentamento e adoção de boas práticas no ambiente esportivo. O programa foi lançado em 2019 com a criação de um canal de ouvidoria e ética. Desde então, cursos e protocolos foram implementados nesse sentido, incluindo uma política de prevenção e enfrentamento à violência, assédio e abuso no esporte e um curso de esporte antirracista. O programa está presente em todas as missões do Time Brasil, incluindo oficiais de salvaguarda.

Durante a apresentação, Carvalho apontou avanços do COB na área, mas ressaltou que essa é uma responsabilidade compartilhada com 42 organizações signatárias do Programa Esporte Seguro. 

“Os maiores esforços e investimentos do COB são na prevenção aos desvios éticos e, por isso, precisamos de ainda mais pessoas e instituições engajadas na causa para chegarmos próximo do nosso objetivo que é zerar o número de casos”, disse Carvalho durante o evento.

A ex-atleta Soraya Carvalho durante o 1º Fórum Esporte Seguro do Comitê Olímpico do Brasil (COB)
A ex-atleta Soraya Carvalho durante o 1º Fórum Esporte Seguro do Comitê Olímpico do Brasil (COB) (Foto: Bruno Lorenzo/COB)

‘Pessoas protegem pessoas’

Em sua apresentação, Kirsty Burrows, líder da Unidade de Esporte Seguro do COI, ressaltou o diagnóstico da Organização Mundial da Saúde (OMS) de que a violência é um problema global, o que serviu de base para o COI criar uma série de práticas para a proteção dos atletas. Em sua fala, ela salientou que as medidas precisam levar em conta o aspecto humano da proteção, apontando a necessidade de normalizar conversas sobre bem-estar no esporte. 

“É importante enfatizar que os atletas são também pessoas”, disse. A preocupação se traduz em ações de prevenção e acolhimento para atletas, levando em conta que o principal aspecto de abuso no campo global é o psicológico.

Durante as perguntas, também foi levantada a preocupação diante da possibilidade de que um abusador pode se mudar de país e seguir trabalhando na área — colocando atletas em risco. Diante da dificuldade, o COI pediu às confederações e países que sejam cuidadosos com o histórico de quem é contratado. A conversa deixou clara a necessidade de maior colaboração internacional nesse campo, que tem entraves legais e diplomáticos a serem superados.

O abuso digital também foi mencionado durante a conversa, como um ambiente no qual há violência e agressões. O COB, por exemplo, iniciou, em Paris, um trabalho de uso de inteligência artificial para monitorar as mídias sociais em relação a esse tipo de violência. Por sua vez, o COI afirma que já agiu contra oito mil comentários identificados como abusivos na internet e deve publicar um relatório sobre o assunto até o final do mês. 

Exemplo de práticas internacionais

As norte-americanas Monica Rivera e Hannah Hilton, do US Center for Safesport (Centro dos EUA para o Esporte Seguro, em tradução livre), realizaram uma apresentação sobre o trabalho da instituição no esporte norte-americano. As principais preocupações apresentadas são com a segurança de mulheres e crianças no esporte, principais vítimas de abuso sexual e psicológico.

As especialistas enfatizaram práticas que mantenham protocolos de ação para a prevenção e resolução de casos de violência, que podem incluir assédio psicológico e sexual. Essas ações incluem medidas de educação, treinamento e pesquisa, além de desenvolvimento institucional e garantia de regras e punições.

As norte-americanas Monica Rivera e Hannah Hilton, do US Center for Safesport, falam durante o 1º Fórum Esporte Seguro do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Rio de Janeiro, 3 de setembro de 2024
As norte-americanas Monica Rivera e Hannah Hilton, do US Center for Safesport, falam durante o 1º Fórum Esporte Seguro do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Rio de Janeiro, 3 de setembro de 2024 (Foto: Bruno Lorenzo/COB)

Hannah salientou que é fundamental a liderança na garantia nas garantias de um esporte mais seguro. Ela relatou que em sua experiência, apontando que quando as lideranças das áreas estão comprometidas com a questão, há uma percepção de que as ações de prevenção são melhor executadas.

O centro recomenda uma série de políticas de prevenção nas seguintes áreas: interação pessoal; reuniões; sessões de treinamento individual; terapias manuais e modalidades terapêuticas e de recuperação; vestiário e áreas de troca de roupa; comunicação eletrônica; transporte; alojamento e ambientes residenciais.

