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Muro na Cracolândia simboliza falência de políticas públicas para a população vulnerável, diz conselho

Em nota, conselheiros apontam falta de transparência e precariedade no atendimento às pessoas em situação de vulnerabilidade na região
Imagem de janeiro de 2025 do muro levantado pela prefeitura de São Paulo na região da Cracolândia. O Conselho Municipal de Políticas sobre Álcool e Drogas de São Paulo aponta falhas no município em proporcionar políticas públicas adequadas para a população vulnerável da região.

Imagem de janeiro de 2025 do muro levantado pela prefeitura de São Paulo na região da Cracolândia. O Conselho Municipal de Políticas sobre Álcool e Drogas de São Paulo aponta falhas no município em proporcionar políticas públicas adequadas para a população vulnerável da região.

— Paulo Pinto/Agência Brasil

28 de janeiro de 2025

O Conselho Municipal de Políticas sobre Drogas e Álcool de São Paulo (COMUDA/SP) publicou uma nota pública em repúdio ao muro levantado na Cracolândia em maio de 2024. Segundo a entidade, a construção simboliza a falência de políticas públicas voltadas para a população vulnerável e usuária de substâncias psicoativas.

A nota, de 21 de janeiro, foi feita após uma visita técnica feita no local neste mês. Membros do conselho perceberam que a delimitação espacial imposta pela Prefeitura acarreta constrangimento ilegal e abuso de autoridade.

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Para ingressar no espaço cercado, usuários precisam se submeter a revistas policiais, e não há infraestrutura básica para atender às necessidades humanas. Falta sombra, banheiros, e há apenas um ponto de água potável, instalado durante a inspeção da Comissão.

Apesar das ações da gestão municipal, como a política de dispersão de usuários de drogas, o COMUDA/SP ressalta que a Cracolândia persiste, espalhando-se por outras áreas da cidade e agravando a vulnerabilidade social.

Na prática, novas “cenas de uso” têm surgido em diferentes regiões da capital, o que evidencia o deslocamento do problema em vez de sua resolução.

Políticas de exclusão na Cracolândia e falhas na assistência

O muro, segundo o COMUDA/SP, escancara a ausência de uma política de drogas integrada e humanizada. A centralização das abordagens em ações repressivas, aliadas à presença ostensiva de forças policiais, limita o acesso a cuidados essenciais, como saúde e assistência social. 

Para os conselheiros, essas medidas desarticulam a ação de equipes técnicas e negligenciam princípios de redução de danos, amplamente recomendados por organismos internacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o UNAIDS, programa da ONU voltado para o combate à AIDS.

Além disso, a inexistência de um espaço adequado para acolhimento e convivência dos usuários agrava a marginalização.

Essa proposta já foi tema de discussões anteriores e está nas recomendações do próprio conselho desde 2023.

Recomendações para uma abordagem humanizada

O COMUDA/SP apresentou um conjunto de medidas para reverter o cenário atual na Cracolândia e garantir direitos básicos. São elas:

  • a instalação de infraestrutura básica como banheiros;
  • chuveiros, abrigos e pontos de água potável; 
  • a criação de um Centro de Convivência;
  • espaço para acolher usuários com foco na redução de danos e cuidados em liberdade;
  • e a autorização de ações de redução de danos, como distribuição de preservativos, piteiras e protetores labiais.

O conselho também recomendou a implementação de um espaço seguro para uso de drogas, conforme o discutido na 8ª Conferência Municipal de Políticas sobre Álcool e Drogas.

Outra proposta foi a formação de um grupo de trabalho intersetorial, com a reunião de representantes do COMUDA/SP, Ministério Público, Defensoria Pública e gestores municipais.

A nota pública reforça que a atual política de segregação não soluciona os problemas estruturais relacionados ao uso de drogas. Pelo contrário, contribui para a invisibilização da crise humanitária e afasta a sociedade do debate necessário sobre saúde pública, inclusão e respeito aos direitos humanos.

Críticas à gestão pública

O COMUDA/SP enfatizou a necessidade de maior transparência e diálogo com a sociedade, já que a ausência de planejamento e ações articuladas compromete a eficácia das políticas públicas e contribui para a perpetuação do problema.

A proposta de um Centro de Convivência, apresentada em conferências municipais, é um exemplo de alternativa real à exclusão e marginalização.

Embora a prefeitura afirme que o número de pessoas na região da Cracolândia tenha diminuído, o Conselho contesta a afirmação.

Para o COMUDA/SP, essa redução é apenas aparente, pois desconsidera o crescimento de cenas de uso em outras áreas e o aumento da concentração de pessoas durante a noite.

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  • Giovanne Ramos

    Jornalista multimídia formado pela UNESP. Atua com gestão e produção de conteúdos para redes sociais. Enxerga na comunicação um papel emancipatório quando exercida com responsabilidade, criticidade, paixão e representatividade.

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