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Metrô investiga vestígios do Quilombo Saracura no Bixiga

Movimento Negro organizado e moradores lançaram manifesto para pedir mudança do nome da futura estação e a preservação do legado negro no bairro

 

Obras do metrô no Bixiga com vestígio de Quilombo

Foto: Imagem: Reprodução

24 de junho de 2022

A expansão na malha do metrô na cidade de São Paulo revelou a existência de vestígios do Quilombo do Saracura, na região do Bixiga, na região central da capital.

A descoberta foi recebida com entusiasmo pelo movimento negro organizado e por moradores do bairro que elaboram um manifesto para cobrar medidas de preservação histórica e a alteração do futuro nome da estação de 14 Bis (praça onde será a estação) para Saracura Vai-Vai, em homenagem ao quilombo e também à escola de samba, fundada em 1930.

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A Linha Uni do metrô (Linha 6-Laranja) informou à Alma Preta Jornalismo que os vestígios do Quilombo Saracura estão a aproximadamente três metros de profundidade e serão retirados para resgate dos materiais e análise, após a execução das paredes de contenção, necessárias como medida de segurança.

Ainda segundo a Linha Uni, com a autorização do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), uma empresa especializada no tema está trabalhando na caracterização da descoberta do sítio arqueológico, porém, as obras não foram interrompidas. A descoberta aconteceu em abril.

Entidades do movimento negro organizado e moradores do bairro fizeram duas reuniões e criaram um coletivo com o objetivo de acompanhar os desdobramentos da descoberta e pedir providências para o Ministério Público, governo do estado e prefeitura. No dia 2 de julho, às 10h, haverá um ato na frente da obra.

A solicitação é que as obras sejam interrompidas temporariamente até que seja assegurada a preservação do sítio sem a retirada dos achados do local.

“Nosso objetivo é que o Sítio permita a construção de uma política de educação patrimonial regular e permanente, bem como uma política efetiva de reconhecimento, preservação e valorização patrimonial que contemple os povos originários e africanos que, ao longo de mais de três séculos antes da chegada de imigrantes europeus e asiáticos, construíram o Bixiga, São Paulo e o Brasil”, diz um trecho do manifesto lançado nesta semana e assinado por mais de 70 entidades, institutos e organizações populares das mais diversas áreas.

O pedido coletivo de preservação da história negra do Bixiga tem respaldo constitucional, o artigo 216 da Constituição que fala sobre o patrimônio cultural brasileiro diz no parágrafo quinto: “Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos.”

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População do Bixiga se organizou para pedir a preservação dos vestigios do quilombo (Foto: arquivo pessoal)

Segundo o manifesto, uma matéria publicada no jornal ‘O Paulistano’, em 9 de outubro de 1907, faz referência ao Saracura como um “pedaço de África” com seus casebres nas bordas do riacho chamado Saracura. Naquela época a região do Bixiga era a periferia de São Paulo.

“O quilombo foi a organização social de pessoas negras brasileiras e africanas escravizadas que resistiram e ajudaram a acabar com o escravismo colonial”, reforça um trecho do manifesto, que também dá conta da importância de se reconhecer a região como uma das pequenas Áfricas brasileiras, a exemplo das ações de preservação que aconteceram no Cais do Valongo, região portuária da cidade do Rio de Janeiro.

Metroviários

A descoberta de um traço significativo da história negra na cidade de São Paulo também foi vista como um marco de esperança entre os funcionários negros do metrô para uma mudança na mentalidade da empresa. Dos cerca de 8 mil funcionários do metrô, apenas 27,2% são negros, autodeclarados pretos ou pardos, segundo dados de 2018. Além disso, nos cargos de gestão, com melhores salários, apenas 7% dos metroviários são negros.

“Atualmente, existe uma política de cotas para negros no acesso por meio dos concursos públicos, com 20% das vagas para negros, porém, nas promoções e elevações de cargos não tem cotas. Apesar de não ter dados que comprovem ainda, observo que na segurança é onde se concentra um grande número de negros na empresa, e a possibilidade de concursos internos para outras áreas e cargos é proibido, impossibilitando uma maior ascensão desse setores em cargos com maiores salários, como acontecia anteriormente”, explica Maria Clara, agente de Segurança do Metrô e diretoria de base do Sindicato dos Metroviários.

Segundo ela, a mudança de nome da futura estação 14 Bis para um que celebre a cultura negra é um passo importante na busca pela valorização da história dos bairros onde ficam as estações.

“O metrô transporta milhares de pessoas, que inclusive em sua maioria negros e negras, faz parte da construção da cidade e precisa também através dele contar a nossa história. O metrô, recentemente, para ganhar dinheiro, está vendendo os nomes das estações para empresas privadas. Essa é uma atitude totalmente privatista e que descaracteriza toda a história de construção das estações nos bairros”, comenta Maria Clara.

A Linha Uni informou que para informações sobre o andamento das obras e a preservação dos vestígios encontrados existe uma Central de Atendimento à comunidade pelo 0800 580 3172, de segunda a sexta, das 8h30 às 17h30. Também existe um atendimento presencial por meio da Central de Relacionamento com a comunidade. As unidades estão localizadas na Rua Cardoso de Almeida, 920, e na futura Estação João Paulo I – Praça Pastor Enoque Barbosa Medrado. O atendimento presencial funciona de segunda a sábado, das 7h às 17h.

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