Ocupação existe há 10 anos e está ameaçada pelo projeto de João Dória e Geraldo Alckimin para a região da Luz. Para um dos organizadores do Festival, assim como ocorre na Cracolândia, ação visa retirar a população pobre do centro da cidade.
Texto / Pedro Borges
Imagem / #Cinekordel
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Música, grafite, poesia, fotografia e teatro. É o que prometem os organizadores da Ocupação Mauá para o Festival de Cultura deste sábado, 24 de Junho, das 15h às 22h na Rua Mauá, 340, próximo ao metrô da Luz. Entre os convidados, estão os cantores Fióti, Crônica Mendes, os poetas Tubarão DuLixo e Adriana Nunes, e os atores do grupo Companhia Os Crespos e Teatro do Engenho.
O evento é uma resposta ao pedido de reintegração de posse do Juiz da 26° Vara, Carlos Eduardo Borges Fantacini. De acordo com o escrito, a ação de despejo das famílias pode acontecer a qualquer momento.
O prédio, abandonado por quase 20 anos, tem dívidas acumuladas de R$ 2,8 milhões junto ao poder público. Parado, o espaço foi ocupado em 2007, e desde então é a moradia de 230 famílias e mais de 180 crianças.
Com a chegada dos moradores, todo lixo e entulho foram retirados do local, o sistema de luz e água foram reativados, a parte externa e alguns andares foram pintados, e câmeras e um portão eletrônico foram instalados para a segurança das pessoas. No primeiro andar, há um mercado que abastece a Ocupação com mantimentos, e há uma profissional na portaria para o controle da entrada e saída de pessoas.
Marcos Batata, um dos responsáveis pela parte de educação e cultura do espaço, acredita que o pedido de despejo faz parte do projeto da prefeitura e do estado de São Paulo de entregar a cidade à iniciativa privada.
“O Dória é um cara que está vendendo o município inteiro para todo mundo. O projeto dele para o centro é o de tirar todos os pobres de forma truculenta. Ele quer retomar na prática e de maneira mais agressiva o projeto Nova Luz do ex-prefeito Gilberto Kassab”, explica Marcos Batata.
Desde o dia 21 de Maio, a prefeitura e o governo do estado de São Paulo orquestram ações policiais na Cracolândia. Durante as operações, o prefeito da cidade chegou a anunciar o fim da cena de uso de drogas na região, o que não se concretizou.
Crianças brincam em frente à Ocupação Mauá (Foto: #Cinekordel)
Para Marcos Batata, as ações na Cracolândia e o pedido de reintegração de posse fazem parte do mesmo projeto, o de retirar os pobres do centro da cidade. “Não há dúvidas de que há uma política de higienização, de exclusão dos pobres e de massacre. Dória e Alckimin vendem a cidade de forma agressiva e para vender, eles estão ‘limpando antes’”.
Para a organização do evento, foi designado um coletivo de moradores, o “Bonde-X”, que ficou responsável por arquitetar as atividades do festival. Marcos, um dos integrantes do grupo, acredita que a melhor resposta à truculência do Estado e da força policial é a cultura.
“Arte, educação e literatura são algumas das formas que a gente encontra como analgésico desse tipo de agressão que a gente sofre. São muitos casos diários de agressão da prefeitura, do estado, do capital nas ocupações. Para não enlouquecer, a gente traz muita literatura, arte, e as crianças gostam de ver”, afirma Marcos Batata.