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Coronavírus: comunicadores de periferias e favelas se articulam para informar sobre pandemia

19 de março de 2020

Usando a hashtag #CoronaNasPeriferias, eles questionam que a maioria das providências estabelecidas pelo governo não se aplicam à realidade dos moradores

Texto / Redação | Edição / Simone Freire | Imagem / Reprodução

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Dezenas de comunicadoras e comunicadores das periferias e favelas de todo o país lançaram uma carta pública, nesta quinta-feira (19), em que reúnem esforços para informar seus territórios sobre ações relacionadas ao Covid-19, o coronavírus.

Usando a hashtag #CoronaNasPeriferias, eles questionam no documento que a maioria das providências estabelecidas pelos governos federal, estaduais e municipais para conter a disseminação do vírus não se aplicam à realidade dos moradores de territórios periféricos e favelas do país.

“O governo e várias organizações indicam o isolamento social como o principal meio de prevenção da doença. Isso não é permitido à nossa realidade! A periferia é a empregada doméstica, o porteiro, o motorista de app, o entregador, o trabalhador informal que precisa estar no busão e no metrô vendendo seus produtos para levar renda pra dentro de casa ou o comerciante local que não pode suspender suas atividades”, escrevem.

Confira a íntegra da carta e seus signatários:

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Estamos diante de uma pandemia. A palavra ainda soa estranha para muita gente e tudo que ela carrega por trás também.

Covid-19, o que todos conhecemos por coronavírus, chegou ao Brasil e seus efeitos são reais. Há infectados, há mortos.

Para conter maiores problemas os governos federal, estadual e municipal – muito timidamente ainda – têm divulgado e estabelecido uma série de ações às quais a população inteira do país precisa se submeter.

No entanto, mais uma vez, as favelas, periferias, guetos, quilombos, sertões e toda população à margem está à mercê da sua própria sorte.

Vamos começar pelo básico: lavar as mãos! Esta tem sido uma recomendação amplamente divulgada. Como é possível que isso seja realmente feito a fim de evitar a contaminação se a quebrada e a favela estão sem água?

O governo e várias organizações indicam o isolamento social como o principal meio de prevenção da doença. Isso não é permitido à nossa realidade!

A periferia é a empregada doméstica, o porteiro, o motorista de app, o entregador, o trabalhador informal que precisa estar no busão e no metrô vendendo seus produtos para levar renda pra dentro de casa ou o comerciante local que não pode suspender suas atividades.

O quanto nossos patrões estão dispostos a seguir os passos que a humanidade pede e permitir que cada um destes profissionais pratique o isolamento e mesmo assim pagar seus salários?

Ficar em casa, se isolar, não pode ser sinônimo de falta de renda. Se for assim, como garantir que a população periférica consiga comprar sequer um álcool em gel para ajudar na prevenção da contaminação? Se o governo vai ajudar os grandes empresários a não quebrar, vai ajudar ao favelado pagar suas contas também? Vai ajudar a senhora que vende guarda-chuva na esquina a não quebrar?

O foco agora é fazer o máximo de esforço para se conter a disseminação da doença. É tentar fazer com que o número de infectados possa ter atendimento hospitalar gradualmente e, ao mesmo tempo, evitar um colapso no Sistema Único de Saúde (SUS), tão negligenciado e abandonado pelo poder público, mas tão necessário e um marco no enfrentamento a tudo que ainda está por vir para conter o Covid-19, o coronavírus. 80% dos usuários do SUS são pretos e pretas.

Diante de tantas recomendações, a periferia – mesmo sendo a mais afetada -, ainda não está conseguindo participar e se informar como realmente precisa. Precisamos saber apontar caminhos que realmente levem as nossas realidades em consideração.

É aí que entramos. Nós, comunicadores periféricos e periféricas de várias partes do país, estamos juntando esforços para colaborar com informações precisas e que realmente consigam alcançar os nossos. Precisamos saber informar nossas crianças, nossos jovens, nossos idosos, nossos pais, mães e familiares. De nós para os nossos!

