Evento, articulado de maneira autônoma por uma série de ativistas do movimento negro, tem festival de música neste sábado, na Cidade Tiradentes.
Texto / Pedro Borges
Foto / Ponte Jornalismo
Debates sobre masculinidade negra, comunicação, encarceramento, política de drogas, redução de danos e um festival de música encerram a campanha de 30 dias por Rafael Braga. A proposta, lançada no dia 1 de Junho, promoveu mais de 50 atividades em todas as regiões de São Paulo, e em outras 14 cidades e 5 diferentes estados do país.
O objetivo da campanha de Rafael Braga, jovem negro preso no início do ano acusado de tráfico de drogas, é o de visibilizar o caso nas redes sociais, na opinião pública e nas diferentes regiões do Brasil.
Para Suzane Jardim, historiadora e uma das articuladoras da campanha, Rafael Braga, assim como outros casos de violência do Estado contra a comunidade negra, a exemplo de Luana Barbosa e João Victor, representa as táticas adotadas pela sociedade para atacar negras e negros.
A partir de Rafael Braga, os organizadores da campanha adotaram a estratégia do diálogo durante as atividades, como modelo e forma de combater a violência social contra negros e periféricos. “Acreditamos que sem esse processo de fala e escuta com a população, sem a promoção de chances para que possam tirar suas dúvidas e conversar sobre esses temas que muitas vezes são presentes em seus cotidianos, a revolta generalizada e a mudança permanecerão distantes”, explica Suzane.
A luta continua
Mesmo com o fim próximo dos eventos oficiais da campanha, Suzane Jardim ressalta a importância dos encontros programados para essa semana. No dia 26 de Junho teve início o seminário “As múltiplas faces da política de drogas em SP”, momento articulado por diversas entidades dos direitos humanos e que debatem o tema a partir das perspectivas de gênero, raça e classe.
Outro destaque da semana é a participação de Luiza Sansão, da Ponte Jornalismo, profissional responsável por cobrir o caso de Rafael Braga, e Bruno Paes Manso, um dos fundadores da Ponte Jornalismo, na palestra desta terça-feira, dia 27 de Junho, na Ação Educativa. As demais atividades discutem a masculinidade do homem negro, encarceramento e violência policial.
No sábado, ocorre o festival de encerramento, das 14h às 21h30, no Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes, 6900. As atrações, ainda não divulgadas, serão publicadas na página da campanha.
Avaliação da Campanha
A avaliação da campanha é múltipla, define Suzane Jardim, quando perguntada sobre o balanço do projeto. A grande diversidade de espaços ocupados, como centros culturais periféricos e universidades conservadoras como o Mackenzie, justificam o retorno distinto em cada ambiente.
Apesar das diferenças de cada local, o pouco conhecimento sobre o caso Rafael Braga e a dificuldade de se discutir no Brasil temas como genocídio negro, encarceramento e tráfico de drogas, foram barreiras enfrentadas pela organização.
Para Suzane Jardim, esses entraves fazem parte do processo e é preciso de muito mais diálogo para se superar esses desafios. “Creio que até o momento as ações foram importantes e trouxeram ótimos frutos, mas que são o que chamamos de ‘trabalho de formiguinha’. É preciso que muito mais seja feito, e que se vise sempre a construção coletiva e não o ganho de pontos partidários ou pessoais”.
Manifestantes em ato pela liberdade de Rafael Braga em São Paulo (Foto: Pedro Borges/Alma Preta)
O caso de Rafael Braga
No dia 20 de Abril, quinta-feira, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro emitiu sentença que responsabiliza Rafael Braga por tráfico e associação para o tráfico de drogas. O juiz Ricardo Coronha Pinheiro condenou o ex-catador de latas a 11 anos e três meses de prisão e multa de R$ 1.687.
A medida é mais um capítulo na história de Rafael Braga com o judiciário brasileiro. A primeira ação do Estado contra ele aconteceu durante as manifestações de junho de 2013. Na época, milhares de pessoas ocuparam as ruas das grandes cidades brasileiras, primeiro em protesto contra o aumento das passagens de ônibus e a repressão policial, e depois contra uma série de demandas sociais. Nesse contexto, Rafael foi o único preso, acusado de carregar material explosivo, quando em sua mochila foram encontrados dois frascos lacrados de produtos de limpeza.
