“Faz um PIX” tornou-se a frase mais dita e ouvida pela diarista Irene Carmo, moradora da região Brasilândia, periferia de São Paulo, em razão da facilidade nas transações bancárias geradas pelo método de pagamento lançado pelo Banco Central em novembro de 2020. A economista Gabriela Mendes Chaves explica que o auxílio emergencial contribuiu para o aumento do uso do ambiente virtual para as operações. “A gente vê uma inclusão maior da periferia ao sistema financeiro e isso não se deve só ao PIX”, argumenta.
De acordo com o Banco Central, o serviço de transações instantâneas ultrapassa o número de operações financeiras realizadas através de TED ou DOC no Brasil, passando de mais de R$1,1 trilhão em movimentação. São mais de 230,6 milhões de chaves cadastradas entre números de CPF, e-mail e celular no país. “O meu filho mais velho me mostrou como fazia e agora pago até o mercadinho se deixarem”, conta a diarista que passou a utilizar o serviço no início de 2021.
Quer receber nossa newsletter?
Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!
“No contexto de pandemia, a gente viu o quanto a desbancarização das pessoas dificulta a distribuição de recursos de emergência e o acesso a ferramentas do mercado. Isso dá autonomia, mas também envolve acesso”, explica a economista e fundadora do NoFront Empoderamento Financeiro. Para ela, o período de pandemia intensificou o uso do PIX, mas ainda há uma grande barreira a ser superada quando se trata do acesso da população periférica.
Segundo Gabriela, no último ano, o período de inscrição para receber o Auxílio Emergencial evidenciou a desigualdade na aquisição de aparelhos celulares, por exemplo, fato que pode ser somado ao receio que a população tem para realizar transações no ambiente virtual. Ter uma ferramenta que permite transferir e receber dinheiro 24 horas por dia ao longo dos sete dias da semana explica a popularidade do recurso.
“No começo, eu sempre dizia que achava fácil demais para ser seguro. Hoje já confio mais”, relata a diarista sobre o uso do aplicativo do banco no celular. Com mais dias dentro de casa e menos contato com pessoas além do trabalho, ela tem optado pela compra de alimentos e até mesmo roupas através da internet.
A economista explica que a desconfiança se dá pela falta de comunicação e educação sobre o tema. “A gente precisa aprofundar os processos educacionais com certeza, durante muito tempo o mercado financeiro negligenciou a educação. Pensando no aumento de golpes que tem acontecido, é fundamental que as pessoas tenham letramento financeiro e acesso à informação”, conclui.