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Analfabetismo segue como problema estrutural no Brasil

Negros e indígenas apresentam taxa de analfabetismo no mínimo duas vezes maior do que brancos
As discrepâncias de raça/cor e socioeconômicas também exercem um impacto significativo na alfabetização no Brasil.

Foto: Reprodução/Jornal USP

1 de julho de 2024

Após mais de 20 anos de esforços para superar o analfabetismo, o Brasil ainda enfrenta um desafio significativo, de acordo com o Plano Nacional de Educação (PNE). Com 11,4 milhões de brasileiros analfabetos, o equivalente à população do município de São Paulo ou de um país como a Bélgica, a falta de habilidades básicas de leitura e escrita cerceia a liberdade e dignidade dessas pessoas.

Os dados do Censo Demográfico revelam desigualdades profundas no grupo de analfabetos, com recortes etário, regional, econômico e racial bem pronunciados. Embora o número de analfabetos tenha diminuído desde a década de 1940, quando a taxa na população acima de 15 anos chegava a 56%, o analfabetismo continua a ser um problema estrutural no país.

Desigualdade

O analfabetismo afeta a população brasileira de forma desigual. É maior entre os mais velhos, com uma taxa de 20,3% entre as pessoas idosas acima de 65 anos. Já o grupo mais jovem, dos 15 aos 19 anos, tem o menor índice, de apenas 1,5%. Além disso, as mulheres têm uma taxa de alfabetização ligeiramente superior à dos homens, exceto na faixa etária dos 65 anos ou mais.

A taxa de analfabetismo varia significativamente entre as regiões do país. Municípios menores, com população entre 10 mil e 20 mil habitantes, têm a maior taxa média de analfabetismo, de 13,6%. Já os municípios com mais de 500 mil habitantes têm uma taxa de apenas 3,2%. A região Nordeste apresenta as piores taxas de analfabetismo, com 14,2%, enquanto a região Sul tem a melhor taxa, com 96,6% da população alfabetizada.

Negros e indígenas são maioria entre os analfabetos

As discrepâncias raciais e socioeconômicas também exercem um impacto significativo na alfabetização no Brasil. Os dados revelam que as pessoas de raça branca e amarela apresentam índices de analfabetismo mais baixos, de 4,3% e 2,5%, respectivamente. Já as pessoas de raça preta e parda enfrentam desafios maiores, com percentuais de analfabetismo de 10,1% e 8,8%, respectivamente.

Entre os indígenas, a situação é ainda mais grave, com um índice de analfabetismo de 16,1%, quase quatro vezes maior do que entre brancos. Embora haja uma tendência de redução nas desigualdades raciais entre 2010 e 2022, a diferença percentual entre brancos e pretos ainda é significativa, passando de 8,5 para 5,8 pontos percentuais. Já a diferença entre brancos e pardos caiu de 7,1 para 4,3 pontos percentuais.

Em nota, a diretora executiva do Centro de Estudos e Dados sobre Desigualdades Raciais (Cedra), Cristina Lopes, salienta que o racismo institucional é uma das principais razões para essa desigualdade. 

“Trata-se de uma forma de racismo que, independentemente do nível socioeconômico, trata pior pretos e pardos do que os brancos”.

  • Caroline Nunes

    Jornalista, pós-graduada em Linguística, com MBA em Comunicação e Marketing. Candomblecista, membro da diretoria de ONG que protege mulheres caiçaras, escreve sobre violência de gênero, religiões de matriz africana e comportamento.

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