Grande referência antirracista, o romancista, ensaísta, dramaturgo, poeta e crítico social estadunidense James Baldwin (1924-1987) se mantém relevante nas discussões sobre intelectualidade negra.
Suas ideias reverberam até hoje e, por isso, os atores Izabel Lima e Fernando Vitor se debruçaram sobre seus textos para criar o espetáculo “James Baldwin – Pode um Negro Ser Otimista?”, que estreou nesta semana, em São Paulo.
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No Auditório da Biblioteca Mário de Andrade (R. da Consolação, 94 – República) será apresentada a Parte 1 – É a Inocência que Constitui o Crime com temporada até o dia 04 de setembro. Depois, na sala multiuso do Teatro Arthur Azevedo (Av. Paes de Barros, 955 – Alto da Mooca) entre 14 de setembro e 1º de outubro, serão apresentadas as duas partes – a Parte 1 mais a Parte 2: Será Preciso Salvar os Brancos? totalizando 20 sessões gratuitas.
Com direção de José Fernando Peixoto de Azevedo, o trabalho é uma das ações artísticas do projeto “Panorama Baldwin: Tinta Preta Para Escrever Sobre Um Mundo Esbranquiçado”, idealizado por Fernando Vitor e contemplado pela 3ª edição do Edital de Apoio à Cultura Negra na Cidade de São Paulo.
“Nossa intenção não é fazer um espetáculo sobre a vida do Baldwin e sim utilizar algumas entrevistas dele para refletir sobre a experiência negra no Brasil de hoje. Isso porque o sonho americano e a democracia racial brasileira estão cada vez mais parecidos, por conta da violência constante e da desumanização imposta pelo racismo e a homofobia. Assim, montamos uma espécie de conversa aberta com o público”, conta Azevedo.
Os artistas pesquisaram documentários e programas de televisão em que o intelectual participou, já que suas falas tinham uma carga performativa muito forte. “Baldwin aproveitou a projeção midiática da TV e do cinema para fazer sua militância. E é esse seu ato de falar em público, que ora convoca e ora recusa a câmera, que norteia nosso jogo teatral”, detalha o diretor.
Embora não seja uma peça participativa, a intenção dos artistas desta montagem é realmente convocar as pessoas a refletir sobre os temas abordados. Para tanto, a ideia é que atores e espectadores ocupem o mesmo espaço.
Ao mesmo tempo, a encenação estabelece uma forte ligação com a câmera de vídeo, característica marcante do diretor. Como inspiração para a materielização do trabalho foi utilizado o documentário sobre o Baldwin “Eu Não Sou Seu Negro” (2017), de Raoul Peck. Dessa forma, além da constante presença da câmera, em alguns momentos, o elenco interage com as cenas do filme.
Há também uma dimensão geracional muito importante na construção da dramaturgia, já que a Izabel foi professora do Fernando Vitor e eles entraram em contato com o Baldwin em momentos distintos da vida. Assim, o fato de a produção dele reverberar em cada um de um jeito está explícito no texto.
Atualidade de James Baldwin
O objetivo de “James Baldwin – Pode um Negro Ser Otimista?” é entender como o pensamento desse intelectual repercute hoje no Brasil, mesmo ele tendo vivido em outro país em um período histórico diferente. “Seus escritos são tristemente atuais. Por isso, não quisemos fazer nada novo sobre ele e sim editar os seus materiais de maneira a representar nossas lutas atuais”, relata Fernando Vitor.
Um dos pilares de Baldwin é a defesa de uma consciência racial de nação. “Ele acredita que precisamos conhecer muito bem a nossa história se quisermos avanços sociais e políticos. Então, ele sempre questionava se realmente refletíamos sobre o passado ou se não tínhamos esse tempo por precisarmos lidar com outras urgências”, afirma Izabel Lima.
Nesse mergulho pelos ideais do escritor, o trio considerou importante entender com quais pesquisadores(as) e autores(as) brasileiros(as) ele dialoga. Figuras como a ex-vereadora Marielle Franco (1979-2018) e a deputada federal Erika Hilton foram apontadas como detentoras desse legado, especialmente por suas projeções na mídia e seus posicionamentos relevantes no combate ao racismo e à LGBTFobia.
Para Peixoto, uma diferença relevante entre as vivências de Baldwin e o cenário brasileiro hoje é o envelhecimento da população negra. “Estamos conseguindo chegar aos 50 anos. Somos testemunhas e sobreviventes da história e podemos conviver e criar com os nossos jovens”, afirma.
Serviço:
Peça “James Baldwin – Pode um Negro Ser Otimista?” Duração: 90 minutos Classificação etária indicativa 16 anos
BIBLIOTECA MÁRIO DE ANDRADE – Parte 1: É a Inocência que Constitui o Crime
Datas: 21, 22, 23 e 28 de agosto; 01, 02, 03 e 04 de setembro, às 19h Endereço: R. da Consolação, 94 – República Ingresso: gratuito | Retirado com 1 hora de antecedência na bilheteria
TEATRO ARTHUR AZEVEDO – SALA MULTIUSO – Parte 1: É a Inocência que Constitui o Crime e Parte 2: Será Preciso Salvar os Brancos?
Datas: 14 de setembro à 01 de outubro- Quinta, Sexta, Sábado às 20h e Domingo às 18h Endereço: Av. Paes de Barros, 955 – Alto da Mooca Ingresso: gratuito | Retirado com 1 hora de antecedência na bilheteria
Obs: No dia 21/9 não haverá sessão. No dia 30/9 serão duas apresentações: às 17h e às 20h
Sessões com libras: 21, 28 e 4 de agosto, e 15, 22 e 29 de setembro