Em 12 de Janeiro de 2016, Rafael cumpria sua pena em regime aberto, quando caminhava com uma tornozeleira eletrônica da casa de sua mãe para uma padaria na Vila Cruzeiro, zona norte do Rio de Janeiro, e foi abordado por policiais. Eles alegaram ter encontrado com Rafael 0,6 g de maconha, 9,3 g de cocaína e um rojão. O jovem nega ser o responsável pelas drogas e afirma ter sido ameaçado pelos policiais, que queriam que Rafael anunciasse quem seriam os traficantes da região. De acordo com o jovem negro, os policiais teriam dito que “jogariam arma e droga na conta dele”.
O juiz responsável ouviu cinco testemunhas de acusação e uma de defesa. Ela disse ter visto o jovem ser abordado pelos policiais, sem qualquer objeto em mãos. Rafael depois foi agredido e arrastado para um ponto distante da visão da vizinha. O juiz não levou em consideração o depoimento de defesa.
Serviço:
O que: As múltiplas faces da política de drogas em SP
Quando: 26 de Junho, segunda-feira, a partir das 9h, até o dia 29 de Junho, quinta-feira.
Onde: Diferentes locais do centro de São Paulo
Organização: Evento organizado pelo IBCCRIM, Plataforma Brasileira de Política de Drogas (PBPD), Instituto Terra, Trabalho e Cidadania (ITTC), Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas (INNPD), Campanha de 30 Dias por Rafael Braga, Centro de Convivência É de Lei, Fórum Intersetorial de Drogas e Direitos Humanos.
Resumo: Em meio às ações policiais na Cracolândia, diversas organizações do campo dos direitos humanos organizam uma série de debates sobre os muitos problemas relacionados a política de drogas. Alguns dos temas a serem abordados são encarceramento, letalidade policial, redução de danos, reflexões estabelecidas a partir das perspectivas de raça, gênero e classe.
O que: Jornalismo, Encarceramento e Racismo: problemas e desafios
Convidados: Bruno Paes Manso, jornalista e pesquisador no Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo, um dos fundadores da Ponte Jornalismo; Norma Odara Fes: jornalista formada pelo Mackenzie e repórter no Brasil de Fato; Luiza Sansão: jornalista da Ponte Jornalismo, repórter responsável pela cobertura do caso de Rafael Braga Vieira no Rio de Janeiro; Jéssica Moreira: jornalista cofundadora do coletivo Nós, mulheres da periferia, correspondente da Agência Mural de Jornalismo das Periferias e atua como articuladora e mobilizadora de projetos e movimentos sociais ligados à imigração e cultura.
Quando: Dia 27 de Junho, terça-feira, das 19h às 22h
Onde: Ação Educativa, Rua General Jardim, 660
O que: 30 dias por Rafael Braga – Unesp Bauru
Convidados: Cine-debate sobre o documentário “13° Emenda”, seguido de uma roda de conversa.
Quando: 28 de Junho, quarta-feira, das 16h às 22h
Onde: Bosque, Unesp Bauru
O que: Roda de conversa – Masculinidade negra e os presídios: qual é a fita?
Convidados: Tiago Xis, artista; Igor Gomes, Membro da campanha 30 Dias Por Rafael Braga; Renato Kolla, morador da Brasilândia, poeta, rapper do grupo Raiz Criola; Eric Augusto, estudante de ciências sociais na UNIFESP Guarulhos; Ezio Rosa, arte educador social, criador do Bicha Nagô – Um Sarará Cismado, onde escreve sobre sobre masculinidades, afrohomossexualidade e classe; João Henrique Machado, Militante transnegro da Rede TransBrasil, estudante de produção audiovisual.
Quando: 28 de Junho, quarta-feira, das 19h30 às 21h45
Onde: Mora Mundo, Rua Barra Funda, 391
O que: Cinegro 2° Edição – Exibição do Documentário 13° Emenda e discussão “Racismo e seletividade penal”
Convidados: Roda aberta de diálogo
Quando: 29 de Junho, quinta-feira, das 18h às 21h
Onde: Centro Cultural Palace, 322, Ribeirão Preto
O que: Festival de Encerramento 30 Dias por Rafael Braga
Atrações: A confirmar
Quando: 1 de Julho, Sábado, das 14h às 21h30
Onde: Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes, 6900