Assim, lançamos uma coalizão nacional de enfrentamento ao coronavírus através da frente #CoronaNasPeriferias

Assinam esta carta:
Priscilla Castro – Coletivo Nós por Nós (GO)
Marcelo Vinícius – Coletivo Duca (DF)
Tony Marlon I Campo Limpo, SP
Thiago Borges I Periferia em Movimento, Grajaú, SP
Mariana Belmont, Parelheiros, SP
Simone Freire -Alma Preta / Preto Império – Brasilândia (SP)
Dimas Reis – Preto Império – Brasilândia (SP)
Wallace Morais – Vozes das Periferias (SP)
Cesar Gouveia – Vozes das Periferias (SP)
Antonio Benvindo – Instituto Cultural Coletivo Semifusa/Ribeirão das Neves (MG)
Buba Aguiar – Coletivo Fala Akari (RJ)
Pedro Stilo – Coletivo pão e tinta / Jornalistas livres (PE)
Tainá Oliveira Barral – Na Cuia Produtora Cultural (PA)
Kalyne Lima – Vila Manoel Satiro – Jornalistas livres (CE)
Ingrid Farias – Brasília Teimosa – Escola Livre de Redução de Danos (PE)
Bruno Sousa – The Intercept Brasil – Favela do Jacarezinho (RJ)
Pedro Borges – Alma Preta (SP)
Raull Santiago – Coletivo Papo Reto (RJ)
Gizele Martins – Coletivo MARÉ 0800 (RJ)
José Cícero – DiCampana Foto Coletivo (SP)
Lucas Barbosa – Usina de Valores (RJ, SP, BA, PE)
Marcela Lisboa – Usina de Valores (RJ, SP, BA, PE)
Francisca Rodrigues – Agência Paraisópolis (SP)
Bruna Hercog – CBCOM e Rede ao Redor (BA)
Adriana Gerônimo – JBD Lagamar – Fortaleza (CE)
Rebeca Motta – Jornal Embarque no Direito – Jd. ngela ( SP)
Rosalvo Neto – Instituto Mídia Étnica / Correio Nagô (BA)
Wellington Frazão – Periferia em Foco – Belém do Pará (PA)
Gisele Alexandre – Agência Mural de Jornalismo das Periferias (SP)
Renato Silva – Favela em Pauta (RJ)
Alex Hercog – CBCom (BA)
Lucas Abreu Antonio – Jaçanã (SP)
Rick Trindade – Itabuna (BA)
Clara Bispo – Movimento Pela Paz na Periferia: Família MP3 – Teresina (PI)
Riviane Lucena – Embarque no Direito (SP)
Jéssica Moreira – Nós, mulheres da periferia (SP)
Jefferson Barbosa – PerifaConnection – Voz da Baixada (RJ)
Michel Silva – Fala Roça (RJ)
Daiene Mendes – Favela em Pauta (RJ)
Tiê Vasconcelos – Voz das Comunidades (RJ)
Biatriz Santos – Coletivo de Juventude Negra Cara Preta – Camaragibe (PE)
Rodrigo Gonçalves Benevenuto – Coletivo Salve Kebrada (SP)
Lola Ferreira – Magé, Baixada Fluminense (RJ)
Amanda Pinheiro – Fala Roça – Rocinha (Rj)
Eloi Leones – data_labe – Rio de Janeiro
Marcelo Rocha – São Paulo, na visão dos cria – Mauá (SP)
Mirian Fonseca- Lauro de Freitas –
CBCOM (BA)
Anderson Meneses – Agência Mural de Jornalismo das Periferias (SP)
Muller Silva – ONG Interferência (Capão Redondo – SP)
Mariana Assis- Voz das Comunidades (RJ)
Yane Mendes – Rede Tumulto – Recife (PE)
Natália Bezerra – Recife (PE)
Taís Sales de Moraes – Cine e Rock – Rio das Pedras (RJ)
Walter Oliveira da Silva – Coletivo Jovem Tapajônico – Caranazal, Santarém (PA)
Gabriel Santos – Movimento Afronte – Projeto Alternativo para Meninas e Meninos de Rua – Erê – Vila Brejal, Maceió (AL)
Jusciane Rocha – Belém (Pa)
Naldinho Lourenço – LABirinto Agência Maré (RJ)
Aline Rodrigues – Periferia em Movimento (SP)
Jessica Ipolito – Revista Afirmativa – Salvador (BA)
Anisio Borba – LABirinto Agência Maré (RJ)
Lívia Lima – Nós, mulheres da periferia (SP)
Enderson Araujo – Mídia Periférica (BA)
Juliana Pinho – LABirinto Agência Maré (RJ)
Andreza Delgado – Capão Redondo São Paulo
Wesley Teixeira – Morro do Sapo na Baixada Fluminense (RJ)

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