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Curta de cineasta pernambucana conta a história de uma bailarina com transtorno Borderline

O curta-metragem “As Vezes Que Não Estou Lá”, de Dandara de Morais, será exibido no Festival de Cine La Paz, na Bolívia; equipe de produção foi formada majoritariamente por mulheres negras 

Texto: Victor Lacerda I Edição: Lenne Ferreira I Imagem: Divulgação

Com estreia na Itália, filme de realizadora pernambucana entra para circuito na Bolívia

8 de setembro de 2021

A multiartista pernambucana, Dandara de Morais, retoma a jornada de participação de festivais após hiato devido à pandemia. Com o seu mais novo trabalho, o curta-metragem “As Vezes Que Não Estou Lá”, a realizadora emplacou um lançamento mundial no River Film Festival, na Itália, ainda em 2020, mas não pôde dar continuidade pelo cancelamento dos festivais diante da crise sanitária. Neste mês, o curta volta às telonas e telinhas com exibições no Festival Cine La Paz (Bolívia) e na Mostra Sesc de Cinema. 

“Acredito que o filme surgiu da percepção de que nunca tinha visto uma narrativa parecida nas telas e sempre quis ver. O curta também foi uma forma de conseguir atuar e trabalhar, diante de um cenário que, aqui no Recife, não rola tantas aberturas. Você tem que criar suas próprias oportunidades. Então, para mim, o filme reverbera em muitas sensações, de me sentir incapaz por muitas vezes, de não me sentir contemplada pelas obras audiovisuais que vejo, mas também de estar feliz de contar uma história e vê-la que está em circulação, com alcance”, dispara a realizadora, em conversa com a Alma Preta Jornalismo

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“As Vezes Que Não Estou Lá” conta a história da bailarina Rossana, que enxerga e vive o mundo através do Transtorno Borderline. Entre pliés, delírios dançantes e duros golpes de realidade, a artista busca o seu lugar no mundo. Filmado em 2019, o curta teve entre suas  locações O Teatro Santa Isabel, O  Studio de Dança e A Galeria Mau Mau. Com equipe formada majoritariamente por mulheres negras, o projeto contou com financiamento do Edital Funcultura Audiovisual de 2018. 

Depois da Itália, o curta-metragem ainda teve exibições em festivais importantes ao redor do mundo como “Esto Es Para Esto”, no México, “Cine Esquema Novo”, em Porto Alegre, e “Vues D’Afrique”, no Canadá. Em Pernambuco, o filme também foi selecionado para a o “Panorama Estadual do Sesc” e, com todos os protocolos de cuidade contra a COVID-19, será exibido de forma presencial em Recife e em outros municípios do estado, como Jaboatão dos Guararapes, Caruaru, Arcoverde, Garanhuns, Triunfo e Petrolina.  Na última semana, mais três mostras confirmaram o curta em suas programações, são eles: Olhar de Cinema, em Curitiba, e Circuito Penedo, em Alagoas. 

Para Dandara, é gratificante o reconhecimento nos festivais em que o curta integrou a programação, mas desabafa sobre as dificuldades de estrutura e recursos que profissionais negros tem dentro do audiovisual. “É sensacional vê-lo em circulação e tendo esse alcance, mas desde que ele foi finalizado, durante a pandemia, as dificuldades, para além da edição, que eu mesma realizei, foi o de não ter verba ou estrutura para distribuir para exibição. Tive que criar uma estratégia de escrever para os festivais falando da situação, me apresentando enquanto multiartista e explicando a narrativa do filme. As tentativas foram muitas, os “nãos também”, mas, aos poucos, ele vai ganhando alcance e mais e mais vão acompanhando uma história feita por uma pessoa preta”, pontua. 

Com trabalhos confessionais, que investigam as relações da mulher negra com o mundo, explorando dança, escrita e música, a realizadora segue, atualmente, trabalhando como atriz, bailarina, diretora, escritora, montadora e roteirista nas mais variadas manifestações artísticas. Diante da pandemia, Dandara afirma que tem expectativa de participação em mais festivais, retratando de saúde mental em tom de fábula e vendo corpos negros ocupando espaços dentro do audiovisual, frente e fora às câmeras.

“Nós estamos cansados de filmes estereotipados sobre a população negra e acredito que esse trabalho rompe com isso. Quero que as pessoas assistam e, mais do que nunca, que eu possa acessar esses espaços, estabelecer rede de trocas com outras pessoas negras, por saber o quanto isso é importante dentro do meio que produzimos. Quero falar sobre como foi a produção, como fiz, o que me fez formar a personagem,  falar sobre mim, o que acredito através do filme”, finaliza.

Para maiores informações sobre datas e horários de exibição de “As Vezes Que Não Estou Lá”, acompanhe através do link

Confira o trailer:

Leia também: Linguagem acadêmica de editais dificulta acesso de artistas da periferia a recursos públicos

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