Nomeado como o novo ouvidor das polícias de São Paulo, Cláudio Aparecido da Silva, mais conhecido como Claudinho Silva, pretende elaborar uma gestão participativa e que tenha como foco principal uma construção coletiva com a sociedade civil.
Criada em 1997, a Ouvidoria das Polícias de São Paulo, vinculada à Secretaria de Segurança Pública, tem como atividade central o recebimento de denúncias e fiscalização da atuação dos agentes de segurança estadual e municipal, tais como as polícias civil, militar, guarda municipal, agentes penitenciários, entre outros.
Quer receber nossa newsletter?
Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!
Militante do movimento negro, Claudinho Silva acredita que as câmeras corporais são ferramentas aliadas tanto na proteção da sociedade civil quanto dos agentes de segurança. De acordo com dados da Polícia Militar, os batalhões que adotaram as câmeras corporais tiveram uma redução de 87% nas ocorrências de confronto. Além disso, na comparação entre os meses de junho e outubro de 2019, 2020 e 2021, as ocorrências de resistência às abordagens policiais caíram 32,7% nos batalhões que usam as câmeras operacionais portáteis.
“As câmeras corporais não protegem apenas o cidadão comum como também tem protegido os policiais. Os números são muito contundentes em relação a isso e a gente quer muito que as câmeras cheguem a todas as tropas da Polícia Militar para a gente começar a pensar em avançar com as câmeras para a Polícia Civil também”, comenta o novo ouvidor, que também defende a expansão do dispositivo para outros setores da segurança pública.
Apesar do resultado positivo do uso das câmeras, a nova gestão do governo de São Paulo tem levantado controvérsias sobre os equipamentos. No último dia 4 de janeiro, o novo secretário da Segurança Pública de São Paulo, o PM da reserva Guilherme Derrite, afirmou que o governo de Tarcísio Freitas iria realizar uma revisão do programa de câmeras corporais da Polícia Militar, “Olho Vivo”.
Derrite também informou que solicitou análise do estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) que mostra que o uso de câmeras no fardamento reduziu em 57% o número das mortes praticadas por policiais.
Em entrevista à Alma Preta Jornalismo, realizada antes da fala do secretário, Claudinho Silva aponta que um dos grandes desafios à frente da Ouvidoria é a divergência na atual conjuntura sobre o debate da segurança pública e a dificuldade em incluir a sociedade civil no debate.
“A gente acha que o que pode contribuir para que a gente consiga avançar são os novos ares que a gente está respirando, a mudança de governo. Em São Paulo, a quebra de um ciclo de 30 anos de um governo que a gente tinha muita dificuldade no debate da segurança pública e também o desafio da gente conseguir trazer a sociedade civil para esse debate fundamental”, pontua Silva.
Biografia
Fruto da favela Monte Azul, zona sul de São Paulo, desde criança, Claudinho Silva sente na pele como as mazelas do racismo atravessam jovens negros da periferia. Na infância, ele chegou a morar nas ruas e foi mandado para a Fundação Espírito-Santense do Bem-Estar do Menor (Fesbem), atual Instituto de Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo, por desacatar um policial após pedir ajuda por ter sido roubado.
Quando trabalhou como engraxate dentro de uma delegacia, foi alvo de racismo após ouvir de um investigador que ele teria sujado a sua meia. Durante o episódio, uma pessoa que passava pela porta teria dito: “Nem para isso essa raça serve”.
Foi através do Movimento Negro Unificado (MNU) e do hip-hop, principalmente influenciado pelo grupo Racionais MC’s, que o novo ouvidor das polícias de São Paulo passou a se engajar na luta política. Já atuou como coordenador de Políticas para Juventude da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania durante a prefeitura de Fernando Haddad (PT), entre 2015 e 2016, e como coordenador do programa “SOS Racismo”, da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, de 2019 a 2021.
Agora, como ouvidor, Claudinho Silva diz que os primeiros contatos com a Segurança Pública foram positivos e que há uma expectativa de construção da política de segurança pública baseada em critérios técnicos e com uso da tecnologia. No entanto, ele também prevê desafios. “A gente sabe que segurança pública não é um tema fácil, não é um tema tranquilo, é um tema bastante espinhoso e a gente sabe que, com certeza, haverá momentos de tensão, de discussão mais acalorada”.
Claudinho Silva também acredita que a sua bagagem dentro do movimento negro irá colaborar para a sua gestão dentro da Ouvidoria. “Desde a montagem do conselho da ouvidoria até a montagem da equipe e toda a política que a gente vai desenvolver vai ser muito focada na construção com o movimento social. A gente quer muito dialogar com o movimento social para a gente construir uma gestão participativa, qualitativa, qualificada e coletiva”, destaca.
Leia também: Câmeras corporais são a solução para a redução da letalidade policial no Brasil?