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Covid-19: morre quase o dobro de negros do que de brancos no mesmo bairro em São Paulo

No Itaim Bibi, região nobre da capital, entre a população negra, 47,6% das mortes ocorreram pela Covid-19, enquanto na população branca foram 28%

Texto: Letícia Fialho | Edição: Nadine Nascimento | Imagem: Reprodução 

 

 

Desigualdade: Pessoas na estação de trem

21 de setembro de 2021

A pandemia que vitimou quase 600 mil pessoas no Brasil e ainda tira centenas de vidas por dia é ainda mais letal em bairros pobres de São Paulo do que nas regiões abastadas. Os dados são de um estudo realizado pela Rede Nossa SP, que ainda revelam que 47,6% dos óbitos entre a população negra em São Paulo foram ocasionados pela Covid-19. Esse número é de 28,1% entre a população branca. 

“A pandemia encontra um cenário prévio de vulnerabilidade e precariedade enfrentada pelas pessoas negras, que se relaciona com as condições de saúde, além de questões moradia em localidades distantes dos serviços de média e alta complexidade. Visto que essa população sofre mais barreiras institucionais para acessar os serviços de saúde”, afirma Emanuelle Góes, doutora em saúde pública pela Universidade Federal da Bahia e pesquisadora Cidacs/Fiocruz sobre desigualdades raciais e acesso a serviços de saúde.  

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Segundo a pesquisa, os negros foram os mais afetados até mesmo em bairros mais ricos da capital paulista. De acordo com o assessor de mobilização da Rede Nossa São Paulo, é preciso investigar o motivo da diferença racial no número de mortes, como, por exemplo, as condições de trabalho e que, além disso, devem ser criadas políticas públicas para a redução das desigualdades. 

“O que a gente tem é uma grande diferença da mortalidade por Covid-19, quando comparado no mesmo distrito a proporção de pessoas brancas e negras que morreram por Covid. Isso mostra que essa questão racial está impregnada na nossa questão social. Isso é um dado grave e deveria levar a ações que considerem a questão racial nas suas estratégias, seja na saúde, na educação”, afirma Igor Pantoja, assessor de mobilização da Rede Nossa São Paulo. 

Para Emanuelle Góes, mesmo fora de um contexto de vulnerabilidade social, a população negra é perpassada pelo racismo institucional: “Nesse ponto temos um incremento voltado para a atenção e para o cuidado que a população negra recebe no serviço de saúde. Esse racismo interfere em muita coisa e acaba por levar a um desfecho de morte e adoecimento”, relata a pesquisadora. 

Leia mais: Distritos mais negros de SP concentram maior número de contaminados por Covid-19 

Ranking dos bairros com maior desigualdade na pandemia em SP  

A maior diferença na proporção entre as vítimas da Covid-19 pelo demarcador racial está no Itaim Bibi, em que 47,6% da população preta e parda da região morreu por Covid-19, e 28,1% da população branca – mesmo o bairro sendo considerado de menor vulnerabilidade socioeconômica. Com isso, a região registrou 1,7 vez mais mortes de Covid-19 de negros do que de brancos. 

Seguido do Cambuci, no centro da capital paulista, que, enquanto 48,1% da população negra morreu de Covid-19, a população branca chegou a 29,1%. Em Pinheiros, na Zona Oeste, o índice que mostra a diferença de mortes entre as raças foi de 1,63. Enquanto 50% dos negros morreram com o novo coronavírus, apenas 30,7% dos brancos foram vítimas fatais. 

Entre os bairros da zona norte, a Vila Guilherme registra a maior diferença, de 1,27 vezes entre negros. Com a pesquisa realizada de janeiro a julho, às mortes por Covid-19 entre os negros foi de 50% e 39,3% entre os brancos. E na zona leste, o bairro do Carrão teve 46,2% das mortes de negros e 37,4% de brancos, representando uma diferença de 1,23 vez. 
 
Desigualdade 
 
A partir de março de 2020, com a chegada no vírus, que ocasionou a morte de uma empregada doméstica no Rio de Janeiro, os dados confirmaram que o novo coronavírus no Brasil mata em maior escala pessoas negras e pobres que estiveram na linha de frente, como trabalhadores de serviços essenciais e informais, além de pessoas idosas e com comorbidades. Outro fator que deve ser considerado é o acesso desigual ao sistema de saúde.
 

“O caso da trabalhadora doméstica não foi uma coincidência e, sim, uma realidade que reflete sobre o Brasil. Vivemos em um país racista e patriarcal, que continua reproduzindo e produzindo esses modelos colonizadores. Então, esse resultado vai dizer pra gente quem iria morrer e transmitir o vírus da Covid-19. Vimos desde o primeiro momento que a elite se contaminou, mas a população pobre, negra e de periferia foi a primeira a morrer. Isso revela que a desigualdade é profunda e aguda”, completa Emanuelle. 

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