A vasta obra e as diversas atividades culturais de Carolina Maria de Jesus são o foco da exposição promovida pelo Instituto Moreira Salles, em São Paulo, fruto de uma delicada e ampla pesquisa de dois anos feita pelo antropólogo Hélio Menezes e pela historiadora Raquel Barreto, curadores da exposição.
Com cerca de 300 itens, a exposição Carolina Maria de Jesus – Um Brasil para os Brasileiros será aberta para o público a partir do dia 25 de setembro, com entrada gratuita até o dia 30 de janeiro de 2022. O agendamento deve ser feito neste link.
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“Me mudei para São Paulo em 2005 e conheci a obra de Carolina por meio de visitas ao museu AfroBrasil, no parque do Ibirapuera. Mas continuo encontrando outras Carolinas e sua diversidade através das minhas pesquisas para essa exposição. Foram lidas por Raquel e eu cerca de seis mil páginas de manuscritos inéditos da autora”, afirma Hélio Menezes à Alma Preta Jornalismo.
Carolina foi muito mais que uma escritora favelada e a amplitude desta exposição dá uma correta dimensão do talento da cronista, da intelectual, da poeta, da compositora e da letrista. Os curadores tiveram acesso a muito material inédito, como manuscritos cedidos pela família de Carolina Maria de Jesus.
“Essa exposição é sobre a escritora e a grande diversidade de linguagens pelas quais ela transitou. Ela fez crônicas, contos, poesias, peças de teatro e letras de música”, diz Hélio.
O disco Quarto de Despejo foi lançado por Carolina com canções autorais, em 1961, um ano após o lançamento do livro que reuniu seus diários. “Ela era dona de uma bela voz. Tocava violão e ensinou os filhos a tocar também”, afirma o curador. O álbum com 12 faixas, que faz parte do acervo do IMS, é considerado raro pelos especialistas e também será exibido na mostra.
Conhecer mais a fundo a trajetória de Carolina Maria de Jesus traz conteúdo para uma análise mais crítica sobre os dias atuais, na visão da curadora Raquel Barreto. “A obra de Carolina é atual porque é um clássico, e os clássicos são sempre atuais. Há o fato, no entanto, da situação de profunda precariedade que a população negra passa hoje, que se assemelha muito ao que Carolina descreveu no Quarto de despejo”, considera.
Dividida em 13 núcleos temáticos, a exposição ocupa o 8º e o 9º andar do IMS Paulista, com obras presentes também no 5º andar e no térreo. Inclui também obras de cerca de 60 artistas, que dialogam com os temas investigados por Carolina. Os curadores também contaram com o apoio de um conselho consultivo externo formado por 12 mulheres com atuações destacadas e reconhecidas em diversas áreas: Bel Santos Mayer, Denise Ferreira da Silva, Carmen Silva, Conceição Evaristo, Elisa Lucinda, Lúcia Xavier, Mãe Celina de Xangô, Paula Beatriz de Souza Cruz, Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva, Sueli Carneiro, Zezé Menezes e Zezé Motta.
“A obra de Carolina não impactou a minha tomada de consciência racial, mas me despertou para a urgência da reivindicação de que nós mulheres negras acessemos à palavra escrita, à criação de uma linguagem própria de enunciação, seja poética, artística, epistemológica ou política. Carolina desafiou as definições da ideia de quem podia ser escritor neste país. Ela me desafia a assumir lugares que não foram pensados para nós”, pontua Raquel Barreto.
A mostra apresenta as reflexões de Carolina de Jesus (1914-1977) ao longo de sua trajetória, da infância na cidade de Sacramento (MG), no contexto pós-abolição da escravatura, passando por sua chegada à capital paulista, pelo lançamento e pela repercussão de seus livros, até o fim de sua vida, em Parelheiros (SP).
A exposição também acontece do lado de fora do IMS com um painel gigante feito pela grafiteira Criola em um prédio na rua da Consolação que pode ser aprecidado do mirante que fica no 5º andar do MIS.
Serviço
IMS – Avenida Paulista, 2424. É preciso fazer agendamento prévio. Horários: Terça a sexta, das 12h às 19h; sábados, domingos e feriados (exceto feriados nas segundas), das 10h às 19h.