Para que a formatura seja um momento inclusivo para pessoas negras que não têm o cabelo alisado, a empresa de cosméticos Vult lançou quatro versões de capelos, chapéus típicos de colação de grau, que permite a esse grupo o uso sem constrangimentos.
De acordo com o Centro de Ensino, Pesquisa e Extensão da Universidade de Brasília (UnB), em 17 anos houve um aumento de 400% de alunos negros nas universidades. Segundo dados de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), cerca de 4,1 milhões de estudantes são negros.
Quer receber nossa newsletter?
Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!
A adequação do capelo propõe o redesenho do acessório, com versões para atender e ressaltar a diversidade dos estilos, curvaturas e tipos de cabelo, e gerar uma experiência mais inclusiva durante a formatura.
Os formatos dos chapéus abrangem a maior parte dos cabelos comuns entre pessoas negras. Entre os modelos está um para quem usa dreads ou tranças. Ele tem estrutura rígida frontal e maleável através de um lenço para amarração; o segundo é para usar com longos coques, turbantes ou penteados altos, e tem uma abertura circular no topo; o terceiro atende a cabelos volumosos, crespos ou cacheados, e contém pentes para fixar; e o quarto encaixa em qualquer cabelo ou penteado, com uma estrutura passadeira na abertura para fixação.
A campanha é uma parceria com a Dendezeiro e com a marca baiana Agenero e faz parte de uma ação interna da empresa, que estima produzir 1 mil unidades para as formaturas previstas no segundo semestre das instituições Zumbi dos Palmares e Universidade Federal do Sul da Bahia, com a possibilidade de expandir para outras instituições brasileiras. Como parte desse legado, os designs dos novos capelos serão disponibilizados para todas as universidades que quiserem reproduzir os modelos.
Hisan Silva e Pedro Batalha, CEOs e diretores criativos da Dendezeiro, disseram, em comunicado à imprensa, que o desenvolvimento do capelo se deu como uma forma de acompanhar a realidade atual das universidades brasileiras que, cada vez mais, têm diversidade em tons de pele e texturas capilares.
“Entendemos que falar sobre a vitória de não apenas entrar, mas também de concluir um curso superior, precisa ter um diálogo múltiplo. Por isso, escolhemos modelos de capelos que permitissem diversas possibilidades de uso, para assim incluir cada vez mais pessoas”, comentam.
A Vult também vai lançar em breve uma nova linha de produtos, com mais de 50 itens que abrangem todos os tipos de cabelo.
Histórias reais
A iniciativa tem um mini-documentário, com a participação da Professora Dra. Joana Angélica, primeira reitora negra de uma universidade no Brasil, e de ex-universitárias que recriam suas fotos de formatura como deveriam ter acontecido — com capelos que atendem a diversidade dos cabelos das brasileiras.
Uma delas é Jacqueline Siqueira de Souza, de 36 anos, natural da periferia de São Paulo e formada em 2010. Na primeira colação de grau, ela usou gel para prender o cabelo e, na segunda, fez uma trança enraizada, mas não gostou das fotos da época, pois não pôde valorizar suas raízes negras como gostaria.
Ana Caroline dos Santos, de 30 anos, é filha de mãe solo diarista e tem três irmãs. Formada em Biomedicina em 2015, foi a primeira da família a concluir o Ensino Superior e hoje é embriologista responsável por um laboratório de reprodução humana.
Também como primeira graduada da família, Letícia Veríssimo de Freitas, de 26 anos, formada em Design de Moda, trabalha como produtora, vê sua conquista como uma grande vitória e acredita que muitas pessoas vivem os mesmos sonhos ligados à graduação.
Já Gabriela Abade de Melo Santos, de 17 anos, moradora de Vargem Grande Paulista (SP), fala quatro idiomas e faz da educação sua grande força para realizar sonhos. Prestes a se formar como Técnica em Administração, ela diz não saber como “o capelo vai caber em sua coroa”, e percebe no movimento uma possibilidade que ela gostaria de observar em todas as formaturas.