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Exposição sobre o artista e intelectual Abdias Nascimento ocupa MASP

A mostra foi inaugurada nesta sexta-feira (25) e exibe a faceta artística do ativista brasileiro, além de enfatizar o repertório de ideias, cores e formas do movimento pan-africanista

Imagem mostra Abdias Nascimento discursando em peregrinação do Memorial Zumbi à Serra da Barriga em 20 de novembro de 1983.

Foto: Imagem: Acervo Ipeafro

24 de fevereiro de 2022

A exposição ‘Abdias Nascimento, um artista panamefricano’ foi inaugurada nesta sexta-feira (25) no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP) e exibe a faceta artística do intelectual, ativista político, dramaturgo, ator, escritor e diretor. O título parte do termo ‘Améfrica Ladina’, cunhado por Lélia Gonzalez (1935-1994), companheira de luta, interlocutora política e intelectual do artista, que formulou o conceito para se referir à experiência negra e dos povos originários na América Latina.

A exposição também enfatiza o repertório de ideias, cores e formas do movimento pan-africanista, com noções, fontes e imaginário amefricano, além de reunir 62 pinturas realizadas desde quando Abdias começou a pintar, em 1968, até o ano de 1998. A exibição das obras retoma conceitos formulados por Nascimento, como o quilombismo e a história dos povos escravizados nas Américas.

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Com curadoria de Amanda Carneiro e Tomás Toledo, a mostra é uma colaboração entre o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-brasileiro (Ipeafro), fundado por Abdias Nascimento, e o MASP.

Pintor aos 54 anos

Obras de Abdias Nascimento.

Obras de Abdias Nascimento | Crédito: Fernanda Rosário/ Alma Preta Jornalismo

O ano de 1968 marca o início da pintura de Abdias Nascimento (1914-2011) e sua partida para os Estados Unidos. Na época, o intelectual já era um nome consagrado no Brasil. Ele participou da Frente Negra Brasileira – movimento e depois partido político criado na década de 1930 – e da fundação do Teatro Experimental do Negro (TEN), que foi uma das mais radicais experiências de dramaturgia do país, nos anos 1940.

Abdias também realizou o concurso ‘Cristo de cor’, que contou com diversos artistas, como Djanira (1914-1979), para representar um Jesus negro em 1955 e, na mesma década, idealizou o Museu de Arte Negra, cujo acervo é referência nos debates sobre museus e comunidades.

Já seus trabalhos de artes visuais foram mais celebrados em solo estadunidense, onde realizou exposições em locais conceituados como o Studio Museum em Harlem, em Nova York, e no Malcolm X House, na Universidade Wesleyan.

Parte das pinturas da mostra no MASP apresenta ao público o trabalho de Nascimento com símbolos e bandeiras de projetos e identidades nacionais, ao lê-los a partir de uma perspectiva panafricanista e amefricanista. Os trabalhos Okê Oxóssi e Xangô, ambos de 1970, estabelecem paralelos entre representações do Brasil e dos Estados Unidos por meio de uma recomposição de símbolos nacionais.

Segundo Amanda Carneiro, curadora da exposição, “ao subverter o sentido das bandeiras, incorporando referências de matriz africana, questionam-se medidas de incorporação (ou seria retomada?) de signos culturais mais plurais, não exclusivamente alicerçados no eurocentrismo, repensando as comunidades imaginadas”.

‘Okê Oxóssi’ pode ser considerada um ponto de partida para a mostra individual de Abdias Nascimento no MASP. A pintura doada ao acervo do museu no âmbito da mostra ‘Histórias Afro-Atlânticas’ (2018) por Elisa Larkin Nascimento, cofundadora e atual presidente do Ipeafro, ganha agora novos significados no contexto expositivo dedicado a histórias brasileiras, em conjunção com a extensa produção do artista.

Abdias Nascimento pintou a obra quando se encontrava havia dois anos no exílio da ditadura militar. O trabalho ressignifica a bandeira nacional, então sequestrada por conservadores e militares. Na faixa da frase ‘ordem e progresso’ o artista escreveu ‘okê’, palavra de saudação a Oxóssi, orixá da caça e da cura pelas ervas. Nascimento introduziu o arco e a flecha do caçador em memória da luta dos negros e negras e dos povos orginários no Brasil. 

Catálogo

A mostra também será acompanhada por um catálogo com imagens das mais fundamentais obras do artista, incluindo todas as exibidas no museu, que será vendido no MASP. O catálogo foi organizado por Adriano Pedrosa e Amanda Carneiro.

O volume contém ensaios inéditos de Amanda Carneiro, Glaucea Helena de Britto, Kimberly Cleveland, Raphael Fonseca e Tulio Custódio e uma entrevista histórica com Elisa Larkin Nascimento conduzida por Tomás Toledo, além de republicar textos de Lélia Gonzalez e de Abdias Nascimento. Com design do estúdio Bloco Gráfico, será publicado em capa dura e em um único volume bilíngue, em inglês e português, a R$ 149.

Serviço

Abdias Nascimento, um artista pan-amefricano

Curadoria: Amanda Carneiro e Tomás Toledo

Visitação: de 25 de fevereiro até 05 de junho de 2022

Local: 1o subsolo (galeria e mezanino)

Endereço: MASP — Avenida Paulista, 1578 – Bela Vista 01310-200 São Paulo, SP

Horários: terça grátis, das 10h às 20h (entrada até as 19h); quarta a domingo, das 10h às 18h (entrada até as 17h); fechado às segundas

Ingressos: R$ 50 (entrada); R$ 25 (meia-entrada)

Agendamento online obrigatório por este link

Leia também: Abdias Nascimento questionou arte da Europa e reivindicou modernismo negro

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