No dia 13 de maio de 1888, a assinatura da Lei Áurea dava início ao processo de abolição da escravização no país. Apesar de ser reconhecida como símbolo da liberdade das pessoas negras escravizadas, a lei assinada pela Princesa Isabel não representou o fim dos efeitos da escravização do povo negro.
Embora a data seja comumente atribuída à benevolência da princesa, filha de D. Pedro II, o fim do processo de escravização no Brasil foi resultado do protagonismo de negros e negras que por anos articularam a luta abolicionista no Brasil.
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A Alma Preta selecionou cinco personalidades fundamentais para o fim da política escravista no Brasil para compreender a participação do povo negro no movimento abolicionista no Brasil.
1. Luiz Gama
Nascido em 1830, na cidade de Salvador (BA), Luiz Gonzaga Pinto de Gama foi um jornalista, advogado e poeta que conseguiu articular a liberdade de mais de 500 pessoas escravizadas, mantidas ilegalmente nessas condições.
Gama é filho de Luiza Mahin, uma mulher negra africana da região da Costa da Mina que lutou pela liberdade dos escravizados na Bahia durante a Revolta dos Malês. Aos dez anos, Gama foi vendido como escravo pelo pai, um homem branco e herdeiro de uma família luso-brasileira.
Após oito anos em cativeiro, o poeta conseguiu juntar as provas necessárias para conquistar sua liberdade. Após se tornar advogado autodidata com 18 anos, passou a defender a liberdade de outras pessoas escravizadas.
Como jornalista, utilizou o espaço que possuía em jornais para defender a abolição do trabalho escravo. Luiz Gama também foi autor de importantes obras abolicionistas jurídicas, como “Defesa de uma liberdade”, em que destacou a contradição entre a escravidão e os direitos naturais e constitucionais.
2. Luísa Mahin
Mãe de Luiz Gama, Luísa Mahin pertencia à etnia Mahin, originária do Golfo do Benin, no noroeste do continente africano. Mesmo com a tentativa de conversão coercitiva dos portugueses, resistiu e manteve suas tradições africanas acima da doutrina cristã.
Ela teve participação em diversos levantes contra a escravidão no início do século 19, incluindo a Revolta dos Malês, na Bahia. Em diversas ocasiões, sua casa se tornou quartel para as insurreições.
Em 27 de março de 2019, o Senado Federal aprovou a inclusão de Luísa Mahin no “Livro de Heróis e Heroínas da Pátria” e desde então segue como exemplo de resistência e determinação para a população negra.
3. José do Patrocínio
José Carlos do Patrocínio nasceu em 1853, no município de Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro. Além da carreira no jornalismo, Patrocínio também foi poeta, professor e farmacêutico.
Por crescer como homem livre na fazenda de seu genitor, o jornalista analisava as violências impostas aos negros no regime escravista. Isso o levou a seguir a vocação abolicionista desde muito cedo. Em meados de 1875, Patrocínio iniciou sua carreira no jornalismo, onde atuou intensamente na campanha pela libertação do povo negro.
Após trabalhar em veículos de prestígio da época, o poeta se tornou o proprietário da “Gazeta da Tarde”, comprado com a ajuda de seu sogro em 1981. Dois anos depois, José do Patrocínio fundou a Confederação Abolicionista junto a André Rebouças e Aristides Lobo.
No jornal “Cidade do Rio”, fundado por Patrocínio em 1887, o jornalista escreveu sobre a assinatura da Lei Áurea em sua coluna, felicitando o marco legislativo da abolição pela qual tanto lutou. No veículo, o poeta continuou a se opor contra o governo vigente, denunciando as condições em que a população negra foi submetida após a Lei Áurea e precisou se refugiar por questões de segurança.
4. Aqualtune
De acordo com a Fundação Cultural Palmares, Aqualtune nasceu no reino do Congo e teria liderado guerreiros na Batalha de Mbwuila, deflagrada entre as forças de Portugal e do Congo, em 1665. Sequestrada e traficada para o Brasil, a líder viveu a violência da escravização por anos em uma fazenda em Alagoas.
Após tomar conhecimento do refúgio de pessoas negras conhecido como “Pequena Angola”, um dos nomes utilizados para o Quilombo dos Palmares à época, Aqualtune liderou, grávida, a fuga de cerca de 200 pessoas. Em Palmares, foi reconhecida como princesa e assumiu o papel de liderança.
Pela exímia habilidade em conhecimentos políticos, organizacionais e de estratégias de guerra, a nobre fundou e comandou um dos principais mocambos do quilombo que foi batizado com seu nome. Aqualtune teve três filhos: Zona, Zumba e Sabina, que se tornou mãe de Zumbi dos Palmares.
5. Francisco José do Nascimento
Francisco José do Nascimento, também conhecido como Dragão do Mar, nasceu em 15 de abril de 1839 em Fortaleza. Filho de pescadores e neto de escravizados, o jangadeiro abolicionista integrou o Movimento Abolicionista Cearense e impediu o comércio de escravizados nas praias do Ceará.
Entre 1877 e 1879, a região sofreu com uma seca severa, o que resultou no aumento da fome e doenças. O contexto dizimou cerca de um quarto da população. Em resposta à crise, os senhores de engenho passaram a vender os escravizados.
Em resposta, o líder mobilizou outros jangadeiros e se recusou a realizar o transporte de navios negreiros que conduzisse negros escravizados do Nordeste ao Sul do país.