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Aprovada na Bahia, Lei Moa do Katendê é comemorada por capoeiristas

Conhecido pela sua arte política, Moa do Katendê faz parte do fortalecimento da capoeira na Bahia, no Brasil e mundo afora e seu ativismo está enraizado nos batuques e sons que reverberam nos berimbaus até os dias atuais

Texto: Dindara Ribeiro | Edição: Lenne Ferreira | Foto: Divulgação/Samba do Sol/Studio Vikings

MOA-DO-KATENDE

8 de julho de 2021

Conhecido pela sua arte política, Moa do Katendê faz parte do fortalecimento da capoeira na Bahia, no Brasil e mundo afora. O seu ativismo está enraizado nos batuques e sons que reverberam nos berimbaus até os dias atuais. Mestre Moa sabia que a sua voz era semente e que a luta traria bons frutos. Sua morte precoce, em 2018, anunciava o desastroso cenário político que se aproximava no Brasil. O mestre foi morto com 12 facadas após uma discussão com um eleitor de Bolsonaro. O criminoso foi condenado a 22 anos de prisão. Mas, para a família de Moa, a sentença maior que fica é a saudade de um dos maiores difusores da capoeira como instrumento de luta contra o racismo e opressões religiosas.

O legado de Moa na capoeira se transformou em um Projeto de Lei estadual, de número 23.281/2019, que foi aprovado na quarta-feira (7) pela Assembleia Legislativa da Bahia. O texto tramitava na Casa Legislativa desde 2019 e dentre as propostas estão: reconhecimento da capoeira como atividade educativa, cultural e de esporte de participação; salvaguardar e incentivar a roda e o ofício dos mestres tradicionais da capoeira através de medidas de apoio para formação e intercâmbio nacionais e internacionais do profissionais; incentivo à inclusão do ensino da capoeira no currículo escolar; apoio a pesquisas, estudos, mapeamento e difusão de conhecimento; apoio para realização de eventos; apoio para produção e divulgação de materiais literários e audiovisuais; entre outros.

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Autora do projeto, a deputada Olívia Santana (PCdoB) comemorou a vitória do projeto que homenageia o mestre: “O projeto Moa do Catendê, que acaba de ser aprovado, é mais um compromisso que assumi com meu povo da Capoeira, que luta por reconhecimento, direitos e dignidade!”.

O projeto foi consagrado junto com a entidade Capoeira em Movimento da Bahia (CMB) e salvaguarda a capoeira no Estado. Para o coordenador do CMB, Jacaré Di Alabama (Jurandir Júnior), a aprovação do projeto foi só o primeiro passo para reconhecer a importância da capoeira para a história do estado.

“Isso é o início de um processo de luta que vai muito mais além do que a aprovação do projeto de lei. Mas sim, a efetivação de toda a dimensão que esse projeto representa: da salvaguarda da capoeira, da construção efetiva de medidas que possam tirar a capoeira dessa triste realidade, que é o processo de marginalização que vem desde a escravidão””, diz o coordenador sobre o projeto, que ainda precisa ser sancionado pelo governador da Bahia, Rui Costa (PT).

A figura de Moa sempre foi plural: foi mestre, ativista, educador, percussionista, compositor, educador e artesão. Foi nas ruas do Dique Pequeno, no bairro do Engenho Velho de Brotas, em Salvador, que Romualdo Rosário da Costa começou a sua história com a capoeira. Com a mentoria do Mestre Bobó, Moa deu seguimento ao legado da capoeira afro-brasileira.

Descrito como uma pessoa serena e pacífica, Moa expandiu a sua fome de arte e se envolveu com a dança afro durante os anos 70 como integrante do grupo Viva Brasil, da pesquisadora e etnomusicóloga Emília Biancardi. O mestre também era compositor. Escreveu sucessos para o bloco Ilê Aiyê, maior bloco afro da Bahia, como “Levante de Sabres Africanos” e “Badauê”, que anos depois foi regravada pelo cantor Caetano Veloso.

A música, inclusive, foi nome dado ao bloco de afoxé criado pelo mestre, em 1978, que espalhava pelas ruas soteropolitanas os sons do Ijexá, ritmo que faz parte das manifestações religiosas de matriz africana.

Legado cultural

Sobre o legado de Moa, Jacaré DiAlabama destaca: “O exemplo de resistência que marcou toda a vida do Mestre Moa. Inclusive, ele foi morto nesse processo de resistência contra um crime de ódio, defendendo a democracia, lutando para que não chegasse na situação que estamos hoje, que foi eleger um presidente da República com essas características neofascistas que hoje gera mais de meio milhão de mortos no Brasil e uma crise de valores na nossa sociedade […] Mestre Moa deixa esse ensinamento que é preciso lutar. E é possível construir vitórias na luta. Uma mensagem de união, de congregação. E esse é um dos maiores desafios do povo baiano e do povo brasileiro”, completa.

“Só um milagre humano anulará tantos projetos medonhos que matam e escravizam a sociedade e apagam nossos sonhos. Quem vai quebrar a máquina do mal?” (Moa do Katendê)

  • Dindara Paz

    Baiana, jornalista e graduanda no bacharelado em Estudos de Gênero e Diversidade (UFBA). Me interesso por temáticas raciais, de gênero, justiça, comportamento e curiosidades. Curto séries documentais, livros de 'true crime' e música.

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