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Desaparecido há quase 2 séculos, cemitério de escravizados pode ser resgatado em Salvador

Ministério Público baiano intermedia tratativas para viabilizar estudo que pode confirmar local de sepultamento de escravizados e vítimas da Revolta dos Malês
Reunião entre pesquisadores e representantes do Ministério Público da Bahia (MP-BA), na quarta-feira (29), onde se discutiu sobre a possibilidade da existência de um cemitério de escravizados desaparecidos há quase dois séculos em Salvador.

Reunião entre pesquisadores e representantes do Ministério Público da Bahia (MP-BA), na quarta-feira (29), onde se discutiu sobre a possibilidade da existência de um cemitério de escravizados desaparecidos há quase dois séculos em Salvador.

— Sérgio Figueiredo/MP-BA

30 de janeiro de 2025

O Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) promoveu nesta quarta-feira (29) uma reunião para intermediar a possibilidade de realização de uma pesquisa arqueológica na área que pode abrigar um cemitério de escravizados em Salvador. 

O encontro foi presidido pelo promotor de Justiça Alan Cedraz, coordenador do Núcleo de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural do MP-BA (Nudephac), e pelas promotoras Cristina Seixas Graça, Luiza Amoedo e Lívia Sant’Anna Vaz.

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A reunião contou com representantes da Santa Casa de Misericórdia, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e da pesquisadora Silvana Olivieri, doutoranda em Urbanismo da Universidade Federal da Bahia (UFBA). O objetivo foi discutir uma minuta de termo de cooperação que permitirá a realização do estudo arqueológico.

Estudo pode revelar cemitério de escravizados sob estacionamento

De acordo com pesquisas da doutoranda Silvana Olivieri, o cemitério histórico estaria localizado sob o estacionamento da Pupileira, no bairro de Nazaré, área pertencente à Santa Casa de Misericórdia da Bahia. Criado no século XVIII, o espaço funcionou por aproximadamente 150 anos e era administrado inicialmente pela Câmara Municipal e, posteriormente, pela Santa Casa.

O cemitério teria servido como local de sepultamento para pessoas escravizadas, além de pobres, indigentes, suicidas e encarcerados. Fechado em 1844, acabou desaparecendo da paisagem urbana de Salvador.

Memória da Revolta dos Malês pode ser resgatada

A importância da pesquisa arqueológica vai além da localização do cemitério. O estudo pode contribuir para a preservação do patrimônio histórico ao identificar vestígios de pessoas que participaram da Revolta dos Malês, ocorrida em 1835, além de outras revoltas pela liberdade dos escravizados no Brasil.

“Trata-se de um momento em que vamos resgatar a imagem e memória desse cemitério que recebeu restos mortais de muitas pessoas negras que não eram, naquela época, valorizadas, além da perspectiva dos restos mortais de pessoas que participaram da Revolta dos Malês e de outras revoltas pela liberdade dos escravos no Brasil”, destacou a promotora de Justiça Cristina Seixas.

A pesquisadora Silvana Olivieri reforçou o impacto social e político da descoberta.

“Esse achado tem o potencial de abalar as bases coloniais e racistas dessa cidade. Porque a gente sabe que essas práticas coloniais apagam memórias e vestígios de violências e assim se perpetuam. O cemitério trata desse direito à memória, direito à verdade e ao luto”,  concluiu a pesquisadora Silvana Olivieri.

O MP-BA aguarda a resposta da Santa Casa de Misericórdia sobre o termo de cooperação até 24 de fevereiro, para que a pesquisa arqueológica seja autorizada.

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  • Giovanne Ramos

    Jornalista multimídia formado pela UNESP. Atua com gestão e produção de conteúdos para redes sociais. Enxerga na comunicação um papel emancipatório quando exercida com responsabilidade, criticidade, paixão e representatividade.

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