Foi por meio da arte da animação que os baianos da cidade de Feira de Santana, Antônio Silva e Michel Nery, encontraram uma forma de humanizar e retratar a história de uma das representantes da Independência da Bahia: Maria Quitéria, a primeira mulher a integrar o Exército Brasileiro e expulsar os portugueses que resistiam deixar o Brasil. O curta-metragem “Maria Quitéria: Honra e Glória”, ilustra a infância e transformação da heroína, que burlou os padrões da sociedade do século XIX ao adotar uma identidade masculina para defender a emancipação do povo baiano e brasileiro.
Disponível no Youtube, o vídeo parte de uma cena de combate para narrar os primeiros passos da pequena Maria Quitéria de Jesus, que nasceu no sítio do Licurizeiro, em São José das Itapororocas, local que atualmente é o município de Feira de Santana, região Metropolitana de Salvador. Dividido em quatro partes e com 13 minutos de duração, a produção faz uma releitura visual lúdica dos primeiros passos da heroína até o seu envolvimento no combate às tropas portuguesas.
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Em entrevista à Alma Preta, os animadores Antônio e Michel disseram que nunca haviam tido contato com a biografia da combatente. Foi só após produzirem o quadrinho “Maria Quitéria: A injustiçada”, de Eduardo Krushewsky, que eles passaram a mergulhar em fatos importantes da trajetória da heroína, como a fatídica perda da mãe aos 10 anos.
“Quando fizemos o quadrinho, a única coisa que eu sabia era de uma mulher que tinha se vestido de soldado e tinha ido à guerra. Era só isso que eu conhecia. Quando a gente começou a fazer o roteiro do quadrinho, eu comecei a ver vários pontos da história que me deixaram em dúvida: o chamado dela para ir a guerra, o pessoal do Exército achar que ela era um homem… Tudo isso isso me trouxe essas dúvidas. Quando a gente decidiu fazer a animação, decidimos responder, de certa forma, essas dúvidas”, contou Antônio Silva, roteirista e diretor do curta.
Para Michel Nery, responsável pela produção e animação do curta, a animação foi uma forma que eles encontraram de levar fatos históricos da Bahia não só para o público infantil e jovem, mas para todas as pessoas, que assim como eles, desconheciam a revolucionária.
“A gente tem muita história boa regional, a exemplo de Maria Quitéria, só que as crianças e jovens não estão parando para poder prestar atenção na história de um jeito que chama atenção. O que a animação faz é trazer para essas pessoas, para os jovens principalmente, aquilo que eles gostam, só que trazendo a informação de um jeito que eles se interessam”.
Antônio também destaca a importância de exaltar os heróis e heroínas da história brasileira como forma de fortalecer a cultura local. “Por ser uma heroína e por ter tantos atos heróicos, a maioria das pessoas acham que ela faleceu com honrarias e tudo mais. Mas as pessoas não fazem ideia de como ela findou”, pontua o diretor sobre o reconhecimento tardio de Maria Quitéria, que só foi feito cem anos após a sua morte anônima, em 1853.
O lançamento da primeira parte de “Maria Quitéria: Honra e Glória” aconteceu em julho do ano passado. Agora, os animadores do Fire Studio Animation lançaram um financiamento coletivo e buscam apoio para lançar a segunda parte, que vai mostrar a conturbada relação de Maria Quitéria com a madrasta até a saída de casa e a decisão de se alistar.
“A gente tem como missão contar essas histórias e tem a esperança de que as pessoas vejam a campanha. Além de contar a história, a gente quer inspirar. A gente precisa de figuras inspiradoras e Maria Quitéria é um exemplo gigante para se inspirar. O que falta é que as pessoas conheçam essa história e é o que a gente está tentando fazer”, pontua Antônio.
Diante dos percalços financeiros, Antônio e Michel avaliam, como profissionais de animação na Bahia, que o reconhecimento do público é necessário para estimular a produção de novos conteúdos e inspirar outros produtores. Para o futuro, eles têm a intenção de produzir uma animação sobre Castro Alves e uma websérie com uma nova roupagem sobre os contos folclóricos.
“A gente só tem a pretensão de fazer com que as pessoas busquem essas figuras, que pesquisem, que torne isso um gatilho para que outras pessoas possam criar conteúdos a respeito delas”, completa Antônio.
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