O líder da oposição moçambicana, Venâncio Mondlane, retornou ao país nesta quinta-feira (9), após mais de dois meses de exílio, para buscar diálogo com o governo sobre os resultados das eleições presidenciais de 9 de outubro, contestados por ele e por observadores internacionais.
A votação garantiu 65% dos votos a Daniel Chapo, do partido Frelimo, que está no poder há 50 anos, enquanto Mondlane ficou com 24%, segundo o Conselho Constitucional.
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Mondlane, um parlamentar de 50 anos e ex-apresentador de rádio com grande apelo entre os jovens, acusou o governo de fraude eleitoral e pediu que seus apoiadores o recebessem no aeroporto. Entretanto, a polícia bloqueou o acesso ao terminal, provocando confrontos.
Onda de violência incitada pelas eleições
A disputa eleitoral mergulhou Moçambique em uma onda de violência que já resultou na morte de cerca de 300 manifestantes, de acordo com uma ONG local. As forças de segurança foram acusadas de usar força excessiva, incluindo disparos com munição letal contra os manifestantes.
O governo, por sua vez, relatou o assassinato de policiais, além de episódios de saques e vandalismo que afetaram a economia nacional, interrompendo o comércio transfronteiriço, a mineração e a indústria.
Acusado de incitar a violência, Mondlane corre risco de prisão, mas declarou estar preparado para enfrentar a Justiça. “Estou preparado para me submeter à Justiça, para me defender (…) e para mostrar quem são os verdadeiros culpados dos crimes“, afirmou no aeroporto.
Mondlane em exílio e diálogo com lideranças políticas
Durante seu período fora do país, Mondlane manteve contato frequente com seus apoiadores por meio das redes sociais, incentivando protestos contra os resultados eleitorais. Sua volta ocorre em um momento delicado, a poucos dias da posse dos deputados e do novo presidente. Analistas alertam que qualquer ação governamental contra Mondlane, como sua prisão, pode desencadear novos protestos e aumentar a instabilidade no país.
Eric Morier-Genoud, professor de história africana na Queen’s University Belfast, destacou que a prisão de Mondlane poderia gerar uma reação internacional e manifestações perigosas. Por outro lado, sua liberdade pode enfraquecer o partido Frelimo. “O retorno de Mondlane pode tanto desestabilizar quanto resolver a atual crise política“, afirmou à Agence France-Presse Tendai Mbanje, do Centro Africano de Governança, em Joanesburgo.
Nesta quinta-feira (9), Chapo e o presidente em fim de mandato, Filipe Nyusi, reuniram-se com líderes de partidos da oposição, incluindo o Podemos, que apoiou Mondlane nas eleições. No entanto, Chapo afirmou que o diálogo, por enquanto, é reservado a líderes de partidos políticos, podendo ser ampliado no futuro.
Mondlane, visto como uma figura de esperança para a juventude moçambicana, também reiterou sua disposição para negociar com o governo. “Estou aqui em carne e osso para dizer que, se querem negociar, estou disponível”, disse.