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Com baixo isolamento social, Mato Grosso do Sul tem sensação de que Covid-19 ainda não chegou

29 de maio de 2020

Estado tem 1.262 infectados pelo vírus e 18 mortes; taxa de distanciamento na capital Campo Grande é de apenas 36,4%

Texto / Guilherme Soares Dias | Edição / Nataly Simões | Imagem / Divulgação

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As 18 mortes por Covid-19, o novo coronavírus, e os 1.262 casos registrados até o dia 28 de maio parecem insuficientes para amedrontar a população do Mato Grosso do Sul. O estado tem o menor índice de contaminação da Covid-19 no país. Há consenso em relação à subnotificações, mas também é o estado com menor número de mortes e de pessoas internadas (14) em Unidades de Tratamento Intensivo (UTI), com 3,1% das UTIs disponíveis.

Os números baixos de contaminados e de mortes faz com que Mato Grosso do Sul, que tem 2,7 milhões de pessoas e a segunda maior população indígena do país, pareça um outro mundo. A vida segue quase normalmente entre o que já é chamado de “velho” e “novo” normal. Campo Grande é a capital com a segunda menor taxa de isolamento (36,4%), atrás apenas de Palmas (36,2%).

A capital sul-mato-grossense que tem como apelido “cidade morena” por conta da cor de sua terra teve comércio fechado e toque de recolher desde 19 de março. Mas a vida foi voltando ao normal. Já em 6 de abril, comércio e repartições públicas passaram a reabrir em horários reduzidos. Atualmente, as lojas do centro, os shoppings e comércios de bairro estão abertos. O uso de máscara é obrigatório apenas no interior dos estabelecimentos, o que não impede que várias pessoas circulem pelas ruas sem a proteção.

Há recomendações de distanciamento por meio de marcações no chão, apesar de nem todos respeitarem. Os cumprimentos com mãos e abraços ainda são comuns nas ruas, mas rodas de tereré (bebida de erva-mate gelada), ingerida em grupo no fim da tarde, estão menos presentes. Nas saídas da cidade, há barreiras em que são aplicados testes rápidos em quem chega e sai. O estado já teve a menor taxa de contaminação do país, mas perdeu o posto para Minas Gerais. Em Mato Grosso do Sul, o índice saltou de 0,81 em 30 de abril para 3,81. Isso significa que cada 100 pessoas contaminadas podem transmitir o coronavírus para outras 381 pessoas.

Estado está atrasado

Enquanto a região Norte, que concentra estados menos populosos, tem índices maiores de contaminação e mortes, o Mato Grosso do Sul, que faz divisa com estados como São Paulo e Paraná, teve menores índices. Um fator que ajudou foi o fechamento das fronteiras do Paraguai e da Bolívia no início da pandemia por parte dos países vizinhos. O trânsito de pessoas e mercadorias é intenso e poderia ter piorado a situação.

O ex-ministro da saúde e deputado federal Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), que foi secretário de Saúde de Campo Grande (2005 a 2010), esteve na cidade nesta semana. Na ocasião, ele afirmou que “Mato Grosso do Sul está atrasado por conta das suas características de safra e de pessoas que estavam em circulação, mas há uma tendência de que o coronavírus tenha essa interiorização nas próximas semanas”, afirmou, em entrevista à TV Morena, a afiliada da Globo em MS.

No período em que foi secretário de Saúde da capital, Mandetta enfrentou a epidemia da dengue, que continua matando no estado. Só em 2020 foram 37 vítimas. Isso faz muita gente achar que o coronavírus não é um problema local, mas algo de fora.

Experiência pessoal

Cheguei a Campo Grande de avião, em um voo de 1h30 que parecia o último antes do fim do mundo. Isso porque estava em São Paulo e isolado em casa há quase 60 dias. Um problema de saúde familiar me trouxe para a cidade. A viagem nesses tempos exigiu máscara, medir a temperatura antes do embarque e do desembarque e distanciamento num Aeroporto de Guarulhos quase vazio. O desespero nos olhos das pessoas era visível e também viajei com bastante medo.

Em geral, só há um voo para cada capital por dia. O de Campo Grande estava lotado. Começava ali uma sensação de insegurança que ainda bate ao perceber que por aqui a conscientização em relação à doença ainda não é uma realidade e que, como indicam as autoridades de saúde, a nova doença, talvez, ainda não tenha chegado com toda sua a força.

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