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‘Fantasia e ficção devem ser mundo dos sonhos também para crianças negras’, diz roteirista da Disney

Maíra Oliveira é a primeira mulher negra a assinar uma criação da Disney Brasil
Imagem mostra a roteirista Maíra Oliveira em participação na série "A Magia de Aruna".

Foto: Helena Barreto

28 de dezembro de 2023

A série “A Magia de Aruna”, disponível na plataforma de streaming Disney+, traz em seis episódios uma trama fantástica com a jovem Mima (Jamilly Mariano), uma bruxinha que tenta viver uma vida normal, mas perde o controle dos poderes ao participar de uma competição escolar. O roteiro é da carioca Maíra Oliveira, a primeira mulher negra a assinar uma criação da Disney Brasil.

Em entrevista à Alma Preta Jornalismo, a roteirista comemora a repercussão da série, que traz no elenco nomes conhecidos da televisão e do cinema, como Cleo, Erika Januza e Giovanna Ewbank, que interpretam feiticeiras poderosas, além de Suzana Pires, que dá vida à vilã Bruma. 

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“A série conta a história de Mima, uma menina que tem o poder de hiper empatia e, por não conhecer suas origens, foi levada a acreditar que magia é algo ruim. Até que a protagonista desperta três bruxas com quem vai aprender a lidar com seu poder e descobrir que ser diferente é potência — nesse caso, potencialmente mágico. O público pode esperar uma história cheia de bonitos laços de amizade e respeito, aventura e, é claro, magia”, destaca Maíra.

E a história vem conquistando o público de todas as idades. “A série foi pensada para o público infantil, a partir de 10 anos, mas estamos recebendo retorno positivo de toda a família. Isso é legal, porque pensamos a história para toda a família mesmo, com mensagens que atravessam o mundo da fantasia, de respeito às diferenças”, conta a roteirista.

Protagonismo negro na fantasia

Incorporando uma fórmula que faz sucesso entre o público teen, em produções como as várias versões de “Sabrina”, “Wandinha” ou, ainda, “Os Feiticeiros de Waverly Place”, a série “A Magia de Aruna” se destaca por trazer pessoas negras para o protagonismo em tramas fantásticas. “Fantasia e ficção devem ser o mundo dos sonhos também para crianças negras”, dispara Maíra.

De acordo com a roteirista da Disney, o debate racial é intrínseco na série. “As bruxas foram mulheres marginalizadas, que tiveram sua autonomia e saúde mental questionadas. Olhando para a América, quem são essas mulheres? São negras e indígenas. Então fazia todo sentido, ao falar de bruxaria, que a gente trouxesse mulheres negras para o papel de protagonismo”, explica. 

“Mas isso é visto no conceito da trama. Ou seja, quando a gente traz uma negra como protagonista, falando o que é ser perseguida, ainda que no contexto de bruxa, é uma maneira interessante de trazer o debate racial à tona, sem precisar dizer a palavra com ‘R’ maiúsculo [racismo], que às vezes afasta as pessoas”, acrescenta Maíra.

Roteirista não quer ser ‘caso isolado’

A Disney Brasil ainda não informou se a série terá uma segunda temporada. Enquanto isso, Maíra Oliveira trabalha em outros projetos. Um deles é uma adaptação para a Globo Filmes do livro “Quarto de Despejo”, de Carolina Maria de Jesus, um clássico da literatura negra brasileira. O trabalho ainda está na fase de captação de recursos e deve ser encaminhado para a produção em 2024. 

O filme parte de um resgate editorial da vida e obra de Carolina de Jesus. “O objetivo é expandir o olhar sobre Carolina para além do ‘Quarto de Despejo’, esse livro que é um best seller brasileiro, mundialmente conhecido, mas que se restringe às mazelas. Carolina, porém, no próprio livro, representou muito mais que isso, ela foi dramaturga, estilista, ativista e isso ficou invisibilizado”, aponta a roteirista.

A roteirista Maíra Oliveira fez sua estreia como atriz em uma participação em “A Magia de Aruna”. Foto: Helena Barreto

A roteirista, que também atua como diretora, fez sua estreia como atriz em uma participação em “A Magia de Aruna” e é ativista da Associação dos Profissionais do Audiovisual Negro (Apan).

Maíra comemora o momento que vive na carreira e diz não querer ser um caso isolado:

“Existe uma falácia de que não têm profissionais negros experientes no mercado audiovisual brasileiro, e ela sustenta o status quo, mas essa mentalidade precisa ser quebrada. Não quero ser a única mulher negra nos espaços, a primeira, mas a gente entende que essa visibilidade gera um movimento para o coletivo”.

  • Fernando Assunção

    Atua como repórter no Alma Preta Jornalismo e escreve sobre meio ambiente, cultura, violações a direitos humanos e comunidades tradicionais. Já atua em redações jornalísticas há mais de três anos e integrou a comunicação de festivais como Psica, Exú e Afromap.

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