Encontro recebe representante do Black Lives Matter, movimento negro norte-americano, e professor mexicano autor do conceito de “juvenicídio”. Seminário visa construir uma rede de proteção das periferias de São Paulo.
Texto / Pedro Borges
Imagem / Divulgação
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Ativistas, intelectuais e articuladores das periferias participam do “I Seminário Internacional Juventudes e Vulnerabilidades: homicídios, encarceramentos e preconceitos”. O encontro ocorre entre os dias 7, 8 e 9 de Junho na cidade de São Paulo. Nos dois primeiros dias, as atividades se concentram no Salão Nobre da Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco, e no terceiro, na Escola de Samba Combinados de Sapopemba, na Avenida Sapopemba, número 8.350.
A conferência, construída ao longo de 3 meses por mais de 50 coletivos culturais e políticos da cidade de São Paulo, visa discutir as violências históricas praticadas no continente americano contra as populações indígenas e afrodescentes e entender como a conjuntura política da América Latina agrava a condição desses grupos sociais marginalizados. Os convidados vão refletir também sobre os maiores impactos da brutalidade do Estado contra a juventude desses grupos.
Marisa Fefferman, pesquisadora do Instituto de Saúde e uma das organizadoras do encontro, destaca as relações entre a política econômica adotada pelos governos latino-americanos com a violência praticada pelo Estado nesses territórios. “As transformações econômicas e sociais que estão acontecendo nos grandes centros urbanos e principalmente na América Latina tem implicação na produção da violência e na mortalidade das populações, em especial os adolescentes negros e indígenas pertencentes às classes subalternas”.
Entre os convidados, destaque para a participação de Kleaver Cruz, integrante do Black Lives Matter, e para a conferência de José Manuel Valenzuela Arce, professor investigador do Departamento de Estudos Culturais do Colégio da Fronteira Norte, México. José Manuel é o responsável pelo conceito de juvenicídio.
O genocídio negro e indígena, o sistema carcerário, a atual política de drogas, e os meios de comunicação são os principais temas a serem abordados durante o congresso. Todas as mesas serão compostas por ativistas do movimento negro, militantes das periferias das grandes capitais do país e por pesquisadores da academia.
“O encontro tem o objetivo de contrapor a narrativa dos veículos de comunicação, de transformar a ideia de que os movimentos sociais não podem contribuir, de que a academia não pode contribuir. Com conhecimento acadêmico, dos movimentos sociais e de quem vive essa realidade, nós podemos contrapor esse Estado penal. Precisamos nos articular para que mais nenhum jovem seja morto”, afirma Marisa Fefferman.
Quadra da Escola de Samba Combinados de Sapopemba recebe o terceiro dia do Seminário (Foto: Acervo da Combinados de Sapopemba)
Sampopemba, hora de compartilhar e construir
O tom do encontro muda em Sapopemba, quando os participantes saem da posição de ouvintes e abraçam o objetivo de refletir sobre os dois primeiros dias e construir uma rede de proteção entre os mais diversos movimentos culturais e políticos de resistência das periferias de São Paulo.
Para Marisa Fefferman, esse é momento da população das diferentes regiões trocarem experiências e articularem de maneira conjunta mecanismos de resistência à violência do Estado. É também a oportunidade de exigir uma posição da Defensoria Pública e do Ministério Público para a garantia de direitos básicos nesses territórios, a começar pela vida.
A partir das 9h30, dá-se início à recepção do evento com um Slam, coordenado por poetas da região. A chegada também é a possibilidade de apreciar uma amostra, articulada pelos organizadores, com uma apresentação dos diferentes movimentos sociais e as suas respectivas táticas de resistência.
Das 10h30 às 13h, os participantes são divididos em rodas de conversa para compartilhar a realidade das diferentes periferias de São Paulo e pensar de maneira conjunta em técnicas de resistência. Durante a tarde, os grupos compartilham o que foi discutido no período da manhã, e começam a esboçar a rede de proteção das periferias contra a violência do Estado.
A expectativa é que os participantes consigam organizar uma denúncia formal e construir uma rede uma rede de proteção, que pode vir a ser um Observatório das Periferias de São Paulo.
“Eu acho que essa é a grande proposta desse trabalho, denunciar, criticar, exigir, e construir com todos os atores, desde a Defensoria, de quem a gente vai exigir uma posição, até as Mães da Leste, as mídias alternativas, e toda população uma rede de proteção. Consideramos que juntos, minimamente, podemos resistir”, afirma Marisa Fefferman.