Na última quarta-feira (17), a Procuradoria da República no Rio de Janeiro sediou o seminário intitulado “Por que precisamos falar de genocídio negro?”, promovido pelo Ministério Público Federal (MPF) em parceria com a iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial (IDMJR). O evento reuniu ativistas, procuradores e especialistas para discutir as violações de direitos enfrentadas pela população negra no Brasil.
Durante o seminário, Giselle Florentino, representante da IDMJR, apresentou dados sobre a violência direcionada à população negra. “A cada três pessoas presas, duas são negras. Oito a cada dez pessoas mortas pela polícia são negras“, afirmou a ativista.
Quer receber nossa newsletter?
Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!
O procurador regional dos Direitos do Cidadão, Jaime Mitropoulos, ressaltou as origens históricas da violência contra os negros e o papel do Estado na sua perpetuação. “O Estado brasileiro contribuiu de forma determinante para a estruturação e institucionalização desse sistema de poder. Um sistema controlado pela classe dirigente que herdou uma mentalidade patriarcal e senhorial”, explicou Mitropoulos, segundo nota do MPF.
Julio José Araujo Junior, procurador regional dos Direitos do Cidadão adjunto, abordou o conceito de genocídio, destacando que ele deve ser entendido como um processo contínuo, e não apenas como eventos isolados. “São genocídios a cada episódio, a cada situação que se enquadre nessa compreensão”, disse Araujo Junior. Ele enfatizou a importância de prevenir genocídios e responsabilizar não apenas penal, mas também civilmente, aqueles que os praticam.
Giselle Florentino, na abertura do evento, traçou um panorama da gravidade da situação da população negra no país. “A população preta está morrendo sob a tutela desse Estado. Precisamos pensar em saídas e na responsabilização desse Estado”, afirmou.
A mesa de abertura contou também com Lúcia Xavier, da entidade “Criola“, e Patrícia Oliveira, da Agenda Nacional pelo Desencarceramento.
A segunda mesa do seminário abordou o tema “Construindo uma agenda contra o genocídio” e incluiu participações de Amauri Pereira, do Fórum Ubuntu; Daniel Otaviano, do Fórum Popular de Segurança Pública; Jurema Werneck, da Anistia Internacional; Wanda Araújo, do Ilê Asè Egi Omin; e Denilson Araújo de Oliveira, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF). Segundo Araújo de Oliveira, o genocídio negro atual tem raízes no Brasil colonial. “O racismo foi estruturando as instituições e a forma como nos constituímos enquanto ‘ser'”, concluiu.