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Covid-19: comunidades quilombolas registram primeiros casos de coronavírus

14 de abril de 2020

Quilombos têm escassez de infraestrutura médica, com poucos postos de saúde e atendimentos reduzidos

Texto / Pedro Borges I Edição / Simone Freire I Imagem / Maria Anffe / GcomMT

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As comunidades quilombolas confirmaram os primeiros casos de Covid-19, o novo coronavírus, nesta terça-feira (14). Os dados, divulgados pela Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Rurais Quilombolas (Conaq), apontam casos nos estados da Bahia e do Rio de Janeiro.

Na Comunidade Mata do Milho, na cidade de Canarana (BA), uma jovem de 24 anos foi diagnosticada com o vírus. Ela esteve há pouco tempo em São Paulo, epicentro da pandemia no país, para o enterro de um familiar. Quando retornou ao quilombo, passou a sentir sintomas da doença e segue em tratamento e quarentena.

Na cidade de Armação dos Búzios, região dos lagos no RJ, no Quilombo Rasa (RJ), um homem de 26 anos foi diagnosticado com Covid-19. Apesar de não ser quilombola, ele morava na comunidade. Todos os que tiveram contato com ele estão em quarentena e houve uma visita de uma equipe de saúde para orientar a comunidade, segundo informações da Conaq.

As orientações para as comunidades quilombolas, dadas pela própria Conaq, é a de manutenção das práticas de higiene, com o cuidado na limpeza das mãos com água, sabão e, se possível, álcool em gel, além da manutenção do isolamento social evitando a circulação para as áreas urbanas e o toque pessoal, em especial com os sujeitos mais velhos. A organização também pede para a continuidade da suspensão dos rituais religiosos.

Em entrevista recente ao Alma Preta, as comunidades quilombolas relataram a escassez do acesso à saúde, fator que gera preocupação diante da pandemia. “Com o Covid-19, cadê o álcool em gel? Cadê as máscaras gratuitas? Se depender do governo, iremos morrer”, disse Manuel dos Santos, do quilombo Mumbaça, em Traipu (AL).

Na ocasição, a afirmação foi uma resposta ao posicionamento do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, no dia 18 de março, que, ao lado de outros ministros e do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), afirmou, em entrevista coletiva, que o Sistema Único de Saúde (SUS) estava presente em todo território nacional, inclusive nos quilombolas.

Para exemplificar a ausência do SUS em alguns territórios, Manuel dos Santos sinalizou que dos quatro quilombos certificados e reconhecidos no município de Traipu, em apenas dois existem postos de saúde e em apenas um há agente de saúde. A infraestrutura, disse ele, é inadequada para dar conta dos cuidados de todas as comunidades. “Pessoas já chegaram a morrer por falta de ambulância para socorrer”, recordou.

Governo

Questionado pela reportagem, o Ministério da Saúde não retornou sobre a existência dos casos nos territórios quilombolas. Já a Fundação Cultural Palmares, órgão responsável pela certificação do autorreconhecimento das comunidades quilombolas, também foi questionada sobre eventual suporte aos quilombos, mas não retorno até o fechamento desta reportagem.

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