A Frente Palestina São Paulo convoca um ato para esta segunda-feira (14), às 15h, na Praça da República, em São Paulo, em repúdio à morte do ambulante senegalês Ngange Mbaye, baleado por policiais militares durante uma operação no Brás na semana passada.
Mbaye, de 34 anos, foi atingido por um disparo na barriga enquanto tentava proteger mercadorias de uma colega durante abordagem policial. O caso ocorreu na sexta-feira (11) e, segundo testemunhas, ele tentou impedir que uma idosa tivesse seus produtos apreendidos. Mesmo sem estar trabalhando naquele momento, acabou envolvido na ação. Foi socorrido, mas morreu a caminho da Santa Casa.
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O movimento exige justiça, o fim da Operação Delegada e a saída do secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, além de denunciar políticas de perseguição a imigrantes e trabalhadores informais.
Reações no Brasil e no Senegal
O assassinato do ambulante provocou repercussão internacional. No Senegal, diversos veículos de imprensa destacaram o caso, descrevendo-o como mais um episódio de violência policial contra imigrantes africanos no Brasil. A ministra senegalesa da Integração Africana e dos Negócios Estrangeiros, Yassine Fall, cobrou investigação e afirmou que “medidas estão em curso para elucidar as circunstâncias dessa morte trágica”.
A organização Horizon Sans Frontières, com sede no Senegal, classificou a ação policial como “brutal” e acusou o Brasil de ser uma “zona de violência endêmica” contra imigrantes africanos.
“Essa tragédia não é um caso isolado. Outros senegaleses já foram vítimas de intervenções policiais violentas no passado, especialmente no Brasil”, destacou a nota da entidade.
Denúncia à OEA e cobranças ao governo paulista
Entidades do movimento negro e de direitos humanos denunciaram o caso à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), da Organização dos Estados Americanos (OEA). O documento reforça uma denúncia anterior feita em 2024, que responsabiliza o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, pela alta letalidade policial no estado.
“A Polícia Militar de São Paulo atua segundo um padrão, fruto de uma política sistemática. Freitas e Derrite são responsáveis diretos pela morte de Ngange Mbaye. Devem responder judicialmente no Brasil e internacionalmente”, afirmou Douglas Belchior, do Instituto de Referência Negra Peregum.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública, o policial envolvido foi afastado e o caso está sob investigação. A nota oficial menciona que todos os agentes são treinados em direitos humanos e combate ao racismo.
Racismo institucional e Operação Delegada
Movimentos sociais também atribuem a morte de Mbaye à política da Operação Delegada, programa de convênio entre prefeituras e PMs que reforça a repressão contra vendedores ambulantes. A iniciativa é apontada como fator de criminalização do trabalho informal e da presença imigrante em regiões centrais da capital paulista.
A nota da Frente Palestina São Paulo afirma: “Não podemos tolerar que a PM de SP assassine brutalmente um trabalhador. Fora Derrite! Pelo fim da Operação Delegada e das perseguições racistas e xenofóbicas contra ambulantes e imigrantes!”. O coletivo defende o fim da militarização das ações urbanas e o respeito à dignidade dos trabalhadores migrantes.
Ngagne Mbaye era pai e deixa uma companheira grávida de sete meses. A comunidade senegalesa em São Paulo organizou atos em sua memória e exige apuração do caso. Em protesto realizado no sábado (12), no Largo da Concórdia, houve confronto com a PM, que utilizou bombas de gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes.
Serviço
Ato – Justiça por Ngange Mbaye
Quando: 14 de abril (segunda-feira)
Horário: às 15h
Onde: Concentração na República, bairro de São Paulo