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Cracolândia: Prefeitura fecha posto assistencial em meio à pandemia do coronavírus

8 de abril de 2020

Unidade era ponto de distribuição de água e comida na região da Luz, Centro de São Paulo; organizações divulgaram manifesto em repúdio

Texto / Juca Guimarães I Edição / Simone Freire I Imagem / Pedro Nogueira e Caio Castor

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A unidade de Atendimento Diário Emergencial (Atende 2), que acolhe a população da região conhecida como Cracolândia, próximo à estação de trem da Luz, no Centro de São Paulo (SP) foi fechada pela Prefeitura da cidade, nesta quarta-feira (8).

A unidade era um dos poucos espaços públicos de abrigo, distribuição de água e comida na região para pessoas em situação de rua. O aparelho de atendimento público também era um dos poucos locais em que esta parcela da população podia lavar as mãos, uma das recomendações mais importantes da Organização Mundial de Saúde (OMS) para evitar a expansão da pandemia do Covid-19, o novo coronavírus.

O fechamento aconteceu pela manhã e foi acompanhado pela polícia. A Prefeitura usou vans e ônibus para transferir parte das pessoas em situação de rua para uma outra unidade de atendimento, no bairro do Glicério, também no centro.

“É uma tentativa de dizimar o povo da Cracolândia. Eles desmontam um serviço essencial na região com a desculpa que o serviço foi para o Glicério. Mas isso quer dizer que vão atender só quem foi. E as outras pessoas? Como elas ficam em meio à pandemia e sem ter onde beber água ou lavar as mãos?”, questiona Raphael Escobar, do coletivo Craco Resiste.

Segundo Ricardo Carvalho, também do coletivo Craco Resiste, o espaço para onde as pessoas foram levadas é um risco de propagação do Covid-19. “São contêineres sem ventilação adequada e ficam quatro camas juntas”, diz.

Modelos

Na gestão do petista Fernando Haddad (2013 – 2017), no espaço do Atende 2, existia uma unidade da Tenda Braços Abertos, programa inaugurado em 2015. A iniciativa unia ações de assistência social, saúde, direitos humanos e trabalho.

Ao assumir a gestão da Prefeitura, em 2017, o então prefeito João Doria (PSDB) mudou o perfil do projeto e o rebatizou de Redenção, focando-o na assistência social. Essa linha foi seguida pelo seu sucessor, Bruno Covas (PSDB), atual prefeito.

Mobilização

Em repúdio ao fechamento do Atende 2, 74 entidades organizadas da sociedade civil publicaram um manifesto. “Retirar o local de referência para essa população somente irá expor ainda mais estas pessoas – que, em sua maioria, têm risco acrescido de ter complicações pela doença – aos diversos efeitos da pandemia”, diz trecho do documento, que teve mais de 130 assinaturas.

A Defensoria Pública do Estado de São Paulo entrou com uma ação civil pública contra o fechamento da Atende 2. À reportagem, sem responder os motivos do fechamento da unidade, a Secretaria de Assistência Social da Prefeitura informou que no Serviço Integrado de Acolhida Terapêutica (SIAT) 2, do Glicério, serão realizadas ações integradas com a Secretaria Municipal de Saúde e que “os usuários de álcool e drogas em situação de vulnerabilidade até então atendidos pela unidade do Atende 2, na Rua Helvétia terão atendimento prioritário no novo equipamento”.

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