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Negro, periférico e homossexual: Márcio Januário estreia peça que remonta surgimento das favelas

10 de novembro de 2017

Em novembro, ator, diretor e escritor apresenta a Flup, estreia espetáculo e se prepara para o primeiro romance.

Texto e imagem / Divulgação

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De volta ao Rio de Janeiro para ser o mestre de cerimônias da Festa Literária das Periferias, a Flup, entre os dias 10 e 15 de novembro, o escritor, ator, cantor e bailarino Márcio Janunário, que desde o início do ano vive em Algodões, na península de Maraú do Sul, na Bahia, anuncia também a estreia da peça “Tratado Nº 5” e a participação na antologia Je Suis Favela, que será lançada em 2018 na França.

“Eu fui morar no Vidigal, acompanhei a chega da UPP e agora vejo o morro como um complexo cultural. É fundamental uma iniciativa como a Flup, trabalhando com cultura e literatura neste momento e é talvez uma possibilidade de salvação, porque se não investirmos em cultura, educação e saúde, não vai dar certo”, falou.

A Festa Literária das Periferias deste ano acontece no Morro do Vidigal, no Rio de Janeiro, onde, desde 2012, o autor participou ativamente das atividades literárias e dirigiu o grupo de poesia Sarauseiros Oníricos, também conhecido como Sarau do Vidigal.

Para Márcio, a arte é uma extensão da própria vida e existência como ser humano, daí a ligação com diferentes expressões.
“Participo da Flup, desde a primeira edição, no começo meu interesse era a dramaturgia, mas durante o processo descobri que gostava de escrever contos com personagens marginais, assim a realidade de garotos de programa, travestis, gigolôs e pessoas que vivem à margem dos padrões sociais começaram a ganhar voz, corpo e vida. Em 2018 quero lançar um romance escrito na forma de mini contos com esses personagens degenerados, suas cicatrizes, belezas e acima de tudo força”, declarou.

Além do livro, Januário prepara-se também para lançar o conto “Dark Room”, que narra a trajetória de um homossexual isolado pela deformação causada pela utilização de silicone no rosto, fará parte da antologia Je suis encore favela, da editora Anacoana. O livro será lançado em Paris em março de 2018.

“Quero escrever, colocar no papel e no mundo o submundo que vivem os homossexuais, negros, favelados do Brasil. É meu estilo. Certa vez, o Julio Ludemir, que é o curador da Flup, me comparou ao Jean Genet, que é um dos meus autores prediletos, então, acho que estou no caminho certo”, destacou.

Teatro: entre o Rio de Janeiro, o mundo e a Bahia
Fundador da Cia. Completa Mente Solta de teatro, que teve início no Rio de Janeiro e agora tem uma sede com teatro escola na Bahia, Márcio Januário estreia, dia 20 o monólogo “Tratado Nº 5”, no Colégio Municipal Dr. Antenor Lemos, em Maraú, que versa sobre uma noite de carnaval do protagonista, um favelado, negro e homossexual, que conversa com D. Pedro II e remonta o surgimento das favelas e a trajetória dos negros no Brasil.

O monólogo que tem texto, roteiro e direção de Márcio Januário teve a primeira versão premiada na 5° Mostra de Teatro de Petrópolis, em novembro de 2006, e representou o Brasil no 1° Festival Lusófono de Teatro de Matosinhos em Portugal, em fevereiro de 2009. A peça já foi apresentada em diversos teatros, escolas, faculdades e seminários ligados aos direitos humanos, onde sempre acontecem debates após as apresentações e agora estreia na Bahia.

“A conversa é sobre a realidade na favela e no mundo ao redor dela, na era das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) e da opressão mascarada de liberdade de expressão. Esse anti-herói que tinha tudo para dar errado, deixa explícitos a construção e os motivos de sua fragilidade social, expondo criticamente situações que fazem parte da vida destas pessoas marginalizadas socialmente, ou seja, os negros, pobres, moradores de favela e membros da comunidade LGBT”, ressaltou o diretor, Márcio Januário.

Neste fim de ano, ele prepara-se também para as novidades de 2018, quando deve estrear a peça “A Caixa Branca”, escrita por ele mesmo e que integra a pesquisa desenvolvida desde 2010 com peças e personagens de William Shakespeare. Neste novo trabalho, Januário mergulha no universo dos relacionamentos online e da incapacidade de se estabelecer uma comunicação efetiva, apesar das múltiplas facilidades tecnológicas e do excesso de informação. Faz também parte desta série a peça Trans Hamlet Formation, já encenada na Alemanha, durante o Shakespeare Festival.

Em Algodões, inaugura em dezembro um centro cultural, que vai oferecer aulas de capoeira, de música, interpretação e criação de texto, oficinas e bailes para idosos, dança para crianças e adolescentes, cineclube e atividades voltadas à cultura negra.

“O centro cultural terá muito esta pegada de ancestralidade. Estamos fazendo um documentário com moradores antigos, para a região não perder a tradição local, que com a chegada do turismo e da poluição, foi perdendo muita coisa, inclusive a tradição da pesca, então queremos registrar e mostrar, para não acontecer a gentrificação que aconteceu no Vidigal. Vamos falar também das mulheres negras, da solidão da mulher negra, da mulher gorda”, anunciou.

Além disso, neste mês de novembro o centro cultural inicia a Feira Orgânica e Cultural de Algodões (FOCA), ligada aos Povos da Mata e que vai oferecer produtos orgânicos com baixo valor e realizará também um sarau.

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