Um estudo realizado pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP), em parceria com o Itaú Viver Mais, apresenta propostas de enfrentamento às desigualdades raciais vivenciadas pelas pessoas idosas. Intitulado “Envelhecimento e Desigualdades Raciais”, a pesquisa reforça a importância da análise para o desenvolvimento de uma sociedade que envelheça com dignidade e equidade.
A pesquisa, baseada em três capitais brasileiras: São Paulo, Salvador e Porto Alegre, onde há altos índices de envelhecimento populacional e uma diversidade regional, revela que existe uma desigualdade considerável na experiência de envelhecimento quando se compara pessoas negras e brancas com mais de 50 anos de idade.
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A partir dessa análise, o material apresenta proposta de enfrentamentos às desigualdades raciais vividas pelas pessoas idosas, com foco em cinco indicadores temáticos: saúde, inclusão produtiva, segurança financeira, inclusão digital e resgate da memória.
O pilar do envelhecimento ativo: saúde
O estudo constatou que, nas três capitais investigadas, homens e mulheres negras apresentaram o pior desempenho no indicador de saúde. Nas três cidades, o acesso aos serviços privados de saúde por homens e mulheres brancos é maior.
De acordo com dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), a partir dos 15 anos de idade, as mortes dos homens negros representam, pelo menos, o dobro dos demais grupos. Isso significa que os homens brancos costumam viver mais quando comparados aos homens negros. Os homens negros também são os mais acometidos por transtornos mentais e comportamentais.
Entre os motivos apresentados estão as inúmeras exposições a situações de risco ao longo do ciclo de vida, entre elas a violência e ambientes de trabalho precários. Outro fator decisivo é a tendência dos homens em negligenciar a sua própria saúde, devido aos papéis de gênero culturalmente estabelecidos socialmente.
Como proposta, a pesquisa do Cebrap recomenda a estimulação de campanhas de sensibilização voltadas ao público masculino, iniciativas de “segurança alimentar” para todas as faixas etárias e a disseminação de práticas de saúde inspiradas na medicina afro-brasileira.
Segurança Financeira
Este indicador contempla as informações sobre rendimentos e gastos mensais, incluindo o sentimento de confiança com as finanças até o fim da vida. Essa temática está articulada à inclusão produtiva e à trajetória profissional.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) aponta que as principais fontes de renda para a população acima dos 65 anos são as aposentadorias e as pensões do INSS. Na população negra, 79% entre quem tem de 65 a 79 anos, e 88% daqueles com 80 anos ou mais recebem proventos dessas fontes.
Entre brancos, esses percentuais são ainda mais altos e atingem, respectivamente, 82% e 91% da população. Em São Paulo, as mulheres brancas acessam mais a aposentadoria quando comparadas às mulheres negras, com um diferencial entre 69% de acessos para mulheres negras e 86% para mulheres brancas na faixa de 60 anos a 69 anos.
Uma das proposições do material é a organização de debates sobre igualdade racial e envelhecimento nos equipamentos públicos, além da busca ativa para a inserção em programas sociais.
O material também aponta a perpetuação da desigualdade racial que acomete as pessoas idosas das grandes cidades, reproduzindo exclusão e vulnerabilidade social no envelhecimento.
Como proposta de enfrentamento, o estudo indica iniciativas que promovam a garantia, circulação e o resgate da memória de pessoas negras por meio de elaboração de ações e espaços culturais de promoção da ancestralidade negra e políticas públicas que estimulem as práticas de humanização dos serviços voltados aos idosos e proporcionem o resgate da memória histórica da cultura negra.
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