O objetivo das formações é desmistificar termos da criminologia e sociologia, que permanecem majoritariamente centradas na academia e entre o público especializado, que produz pouco conteúdo voltado ao público leigo
Texto / Divulgação
Imagem / Flavia Mesquita
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Os cursos “Limites e sentidos da ‘liberdade negra’ mediante a Lei” e “Controle e O Corpo Negro diante da Lei e do Controle Penal” estão com inscrições abertas pela internet. Eles ocorrerão em São Paulo no mês de outubro e serão ministrados por Suzane Jardim, pesquisadora em dinâmicas raciais, criminologia e questão de drogas no Brasil e Estados Unidos. O objetivo é estudar termos criminológicos e sociológicos, como ecologia humana, paradigma etiológico, teoria das janelas quebradas, etiquetamento, instituições totais, bio e necropolítica, assim como suas construções afetam o pensamento sobre a questão do crime e como tais formulações reverberam no cotidiano do povo negro.
O estereótipo de que pessoas negras são potenciais criminosos existe e tem efeitos materiais. Hoje a maioria da população encarcerada e as principais vítimas de uma guerra que vêm ceifando a vida de milhares de jovens nas periferias são negros.
As concepções históricas sobre liberdade, direitos e sobre o próprio rótulo de criminoso nos ajudam a perceber como a marginalização e subalternidade dos corpos negros foram elaboradas e mantidas também pelo direito penal e pela punição – aplicada em nossa sociedade majoritariamente na forma da pena de prisão.
Compreender um pouco sobre como esses pensamentos ideológicos se constroem pode contribuir para uma crítica mais refinada e especializada ao racismo que nos cerca, ao cárcere enquanto instituição de controle e a racionalidade moderna como um todo, assim como pode, principalmente, fortalecer novas estratégias coletivas de cuidado e de cobrança para que se tenha amplo acesso à dados e informações sobre como funcionam hoje as nossas instituições punitivas.
As aulas têm fim de introdução às questões criminológicas e suas ligações com a questão racial e de classe. Os cursos pretendem colaborar para as discussões sobre raça e racismo partindo da análise das concepções históricas sobre crime, criminoso, vítima e liberdade. Por meio de uma abordagem cronológica e deixando de lado a linguagem formalista e inacessível, pensaremos juntos a evolução de alguns conceitos já clássicos da criminologia a partir de suas formulações e aplicações no Brasil e Estados Unidos em uma trajetória onde a discussão racial será ponto de partida e chegada.
O objetivo maior das formações – que terão suas duas primeiras edições pagas, em uma iniciativa que busca viabilizar a futura aplicação da mesma formação gratuitamente em espaços periféricos, entre os jovens que de fato são os mais marcados pelo alvo criminal – é o de popularizar conceitos e teorias criminológicas de modo a formar sujeitos aptos a pensar os fenômenos do encarceramento, crime e guerra às drogas de maneira crítica e sob a luz da história negra na diáspora.
Serviço
Limites e sentidos da “liberdade negra” mediante a Lei e o Controle
Centro de Pesquisa e Formação do SESC São Paulo
Rua Dr. Plínio Barreto, 285 – 4º andar – Bela Vista – São Paulo.
De 02/10/2018 a 23/10/2018 (6 encontros – carga horária: 18h)
Terças e Quintas, 10h às 13h (exceto dia 18/10)
Investimento: R$ 24,00 – credencial plena: trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo matriculado no Sesc e dependentes
R$ 40,00 – pessoa com mais de 60 anos, pessoa com deficiência, estudante e professor da rede pública com comprovante
R$ 80,00 – inteira
INSCRIÇÕES: podem ser feitas a partir de 26 de Setembro, às 14h, no site do Centro de Pesquisa e Formação ou nas Unidades do Sesc em São Paulo.
O Corpo Negro diante da Lei e do Controle Penal
Centro de Formação, Educação Popular, Cultura e Direitos Humanos – Ação Educativa
Rua General Jardim, 660, Vila Buarque – São Paulo
03/10, 10/10, 24/10 e 31/10 de 2018 (4 encontros – carga horária: 12h)
Quartas-feira, das 19h às 22h
Investimento: R$150,00 (pedidos de bolsa podem ser feitas aqui)
INSCRIÇÕES: Podem ser feitas no site do Centro de Formação – Ação Educativa
Sobre a professora
Suzane Jardim é historiadora formada pela Universidade de São Paulo e pesquisadora em dinâmicas raciais, criminologia e questão de drogas no Brasil e Estados Unidos. Foi articuladora e participante ativa das Ocupações Pretas na USP, assim como uma entre as diversas pessoas que se mobilizaram para a criação da campanha 30 Dias por Rafael Braga. É educadora e compôs atividades em diversas instituições como Instituto Tomie Ohtake, UNESP, Guri, Instituto Criar, SESC, ESPM e OAB – São Carlos, contribuiu com artigos e reportagens para veículos como o Le Monde Diplomatique Brasil, Nexo, Revista Cult e Carta Capital, e é uma das colaboradoras do livro “Tem Saída? Ensaios Críticos sobre o Brasil” onde escreveu sobre políticas de exceção presentes na ordem democrática e constantemente aplicadas à população negra e periférica.