Há um estigma cruel no futebol que recai sobre goleiros negros. Em 1950, o então jogador da posição, Barbosa, foi perseguido por supostamente ter falhado no segundo gol do Uruguai. Depois desse episódio, a seleção brasileira só voltou a ter um goleiro negro em uma Copa do Mundo após longos 16 anos. De lá para cá algumas coisas mudaram, principalmente na equipe feminina da modalidade. É o que temos acompanhado no torneio disputado na Austrália e na Nova Zelândia, em 2023.
Se você olhar para o banco de reservas ou para o campo será possível perceber que as três goleiras da seleção brasileira são negras – Lelê, Camila e Bárbara. A Alma Preta Jornalismo conversou com a arqueira titular.
Quer receber nossa newsletter?
Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!
Nascida em 13 de agosto de 1994, no Rio de Janeiro, Letícia Izidoro Lima da Silva, a Lelê, planejava ser atacante quando começou a jogar bola. Mas, sem se destacar na linha, achou embaixo da trave o seu lugar. Apesar de no início não gostar da posição, hoje enxerga que não teria dado certo em outra área.
O início
Ao relembrar seus primeiros passos no futebol, Lelê falou da importância do suporte familiar em sua trajetória. “Meus pais sempre falaram que o que eu escolhesse para fazer na minha vida eles apoiariam e estariam do meu lado. Foi isso também que se tornou fácil para eu estar e chegar onde eu estou hoje”, compartilha.
A goleira conta que a sua maior dificuldade foi ter acesso ao futebol feminino: “E consegui entrar um pouco mais velha só”. A sua estreia no profissional foi em 2010 pela equipe catarinense Kindermann e logo em seguida defendeu o Vitória das Tabocas. Lelê também passou pelo Centro Olímpico e pelo São José.
Em 2016, a arqueira começou a defender o gol do Corinthians. “Quem veste e quem joga no Corinthians sabe a responsabilidade e com certeza o prazer de representar o bando de loucos”, afirma. No “Timão”, os números de Lelê são impressionantes: em 140 jogos são 107 vitórias, 22 empates e apenas 11 derrotas.
Seleção brasileira
Letícia atuou pelas categorias de base da Seleção passando pelas equipes sub-17 e sub-20 e fez parte do ciclo de testes de Pia desde a eliminação do Brasil na Olimpíada de 2020. A goleira, de 1,75 de altura, foi convocada para as Copas de 2015 e 2019, mas não foi titular. Pela Seleção, conquistou o Sul-Americano Sub-20, em 2014, e a Copa América, em 2018, pelo profissional.
Aos 29 anos, Lelê está em sua terceira Copa do Mundo no elenco principal. A número 12 conta que as expectativas são as melhores possíveis para esta Copa. “Se Deus quiser vai dar tudo certo e faremos uma grande Copa. Essa é com certeza um sonho, estamos vivendo esse momento de aproveitar as oportunidades”, resume. “Estar na posição de representar o seu país é o grande ápice de um atleta e que as emoções permeiam entre alegria, felicidade e realização”, completa.
Ser espelho
Questionada sobre ser inspiração para outras garotas negras, Lelê diz que é difícil ter noção do quanto exerce essa função, mas deixa o seu recado: “para as meninas novas que querem um dia chegar onde nós estamos hoje, continuem sendo fortes. Todas nós passamos por muitos momentos difíceis e hoje estamos aqui, nossos sonhos estão se realizando, as coisas estão melhorando”.