Um ex-funcionário da rede de hotéis Quality Suits Alphaville, em Barueri, região metropolitana de São Paulo, registrou um Boletim de Ocorrência (B.O) após sofrer ofensas em função de seu cabelo cacheado. De acordo com a denúncia, a síndica do condomínio anexado à rede hoteleira, Myrhtes Eduarda Marques, teria chamado o cabelo do profissional de “pelo de cachorro”.
Em entrevista à Alma Preta, Fernando Lancelot disse que não foi informado sobre políticas específicas em relação ao cabelo no momento da contratação. No entanto, a síndica depois exigiu que os funcionários passassem a prendê-los em “respeito aos clientes”.
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Durante uma reunião no café da empresa, a síndica teria se referido diretamente ao cabelo do funcionário. “Em janeiro deste ano, ela falou que meu cabelo parecia pelo de cachorro. Disse que estava ridículo e precisava ser cortado”, contou.
Segundo Fernando, essa não foi a única vez que a mulher se referiu ao seu cabelo. “Ano passado, ela perguntou ao gerente se ele tinha visto o meu cabelo, enquanto apontava para o meu volume e balançava a cabeça negativamente”, descreveu.
Jornada de trabalho exaustiva
O ex-funcionário também disse que possuía uma rotina exaustiva de serviço, tendo trabalhado por nove dias seguidos em uma ocasião. Mesmo contratado para atuar na parte de eventos da empresa no período de segunda à sexta, diversas vezes foi solicitado que ele trabalhasse aos finais de semana.
Em outro caso, Fernando teve a atenção chamada pela síndica por permitir que um funcionário negro utilizasse o elevador social. “Ela gritou comigo de graça porque um prestador de serviço negro tinha usado o elevador social. Eu estava almoçando e nem consegui terminar”, recordou.
De acordo com o advogado da vítima, Renato Sanches, apesar de o caso ter sido registrado como injúria, se trata de um caso de injúria racial. O jurista afirmou que no prosseguimento da queixa-crime a alteração será solicitada às autoridades.
“A pessoa que fez a contratação do senhor Fernando destacou a ele que não haveria necessidade alguma de modificação da sua vestimenta, da sua forma de se apresentar. Então não havia tido qualquer reprimenda. Depois que se iniciaram as atividades com essa supervisora, começaram alguns comentários inapropriados, comportamentos vexatórios e, inicialmente, condutas que estariam tangenciando práticas racistas”, explicou a defesa.
Outro lado
Procurada pela reportagem, a síndica acusada negou que teria demitido o funcionário em função de sua aparência e que teria o comparado com um animal. Junto ao gerente da unidade, Myrthes informou que prender o cabelo se tratava de uma sugestão, não de uma regra.
Em nota, o Atlantica Hospitality Internacional, grupo hoteleiro que administra a Quality Suits Alphaville, disse que repudia veemente “qualquer ato que contrarie sua visão e valores, como episódios de racismo, constrangimento, ou outra forma de discriminação”.
“Em relação à consulta recebida sobre uma denúncia de injúria supostamente ocorrida em suas dependências, é importante esclarecer que o hotel Quality Suítes Alphaville refuta qualquer envolvimento com tal episódio e se coloca à disposição para colaborar, caso notificado”, diz trecho do comunicado.