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Retorno das aulas presenciais gera insegurança em pais e professores

Nova etapa de flexibilização em São Paulo permitiu a volta às aulas com 100% dos alunos; comunidade escolar teme pelo aumento do número de casos de Covid-19 em razão do despreparo das escolas para seguir os protocolos de segurança

Texto: Letícia Fialho | Edição: Nadine Nascimento | Imagem: Reprodução 

 

Retorno das aulas

4 de agosto de 2021

Com a nova etapa de flexibilização do Plano São Paulo, nesta semana a rede pública e privada de ensino passou a receber 100% dos alunos, mesmo sem a imunização completa dos professores. A decisão do governo Dória, em um momento que o país ainda registra uma média móvel de quase mil mortes diárias, gera insegurança em toda a comunidade escolar. 

“Desde o começo da pandemia eu já tinha em mente que eu não a colocaria em risco. Porque mesmo a criança sendo assintomática, poderia transmitir o vírus para as pessoas de casa. A prioridade foi a saúde de todo mundo aqui. Mesmo sabendo da dificuldade que ela tem, prefiro não mandar para escola, porque sei que ainda não estamos seguros” relata Vanessa Silveira, tia de Dandara, de 12 anos, estudante do Ensino Fundamental II. “A escola não tem um preparo para lidar com a questão emocional das crianças, principalmente das crianças pretas”, complementa.

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Segundo a Secretaria de Educação do estado, 1.251 das 5.130 escolas estaduais de São Paulo estão aptas a receber 100% dos estudantes, representando 24,39 % do total. As demais unidades vão funcionar em esquema de revezamento, em alguns casos com 50% dos alunos e, em outros, acima disto. O retorno presencial ainda não é obrigatório.

Em fevereiro deste ano, houve uma primeira tentativa de retorno das aulas em São Paulo. Porém, devido ao agravamento da pandemia, elas foram suspensas novamente em março. Durante o curto período, a Secretaria de Educação confirmou 4.084 casos de Covid-19, além de 24.345 suspeitas e 19 óbitos. 

“Para mim, a volta às aulas está sendo uma experiência complicada. A sensação é que, pelo fato de sermos governados por negacionistas, nós estamos sendo jogados para a morte. Para uma espécie de jogo mortal, no qual sobrevive quem tiver sorte. Complicado sair todos os dias para trabalhar sabendo que você pode se infectar e infectar outras pessoas”, relata Vinicius Souza, professor de História e apresentador do podcast 20 de Novembro. 

Até o momento, 96% dos profissionais da educação das redes pública e privada do estado receberam ao menos a primeira dose da vacina contra Covid-19 e 35% estão totalmente imunizados.

Em justificativa das novas mudanças, o governo anexou ao decreto de flexibilização uma nota técnica, assinada pelo Coordenador do Centro de Contingência do Coronavírus, Paulo Menezes, em que o médico levanta uma estimativa de que mais de 5 milhões de crianças e adolescentes brasileiros não tiveram acesso à educação durante a pandemia. 

Após a publicação do decreto publicado em julho no Diário Oficial do Estado, cerca de 90 entidades se manifestaram a favor do ensino híbrido e do distanciamento social. Além de reivindicar que as redes de ensino ofereçam condições de acesso para continuidade das aulas remotas enquanto não houver condições sanitárias e controle completo do vírus por meio da vacinação. 

“É como se fossemos para uma guerra todos os dias, em um cenário de ascensão do neoliberalismo, de sucateamento do serviço público, incluindo a educação, a gente ainda tem que se virar para garantir que nossos alunos tenham acesso básico à educação”, afirma Vinicius. 

Outra preocupação entre pais e professores é em relação ao despreparo das escolas em receber as crianças e adolescentes, que por conta da pandemia tiveram sua saúde mental afetada. 

“O medo e o luto se fazem presentes no ambiente escolar também. Os alunos sabem o que está acontecendo. E eles tem uma forma própria de experienciar isso, cada qual na sua subjetividade que é também muito doída. E a escola não tem como fazer esse tipo de acolhimento, porque a escola também está passando por um luto. Essas aulas presenciais de forma forçada tendem a fortalecer ainda mais esse luto que pode ficar em um nível consciente ou inconsciente”, acredita o professor. 

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