Após encontro com Lula em São Paulo, nesta quarta-feira (27), a vice-presidenta da Colômbia, Francia Márquez, se reuniu no Rio de Janeiro com um grupo de parlamentares e pré-candidatas ao legislativo nas eleições deste ano. O encontro aconteceu pela manhã e foi parte de sua agenda oficial em visita ao Brasil. Na ocasião, foram pautados o potencial de transformação que mulheres negras podem realizar através da política, as semelhanças existentes entre Brasil e Colômbia no âmbito social, além de estratégias para as eleições brasileiras.
Ao lado da vice-presidenta, estiveram na mesa as deputadas federais Benedita da Silva (PT-RJ), Talíria Petrone (PSOL-RJ), Áurea Carolina (PSOL-MG), Vivi Reis (PSOL-PA), as pré-candidatas Lucilene Kalunga (PSB-GO) e Vilma Reis (PT-BA), que estão concorrendo na esfera estadual e federal, respectivamente, além de Anielle Franco, irmã da vereadora Marielle Franco, morta em 2018. O encontro foi organizado conjuntamente pelo Instituto Marielle Franco, Instituto Ibirapitanga, Mulheres Negras Decidem, Instituto Alziras, Instituto Peregum e Rede de Mulheres Negras de Pernambuco e teve a presença da ativista e intelectual Sueli Carneiro.
Quer receber nossa newsletter?
Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!
Em sua primeira fala, Francia Márquez destacou a baixa representação das mulheres negras na política e afirmou que somente com mais mulheres negras eleitas é possível construir mudanças efetivas de transformação social. “Não é possível que em uma região com 200 milhões de afrodescendentes, somente 2 mulheres, em tantos anos, chegaram à vice-presidência. Não é possível que na América Latina eu seja a segunda e na Colômbia, a primeira. Temos que passar essa página, queremos ser muitas e somente assim podemos avançar nas mudanças sociais necessárias”
Leia mais: Para cada prefeita negra, foram eleitos 15 homens brancos, aponta relatório
A deputada federal e também candidata à reeleição, Talíria Petrone (PSOL-RJ), destacou em sua fala a importância da eleição de Francia Márquez para as mulheres negras latino-americanas, sobretudo aquelas que estão ocupando a política institucional. “Nós não vamos mais permitir que nenhum muro seja levantado. Nós vamos ocupar todos os espaços porque nós temos um projeto de Brasil”, disse.
Para Ana Cleia Kika, que participa da sua primeira disputa para o cargo de deputada estadual pelo PT no estado do Tocantins, a influência que a vitória da ativista colombiana tem em sua candidatura é muito potente. Ela afirma que “é poderoso ver uma mulher como a Francia eleita vice-presidenta da Colômbia porque entendo que as nossas histórias se cruzam. No Brasil, há milhares de mulheres negras com a história parecida com a dela, então, quando eu vejo que ela está ocupando esse lugar eu sinto que eu posso também.”
A pré-candidata também pontuou a importância de iniciativas de fortalecimento de candidaturas de lideranças negras, como o “Estamos Prontas”, projeto do Instituto Marielle Franco e Mulheres Negras Decidem em que participa desde o início do ano.
Foram discutidos também como as mulheres negras podem contribuir para o fortalecimento democrático e estratégias de impulsionamento de suas candidaturas políticas. Esse debate foi pautado através dos acúmulos e experiências construídos durante as eleições colombianas que recentemente elegeram Francia à vice-presidência e Gustavo Petro à presidência do país. As parlamentares também abordaram a confiança nos processos eleitorais na América Latina e violência política, já que o evento aconteceu no dia em que Marielle Franco completaria 43 anos de vida.
Leia mais: “Nós incomodamos”: o legado de Marielle para as mulheres negras na política
Vilma Reis conversou com a reportagem da Alma Preta Jornalismo após o evento e apontou que os principais acúmulos do encontro são a afirmação e convicção de que não seja mais possível construir qualquer tipo de governo sem a presença das mulheres negras e suas radicais imaginações políticas.
“Enquanto Francia Marquez falava, todas nós ficamos arrepiadas naquela sala, porque sabemos que ela estava falando sobre uma revolução que está acontecendo nesse continente que só se realiza com a força e potência das mulheres negras. Quem pensar que é possível governar o Brasil, Colômbia ou qualquer outro país nesse continente sem contar com a nossa presença e o nosso feito político está absolutamente enganado. Hoje, mais um vez, firmamos esse pacto”, afirmou a socióloga.
Na parte da tarde, Francia seguiu com uma agenda com organizações de direitos humanos antes de se despedir da cidade do Rio de Janeiro.
Leia também: O governo da dignidade chegou à Colômbia