Atletas relatam casos de violência

Durante a tarde, Monica Rivera mediou uma mesa com atletas brasileiros que se dispuseram a compartilhar casos de violência no esporte. São atletas que não só passaram por essas situações, mas fizeram denúncias públicas que tiveram impacto nas práticas do esporte no Brasil.

Na mesa, presencialmente, estavam ao lado de Rivera a ginasta multicampeã Jade Barbosa e o atleta do taekwondo Gabriel Campolina Santos, campeão mundial por equipes. De forma virtual, participou a ex-ginasta rítmica Angélica Kvieczynski, hoje técnica na Irlanda.

Kvieczynski sofreu violências físicas e psicológicas ao longo da carreira na forma de punições por resultados no esporte. A ex-atleta relatou o acúmulo de traumas e a necessidade de acompanhamento psicológico até hoje. Atualmente técnica na Irlanda, ela apontou que se esforça por uma prática esportiva sem abusos e apontou que dessa forma o clube que treina no país europeu se tornou referência nacional durante seu trabalho.

Da esquerda à direita: a ex-ginasta rítmica Angélica Kvieczynski (na tela), a ginasta Jade Barbosa, o atleta de taekwondo Gabriel Campolina Santos, e a especialista em esporte seguro Monica Rivera durante o 1º Fórum Esporte Seguro do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Rio de Janeiro, 3 de setembro de 2024
Da esquerda à direita: a ex-ginasta rítmica Angélica Kvieczynski (na tela), a ginasta Jade Barbosa, o atleta de taekwondo Gabriel Campolina Santos, e a especialista em esporte seguro Monica Rivera durante o 1º Fórum Esporte Seguro do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Rio de Janeiro, 3 de setembro de 2024 (Bruno Lorenzo/COB)

Jade Barbosa falou em seguida e relatou que também passou por processos de abuso no esporte. A medalhista olímpica contou que sofria punições relacionadas à necessidade de perda de peso, apontou a falta de apoio nutricional nesse processo e as consequências físicas e psicológicas desses abusos.

Gabriel Campolina, única pessoa negra a falar no evento, atleta do Taekwondo olímpico e medalhista de ouro por equipes na Copa do Mundo da Coreia do Sul, relatou o impacto de abusos na infância e de um recente caso de racismo pelo qual passou. Em maio, o atleta foi agredido em uma estação de trem por estar abraçado com uma mulher branca colega de treino. O agressor, Matheus Cerqueira Santana, foi preso em flagrante por lesão corporal e injúria racial. O caso acendeu um alerta para a necessidade de políticas antirracistas no esporte.

Manual de Salvaguarda Internacional para Crianças no Esporte

O evento no Rio de Janeiro foi encerrado com o lançamento do Manual de Salvaguarda Internacional para Crianças no Esporte, traduzido para o português e organizado por diversas organizações, incluindo o Unicef. O documento apresenta oito diretrizes de salvaguarda para a garantia de padrões de segurança para crianças no ambiente esportivo. O manual foi apresentado por Håvard B. Øvregård, especialista do Comitê Olímpico Norueguês.

O documento foi discutido em detalhes ao longo da palestra e distribuído aos presentes, que foram convidados a fazer observações e levar as práticas para suas áreas de atuação no esporte.

O especialista em esporte seguro do Comitê Olímpico Norueguês
Håvard B. Øvregård, fala durante o 1º Fórum Esporte Seguro do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Rio de Janeiro, 3 de setembro de 2024
O especialista em esporte seguro do Comitê Olímpico Norueguês Håvard B. Øvregård, fala durante o 1º Fórum Esporte Seguro do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Rio de Janeiro, 3 de setembro de 2024 (Foto: Bruno Lorenzo/COB)

Os princípios que nortearam a elaboração do documento foram o melhor interesse das crianças; o direito das crianças de praticar esportes; o direito das crianças de estarem e se sentirem seguras; direito das crianças de terem suas vozes ouvidas; direito de não ser discriminado; responsabilidade do esporte de proteger as crianças; e a certeza de que certos fatores tornam algumas crianças mais vulneráveis.

As oito salvaguardas apresentadas são: Desenvolvimento das políticas; Procedimentos visando dar respostas às questões relativas a salvaguardas; Conselho e apoio; Redução de risco para as crianças; Orientações quanto ao comportamento; Recrutamento, capacitação e comunicação; Trabalho com parcerias; Monitoramento e avaliação.

  • Solon Neto

    Cofundador e diretor de comunicação da agência Alma Preta Jornalismo; mestre e jornalista formado pela UNESP; ex-correspondente da agência internacional Sputnik News.

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