Iniciativa que projeta dados é formada por cientistas e pesquisadores dos Estados Unidos, Alemanha, México e Brasil
Texto / Juca Guimarães I Edição / Simone Freire I Imagem / Marcos Santos (Ag. Pará)
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Trinta e oito pesquisadores e cientistas de diversas universidades do Brasil, dos Estados Unidos, da Alemanha e do México criaram o Observatório Covid-19 BR para desenvolver projeções a partir dos dados atualizados, diariamente, sobre a pandemia do Covid-19, o novo coronavírus, no Brasil.
O diferencial é que a plataforma consegue realizar projeções de até cinco dias sobre o coronavírus. De acordo com o estudo, os casos confirmados – que somam 11.130 registros oficiais, com 486 mortes, até o dia 5 de abril, exatamente 39 dias após a primeira confirmação do primeiro caso – , deverão subir para 20.926 casos no dia 10 de abril, uma alta de 88% em menos de uma semana.
“Nosso acompanhamento supõe uma dinâmica exponencial. Nossas previsões usam o tempo de duplicação do número de casos confirmados nos últimos cinco dias para prever os próximos cinco dias”, disse o físico Vitor Sudbrack, especialista em modelagem matemática de ecologia espacial do Instituto de Física Teórica da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Ele faz parte do grupo de cientistas que criou o observatório.
Precisão
As projeções do Observatório do Covid-19 BR também resultam em dados, cientificamente embasados, sobre o comportamento da epidemia. “Os dados da nossa equipe podem ajudar os governantes a tomarem decisões de curto prazo”, disse Sudbrack.
De acordo com Sudbrack não é fácil estabelecer dados sobre a contaminação pois as informações que são usados pelo observatório são do governo e, por conta da própria dinâmica da epidemia, ficam rapidamente desatualizados.
“O número de casos confirmados hoje reflete o número de infectados vários dias atrás. Isso porque entre a infecção e a confirmação, temos o tempo de incubação do vírus, o tempo da pessoa sentir os sintomas, procurar um médico, fazer o teste e sair o resultado do teste”, explicou.
País
Além da fragilidade dos dados disponíveis, a resposta do governo federal frente à pandemia preocupa alguns especialistas. Para Ana Luisa Silva, da Aliança Pró-Saúde da População Negra, conjunto de coletivos e pessoas na luta antirracista no país, é preciso políticas fortes, consistentes, sustentáveis, inclusivas e assertivas para superar os efeitos deste momento. “É a valorização do sistema público de saúde, gratuito, com integralidade, universalidade e equidade nas ações e políticas. Não estamos vendo isso”, disse.
Os impactos da epidemia nas periferias por falta de políticas efetivas de combate à desigualdade, por exemplo, é um dos alertas que a Aliança faz. “A necropolítica vigente no Brasil reforça a nossa idéia de que é preciso reagir às necessidades básicas da população afro-descendente, uma vez que tais desigualdades são anteriores à chegada do novo coronavírus”, disse Ana Luisa.
Enquanto se aguarda melhora nos dados, reduzindo o número de infectados, e ações efetivas do poder público, a principal recomendação é ficar em casa o máximo possível. “O isolamento social é de extrema importância. Por mais que haja dificuldades, temos que fazer o máximo para não ser propagador do vírus. Ficar em casa é salvar vidas”, aponta Paulo Romualdo, presidente do Instituto AfroAmparo Saúde. “É histórico o descaso do governo com a saúde da população negra. Por isso, os maiores responsáveis pela nossa saúde somos nós mesmos”, finaliza.