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Empresa de segurança em SP tem armas roubadas com apoio de vigilante

Armas, munições e coletes a prova de bala nunca foram localizados. Caso é representativo de um crime grave que ocorre no setor de segurança.
Pedro Borges/Alma Preta.

Foto: Pedro Borges/Alma Preta.

12 de dezembro de 2024

Um grupo de seis homens armados invadiu a empresa Patamar Segurança Privada, no Butantã, bairro da zona oeste da capital paulista.

Eles levaram cinco espingardas, sete revólveres, seis coletes à prova de bala e duas caixas de munição — uma com 53 cartuchos calibre 12 e outra com 73 cartuchos calibre 38. 

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O crime só foi possível por conta da participação do segurança Everton Amorim Lopes, que trabalhava na empresa. Segundo a denúncia do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), o funcionário facilitou o acesso da quadrilha de criminosos.

Esse assalto, que aconteceu em 14 de fevereiro de 2022, é representativo de um crime grave que envolve o setor de segurança privada: o roubo ou furto de armas e munições.

Somente entre 2017 e 2021, 2.566 armas foram furtadas ou roubadas de empresas de segurança privada no estado de São Paulo, aponta um levantamento da Fiquem Sabendo junto à Polícia Federal (PF). Mais de 80% são revólveres de calibre 38.

Segundo a PF, as empresas de segurança privada possuíam, em 2021, um arsenal de 246.511 armas de fogo em todo o Brasil. As de São Paulo concentram 24% desse total, com 59.086 armas. 

Esta história encerra o especial de reportagens sobre as diversas facetas da segurança privada na cidade de São Paulo. Durante esta semana, a Alma Preta publicou diariamente histórias representativas da violência envolvendo agentes de segurança privada no Brasil.

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Poucos esclarecimentos

A Alma Preta visitou a sede da empresa de segurança. O local parece uma casa residencial, com portão vazado, com possibilidade de ver a parte interna da empresa, sem aparente sistema de segurança.

O Ministério Público sinalizou que, possivelmente, o crime tem relação com facções criminosas. 

“O objeto do roubo — armas, coletes e munições — são inequivocamente destinados ao crime organizado que deles se utiliza”, diz o texto da denúncia feita pelo MP-SP.

No entanto, as autoridades da Justiça, Polícia Civil ou Ministério Público não conseguiram localizar as armas nem os demais participantes do assalto. Os órgãos também não comprovaram nenhuma conexão com o crime organizado.

O dia do roubo

O roubo ocorreu por volta das 8h da manhã. Naquele dia, o segurança Everton Amorim chegou cedinho, mesmo sem estar na escala de trabalho.

Ele foi recebido por uma funcionária, a quem disse que precisava pegar um colete à prova de balas para usar em outro trabalho. Sem desconfiar, a colega de trabalho abriu a porta. Foi quando os demais criminosos entraram no espaço e fizeram outros funcionários de reféns.

Depois de levar as armas e os equipamentos, a quadrilha fugiu em um carro vermelho. 

A investigação policial identificou que as câmeras de segurança foram desligadas pouco antes de os assaltantes chegarem ao local. A ação durou aproximadamente 10 minutos. 

Ao registrar o boletim de ocorrência na delegacia, uma das funcionárias ficou muito nervosa e não conseguiu descrever os demais assaltantes com detalhes. Disse apenas que nunca os havia visto.

A mesma mulher, porém, reconheceu Everton Amorim por fotografia e afirmou que ele não pareceu coagido pelos demais assaltantes. Ela também disse que o segurança parecia liderar o grupo, já que dava comandos da ação e se portou de maneira agressiva.

No mesmo dia do roubo, agentes do 51º Distrito Policial, no bairro Rio Pequeno, pediram a prisão temporária do segurança.

O Poder Judiciário emitiu o mandado de prisão no dia seguinte e o cumpriu uma semana depois, em 22 de fevereiro de 2022. 

A Justiça condenou o vigilante a uma pena de prisão de 11 anos e 8 meses pelo crime de roubo. 

A defesa recorreu em segunda instância para revogar a decisão ou determinar prisão em regime semi-aberto, mas os desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo negaram o pedido.

Defesa do segurança

Em audiência, Everton Amorim disse que estava com o avô em trabalho de reciclagem de materiais no dia do crime. Ele afirmou também que trabalhava de maneira pontual pela Patamar Segurança Privada.

Com o argumento de que ele procurou a polícia quando soube do fato e seguiu as recomendações dadas, a defesa de Amorim contesta as acusações, nega a participação dele no fato e pede sua absolvição.

Everton Amorim é um homem branco de 32 anos. Ele foi contratado como segurança patrimonial, tinha registro na Polícia Federal e autorização para exercer a tarefa de transporte de valores, segurança pessoal e escolta armada.

Além disso, ele não tinha antecedentes criminais, prerrogativa para trabalhar na área de segurança privada. 

Confirmação da participação do segurança

A perícia técnica não identificou o segurança a partir das imagens das câmeras de segurança de estabelecimentos vizinhos da empresa. 

Isso porque os registros obtidos tinham uma baixa qualidade de vídeo, que não permitia afirmar que o ex-funcionário participou da ação. 

Por isso, a confirmação sobre a participação de Everton no assalto se deu a partir dos testemunhos dos demais trabalhadores da Patamar Segurança Privada.

Posicionamento das autoridades

Em nota, a Polícia Civil informou “que o investigado foi detido em prisão temporária e teve a prisão convertida para preventiva, pela Justiça”. Também afirmou que a reportagem deve procurar o Poder Judiciário para mais esclarecimentos.

O Tribunal de Justiça de São Paulo afirmou que “não emite nota sobre questões jurisdicionais” e que seus magistrados “têm independência funcional para decidir de acordo com os documentos dos autos e seu livre convencimento”. 

O Ministério Público não respondeu aos questionamentos da reportagem e afirmou se “manifestar nos autos” do processo. 

A reportagem procurou o advogado responsável pela defesa de Everton Amorim no processo, mas não obteve retorno. O espaço segue em aberto para qualquer manifestação.

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  • Pedro Borges

    Pedro Borges é cofundador, editor-chefe da Alma Preta. Formado pela UNESP, Pedro Borges compôs a equipe do Profissão Repórter e é co-autor do livro "AI-5 50 ANOS - Ainda não terminou de acabar", vencedor do Prêmio Jabuti em 2020 na categoria Artes.

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